Disputa comercial China x EUA pode ampliar espaço e preços para soja do Brasil
A tensão que permeia as relações comerciais China e Estados Unidos deve exercer um impacto bastante severo sobre o mercado da soja, uma vez que são dois players gigantes e uma das commodities mais negociadas do mundo. Os participantes desse comércio têm se posicionado para buscar alternativas caso o fornecimento americano fique comprometido para os chineses.
"Esperamos que a China e os EUA não entrem em uma guerra comercial, mesmo que isso já esteja em linha com os interesses de ambos os países. Qualquer movimento neste sentido irá impactar em nossos negócios", disse Liu Yonghao, fundador do New Hope Group, uma das maiores companhias de alimentação animal da China.
Para o executivo, que foi o primeiro a se manifestar entre as grandes empresas do setor, é importante que as alternativas já estejam bem definidas no caso de um estabelecimento dessa guerra comercial. "Temos que criar porcos, e as pessoas, comer carne de porco. E vamos continuar produzindo como de costume. O mercado é enorme, existem outras alternativas", diz.
Atualmente, em posse do maior plantel de suínos do globo, as operações para a produção de ração para os porcos são as que mais demandam farelo de soja.
O alerta da American Soybean Association faz um alerta semelhante e também já espera prejuízos caso a situação se agrave.
Assim, segundo acreditam analistas, o Brasil deverá se consolidar como um fornecedor ainda mais expressivo de soja para os chineses nesse quadro. Das 95,5 milhões de toneladas importadas pela nação asiática no ano passado, mais da metade desse volume foi de produto brasileiro.
Para Camilo Motter, economista e analista de mercado da Granoeste Corretora de Cereais, os dois primeiros impactos sentidos pelo mercado global de soja caso essa taxação sobre a soja importada dos EUA venha a ocorrer são uma maior disponibilidade da commodity nos EUA e, consequentemente, uma baixa dos preços na Bolsa de Chicago e, paralelamente, uma alta dos prêmios no Brasil.
"Você teria o Brasil mais competitivo, com o produto daqui sendo ainda mais procurado", diz.
No entanto, Motter explica que é preciso estar atento à vida útil dessa influência sobre as cotações, uma vez que esse maior volume de soja americana estando disponível poderia chegar a níveis de preços mais atrativos do que a sul-americana, que contaria com esses prêmios mais altos, mesmo que momentâneamente.
"Isso vai até chegar a um ponto de equilíbrio, e esse ponto é o momento em que se chega à seguinte equação: produto americano - Chicago + prêmios + tarifa de importação chinesa sendo mais barato - do que a junção e no Brasil, Chicago + prêmio. Esse movimento no mercado vai tentar buscar um novo equilíbrio para o produto americano", supõe o analista.
Primeiros impactos
Os números dos embarques norte-americanos trazidos pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) nesta segunda-feira mostraram um total, na semana encerrada em 1º de março, de 990,113 mil toneladas de soja, enquanto os traders esperavam algo entre 600 mil e 980 mil toneladas. O volume é maior do que o registrado na semana anterior. No acumulado do ano comercial, os embarques da oleaginosa já chegam a 38.770,417 milhões de toneladas, contra mais de 44,3 milhões do ano passado, nesse mesmo período.
Embora melhores, a China adquiriu, do total, 260 mil toneladas, ou quase um quarto do volume todo. Entretanto, é comum que, neste período do ano comercial, os chineses respondam por cerca de 60% do total da semana, como explica o analista internacional Bryce Knorr, do portal Farm Futures.
Com informações da Bloomberg, da Reuters e do portal Farm Futures