Soja: Após despencada do dólar, preços nos portos do Brasil recuam mais de 1% nesta 4ª feira

Publicado em 15/03/2017 17:12

O Federal Reserve incendiou o mercado financeiro na tarde desta quarta-feira (15) com o anúncio de uma nova alta na taxa de juros de 0,25 ponto, porém, sinalizou que, ao longo do ano, somente mais duas novas correções podem vir a acontecer. A reação imediata foi sentida no dólar, que recuou de forma generalizada ao sentir que as perspectivas de um número maior de reajustes não deve se confirmar. 

"O Fed manteve a perspectiva de altas graduais dos juros e isso fez com que o dólar queimasse a gordura que acumulou na expectativa de que poderia haver sinalização de mais altas", afirmou o diretor de câmbio do banco Paulista, Tarcísio Rodrigues em entrevista à agência de notícias Reuters.

Por volta das 16h30 (horário de Brasília), a moeda americana cedia 1,83% frente ao real para chegar aos R$ 3,111. Já o dollar index, frente a uma cesta de importantes moedas mundo a fora, também ampliava sua baixa para 0,98% na tarde desta quarta, para chegar aos 100,63 pontos. 

Após o anúncio do banco central norte-americano e das falas de sua presidente, Janet Yellen, o mercado internacional de grãos teve pouco mais de 20 minutos para repercutir as informações e parece não o ter feito. Os futuros da soja negociados na Bolsa de Chicago, afinal, fecharam o dia na estabilidade, com pequenas baixas de pouco mais de 1 ponto, e com o maio/17, novamente, abaixo dos US$ 10,00, sendo cotado a US$ 9,98. 

Dessa forma, a atenção agora, após essa reação do dólar, é no comportamento dos fundos com suas posições no mercado da soja a partir deste momento. Sempre tão ágeis, os movimentos da commodity - ao contrário de outras, como o petróleo, que subiu mais de 2%, ou das metálicas, com ganhos superiores a 1% - parecem não ter ainda refletido esse comportamento neste pregão e a movimentação técnica continuou, como explica a analista de mercado Andrea Cordeiro, da Labhoro Corretora. "Na sessão eletrônica, já na abertura dos trabalhos noturnos, o mercado pode retratar essa leitura do dólar", complementa.  

Preços no Brasil

No Brasil, apesar da despencada do dólar, os preços da soja fecharam a quarta-feira praticamente estáveis na maior parte das principais praças de comercialização pesquisadas pelo Notícias Agrícolas. Em Castro/PR, leve alta de 0,87% para R$ 69,30 por saca; e boa recuperação em Sorriso/MT, de 1,82%, para R$ 56,00. Em Jataí/GO, ganho de 0,51% para R$ 59,00. 

Nos portos, porém, os indicativos cederam. No terminal de Rio Grande, R$ 70,50 por saca no disponível, perdendo 1,40% e, no futuro, queda de 2,05% para R$ 71,50. Em Paranaguá, baixa nas duas referências de 0,70% para R$ 70,50 como último preço desta quarta. 

A pressão do dólar sobre os preços nos portos foi inevitável. Além disso, a preocupação com um câmbio mais baixo aumenta já que diminui a competitividade do produto brasileiro e pode puxar um pouco mais da demanda - que começa a se voltar com mais expressão para a América do Sul - para os EUA. 

"(A baixa do dólar) torna o produto brasileiro - que é a bola da vez - menos competitivo e compradores podem estender um pouco mais a presença nos EUA, reduzindo estoques por lá e promovendo uma reação dos preços em Chicago. Precisamos acompanhar de perto, mas eu acho que hoje houve um over reacting", explica Camilo Motter, economista e analista de mercado da Granoeste Corretora de Cereais. 

Demanda americana

Outro dado que chegou ao mercado futuro norte-americano nesta quarta-feira foi o de esmagamento de soja nos EUA, pelo boletim mensal da Nopa (Associação Nacional dos Processadores de Oleaginosas). Em fevereiro, foram processadas 3,89 milhões de toneladas, contra 4,37 milhões de janeiro.  O total ficou ainda abaixo da estimativa média do mercado, de 3,98 milhões.

Para analistas internacionais, o reporte foi negativo não só para a soja em grão, mas também para o óleo e acabou limitando um movimento de recuperação observado mais cedo em Chicago. "O número que veio abaixo das expectativas é negativo porque, para alcançar o total de esmagamento esperado pelo USDA, os níveis mensais ainda têm que ficar acima dos do ano passado", explica Darrell Holaday, da corretora Country Futures ao portal Agrimoney. 

Fundamentos

Enquanto isso, os já muito conhecidos fundamentos continuam pesando sobre os preços ou, pelo menos, limitando seus movimentos de alta mais expressivos. Na contramão, a demanda e os níveis mais baixos de preços - que puxam os compradores - são o contra-peso da balança e ajudam a trazer algum equilibrio para o caminhar dos preços. 

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Por: Carla Mendes
Fonte: Notícias Agrícolas

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