Rejeição de consumidor da China a transgênicos começa a afetar indústria de soja
PEQUIM (Reuters) - A rejeição de consumidores chineses a grãos geneticamente modificados começa a reduzir a demanda por óleo de soja, o principal óleo usado nas cozinhas do país, e pode espalhar uma crise na indústria multibilionária de esmagamento, que depende de soja transgênica dos EUA, do Brasil e de outros países produtores.
As vendas de óleo de soja representam 36 por cento dos óleos de cozinha na China, mais de três vezes o consumo do segundo tipo de óleo neste ranking. O óleo de soja é fabricado quase que inteiramente de soja importada, que é transgênica em sua maior parte.
O governo chinês diz que alimentos transgênicos são tão seguros quanto os convencionais, mas consumidores urbanos de maior poder aquisitivo estão substituindo o óleo de soja por óleo de girassol, amendoim ou gergelim, todos livres de materiais geneticamente modificados.
Uma pesquisa da Nielsen mostrou no ano passado que cerca de 70 por cento dos consumidores da China limitaram ou evitaram pelo menos algumas comidas ou ingredientes, ante uma média global de 64 por cento, com 57 por cento deles afirmando que transgênicos são indesejáveis.
"Todo mundo diz que óleo de soja é transgênico", disse o senhor Liu, 70 anos, morador de Pequim, enquanto fazia compras com sua esposa no Walmart. "É melhor não comer muito. Aparentemente eles não são seguros. É como aqueles hormônios. Tenho tanto medo de comer transgênicos como tenho de hormônios."
Este tipo de sentimento já afeta as vendas do setor.
As vendas de óleo de soja em supermercados caíram 1 por cento no ano passado, para 35,7 bilhões de iuanes (5,19 bilhões de dólares), segundo dados do Euromonitor, ante um crescimento entre 2 e 6 por cento entre os óleos alternativos.
"O óleo não transgênico está gradualmente substituindo (o óleo de soja", disse o diretor de fornecimento da empresa de food services Aramark Johnny An, que fornece refeições em bancos, escritórios públicos e escolas em mais de 60 cidades chinesas.
Alguns anos atrás, 10 a 20 por cento dos clientes da Aramark pediam óleo livre transgênicos. Agora, são mais da metade.
Este movimento de mercado já causa preocupação para indústrias esmagadoras, disse Paul Burke, diretor para a Ásia no Conselho de Exportadores de Soja dos EUA.
Segundo ele, muitas empresas acabam obrigadas a buscar novos mercados para seu óleo de soja, embora ainda não haja um impacto relevante nas importações do grão, já que a demanda por farelo de soja, usado na ração animal e principal derivado da soja, continua robusta à medida que a China amplia sua indústria de carnes.
(Por Dominique Patton)