Continuidade das chuvas pode agravar queda de vagens na soja
As condições climáticas têm que começar a mudar em regiões onde o abortamento de vagens está castigando lavouras de soja para que o problema possa ser, pelo menos, atenuado. A afirmação é de Antônio Paulino da Costa Netto, professor de fisiologia vegetal da UFG (Universidade Federal de Goiás). Afinal, o excesso de água no solo, combinado a outros fatores, tem sido principal combustível para a ocorrência desse fenômeno em algumas regiões do Brasil.
A situação mais grave tem sido registrada no Paraná e a continuidade das chuvas em excesso poderia agravar o cenário. Embora as perdas já sejam consolidadas em quase todos os casos, as lavouras que foram semeadas mais tarde poderiam ter o quadro ao menos minimizado, ainda segundo explica o especialista. "Se o tempo abrir e o solo secar um pouco, essas raízes voltam a respirar de forma aeróbica e trazer alguma capacidade de recuperação. O importante é a planta conseguir manter suas vagens do terço médio da planta, que é onde se produz 50% do peso total das sementes", diz Paulino.
No entanto, ele lembra ainda que, mesmo que isso aconteça, há ainda a possibilidade de que os grãos apresentados tenham menor qualidade, como menos peso e coloração mais esverdeada. Isso poderia acontecer com a água - após os problemas já sofridos - parando de chegar às vagens e aos grãos antes do tempo ideal para que haja um bom enchimento.
"O que estamos vendo hoje é uma combinação de fatores, de problemas que ocorreram desde o estabelecimento das plantas até a época do plantio", completa. E o importante agora são os sinais e alertas que ficam para as próximas safras, entre eles, a conservação dos solos.
Imagens mostram as perdas causadas pela queda de vagens no Paraná
"Os produtores brasileiros precisam se lembrar de que essa é a base", alerta o professor. Há a necessidade de acompanhar ainda, diariamente, a correção desses solos com técnicas mais precisas - como a do plantio direto e a de rotação de culturas - já que é ali que todo o trabalho começa.
"Com os dias muito nublados e temperaturas mais baixas há uma menor taxa fotossintética", explica o professor, justificando essa menor energia que a planta tem para concluir seus processos. "Em locais onde houve muita chuva na época do plantio, as plantas já estavam estressadas e agora sentem ainda mais", diz.
O excesso de água no solo acabou por prejudicar o sistema radicular das plantas, que estão respirando de forma anaeróbica, reduzindo a capacidade de produção de carboidrato para que houvesse uma boa formação de vagens e enchimento de grãos e, consequentemente, resultando em uma menor capacidade produtiva desses pés de soja.
A queda das vagens é como uma forma de proteção das plantas e ocorreu mesmo depois de uma excelente fase de florescimento nessas regiões. Há locais em que esse problema foi registrado em algo entre 60% e 70% da região produtiva.
Em Doutor Camargo, no norte paranaense, já há perdas efetivadas em função da queda de vagens, segundo relata o produtor local Ildefonso Ausec, em entrevista ao Notícias Agrícolas nesta terça-feira (23). As chuvas, porém, continuam na região.
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