Argentina: cenário é de incertezas, mas rendimento pode compensar perdas na soja

Publicado em 28/01/2017 09:02
Resultado do Crop Tour do Notícias Agrícolas/Labhoro/Big Safra... nas lavouras argentinas foi possível notar que a maior marca da safra 2016/17 foi a irregularidade.

Muitas são as previsões, mas a safra de soja da Argentina ainda é uma incerteza que mexe com o mercado, preocupa produtores e divide opiniões. Só a partir de dois boletins divulgados na mesma data, 26 de janeiro, já é possível perceber a diferença: enquanto a Bolsa de Cereais de Buenos Aires (BCBA) estima uma safra de 53,5 milhões de toneladas de soja, a Bolsa de Comércio de Rosário (BCR) já é mais baixista, com 52,9 milhões de toneladas.

Região entre Villa Maria e General Pico, em Córdoba. Lavouras com bom potencial produtivo e algumas áreas isoladas alagadas

A situação na qual se encontra o nosso país vizinho é marcada por um cenário de inundações que atingiram a sua Zona Núcleo, principal área produtora e também por uma seca que permanece, principalmente, no sudeste de Buenos Aires, chegando até mesmo a ocasionar alguns incêndios rurais que trouxeram perdas de área.

Nesta semana, o Notícias Agrícolas percorreu algumas regiões produtivas do país juntamente do a Labhoro Corretora e a Big Safra. Neste Crop Tour, foi possível notar que a maior marca da safra 2016/17 foi a irregularidade.

Perda compensada pela produtividade

A situação, no entanto, pode ser alentadora. Ao final da Crop Tour, os participantes puderam constatar que os produtores argentinos estão capitalizados e tranquilos. Com uma alta tecnologia utilizada durante a safra, as perdas de área, que podem chegar a 1 milhão de hectares, podem ser compensadas pela alta produtividade que os produtores terão neste ano. A estimativa é de uma produção em torno de 67 sacas por hectare, ou 4000kg por hectare.

Em entrevista ao La Nación, o consultor Julio Lieutier, que trabalha em campos do norte de Buenos Aires, apontou que os produtores que se encontram em pior situação são os pequenos produtores, com 100% de suas terras inundadas.

No outro extremo, há quem tenha de 10% a 20% da sua superfície afetada, com algumas partes perdidas. "Em alguns casos, o deterioramento dos cultivos de plantio precoce é baixo e pode chegar a ser compensado com um rendimento superior na zona não afetada. Porém, todos os cultivos de segunda etapa de plantio e os plantios tardios são os que sofrem as maiores perdas", diz o técnico.

As perdas em Santa Fe

A província de Santa Fe, por sua vez, é a que mais apresenta dificuldades. De acordo com o informe semanal da Bolsa de Comércio de Santa Fe, o plantio de soja de segunda etapa está paralisado por conta das chuvas registradas durante as últimas semanas. Os excessos hídricos, a impossibilidade de acessar os lotes e a intransitabilidade dos caminhos impedem a realização dos trabalhos agrícolas.

Imagens de Santa Fe feitas durante o Crop Tour

A presença de pragas e enfermidades em aumento, áreas alagadas, mortalidade de plantas e problemas no crescimento e desenvolvimento gerou uma situação muito complexa para os cultivares, o que gera um futuro muito incerto e uma alta porcentagem de impacto em distintos graus em aproximadamente 45% da superfície já plantada. Para a soja de primeira etapa de plantio, 35% da superfície está afetada.

No Crop Tour, foi possível constatar que no trecho entre Rafaela e San Luís, de 160km, cerca de 40km lineares eram de áreas totalmente alagadas e perdidas. No contexto regional, a perda representa 3%, mas nessa região, a área alagada pode alcançar até 80 mil hectares.

Perspectivas Climáticas

Na última terça-feira (24), o diretor do Instituto de Clima e Água do Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (INTA) da Argentina, Carlos Di Bella, divulgou a previsão de curto a médio prazo para o padrão de chuvas no país a partir do dia 31 de janeiro até o dia 07 de fevereiro.

De acordo com os mapas apresentados, as províncias de Santa Fe, Córdoba e as regiões nordeste, leste, e partes do norte, do sudeste e do sul da província de Buenos Aires deverão receber chuvas superiores ou levemente superiores ao normal. Os maiores volumes de precipitações estão previstos para Córdoba, que deve receber 250mm em uma pequena área ao noroeste. Estas áreas, que sofreram com inundações, neste momento contam com uma melhora do clima, porém, com temperaturas que podem alcançar os 40°C.

Por sua vez, as outras áreas com padrão superior ou levemente superior ao normal devem receber chuvas de 60mm a 175mm. Entre Ríos, outra província que também foi afetada pelas inundações - porém, de forma menos expressiva - também recebe chuvas neste padrão apenas em algumas partes. La Pampa, por sua vez, província que sofreu com a seca, recebe o padrão em grande parte do território, porém, com volumes entre 25mm a 60mm.

Estimativas de Safra

Além das estimativas da BCR e da BCBA, outras estimativas foram divulgadas para a safra da Argentina. Enquanto o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) mantém a safra em 57 milhões de toneladas e o Ministério da Agroindústria da Argentina trabalha de forma cautelosa, mantendo 56 milhões de toneladas até que as perdas possam ser avaliadas corretamente, o consultor Dr. Michael Cordonnier, especializado na safra da América Latina, aponta um número entre 48 e 53 milhões de toneladas, com média de 51 milhões de toneladas. Já o consultor Pablo Adreani, da AgriPAC, estima uma safra de 50 milhões de toneladas. A Federação Argentina de Contratistas de Máquinas Agrícolas (Facma) definiu sua estimativa em 52 milhões de toneladas.

Ou seja, ainda é cedo para saber quais serão os números exatos dessa safra.

Perdas também se estendem para os lácteos

Algumas áreas, como o sudeste de Córdoba e Santa Fe, também fazem parte da zona leiteira Argentina. Com isso, a indústria láctea do país recebe até 40% a menos de leite. Fora da área crítica, a baixa é de 10% a 15%. Neste marco, a produção de lácteos cai, em média, 20% e a perspectiva é de novos aumentos de preços - até 20% - e um recorte dos excedentes exportáveis.

A "Ramolac", empresa instalada em Ramona (Santa Fe), registra uma baixa de 30% na recepção de leite. Raúl Peiretti, responsável pela produção primária, explicou que passaram de processar 240.000 litros diários para 180.000. "É impossível entrar nos campos. Alguns tiram o leite com tratores e tanques, mas, quando podem, retiram as vacas".

Ainda não é possível determinar os efeitos reais sobre toda a cadeia de inundações. Os problemas de coleta de leite continuam, pois a falta de infraestrutura para os produtores é grave, como apontou o jornal La Nación.

Por: Izadora Pimenta
Fonte: Notícias Agrícolas

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