Indústrias de soja do Brasil querem exportar 5 mi t de farelo de soja por ano para China

Publicado em 14/12/2016 16:05

Por Gustavo Bonato

SÃO PAULO (Reuters) - Preocupadas com uma crescente produção doméstica de farelo de soja, indústrias e tradings que atuam no Brasil colocaram no topo de suas prioridades uma meta ousada: conseguir acesso ao mercado da China, que atualmente produz localmente todo o farelo que consome, e exportar 5 milhões de toneladas por ano para o país asiático.

Executivos da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) disseram nesta quarta-feira que estão em diálogo com o governo brasileiro para uma frente de negociações com autoridades chinesas para liberação de uma cota desejada de 5 milhões de toneladas de farelo de soja em vendas para o gigante asiático.

Muito mais do que uma questão comercial, a produção de farelo de soja é uma política de governo chinês, que prefere importar a soja em grãos e realizar o processamento nas indústrias locais.

A China importa mais de 80 milhões de toneladas de soja em grãos por ano, metade do Brasil, seu principal fornecedor. [nEAP222536]

A China também é o maior consumidor global de farelo de soja (66,6 milhões de toneladas por ano), mas toda a demanda é abastecida por indústrias locais, na prática tornando as importações inexistentes.

"Temos oportunidades de entrar lá (no mercado da China). A gente almeja 5 milhões de toneladas de farelo de soja por ano. Queremos jogar isso na mesa de negociação", disse o presidente da Abiove, Carlo Lovatelli, em encontro com jornalistas.

Ele acrescentou que também há necessidade de negociação e abertura de mercado em outros países asiáticos como Coreia do Sul, Vietnã, Tailândia e Mianmar.

O escoamento da produção brasileira de farelo de soja vem ganhando caráter prioritário para as indústrias à medida que o país eleva sua produção, com um crescimento apenas vegetativo nos volumes consumidos. Granjas de aves e suínos e confinadores de bovinos são os principais consumidores de farelo, importante componente da ração animal.

Em março de 2017 haverá aumento da mistura obrigatória de biodiesel no Brasil, para 8 por cento (o chamado B8) ante o atual nível de 7 por cento. Em 2018 a mistura passa para 9 por cento e em 2019 para 10 por cento.

A Abiove estima que para cada ponto percentual no aumento da mistura há um incremento de 400 mil toneladas na produção anual de óleo de soja, que tem como subproduto cerca de 2 milhões de toneladas de farelo. O desafio das empresas é encontrar compradores para esse enorme volume adicional, que dificilmente será absorvido pelas granjas brasileiras.

A Abiove estimou nesta quarta-feira que a produção de farelo de soja do Brasil deverá crescer para um recorde de 31,1 milhões de toneladas em 2017, avanço de 1,4 milhão de toneladas ante 2016, puxada basicamente pela maior fabricação de biodiesel.

Enquanto o consumo doméstico deverá crescer apenas em 400 mil toneladas no próximo ano, para 15,7 milhões, as exportações foram estimadas em 15,5 milhões, um crescimento de 1,2 milhão de toneladas na comparação com 2016.

As exportações de 2017 ainda deverão crescer com aumento das compras de diversos clientes do Brasil, incluindo a Europa, maior comprador, embora a Abiove ressalte a necessidade urgente da abertura de novos mercados para o médio prazo.

As negociações com a China precisam do apoio do governo brasileiro, segundo a Abiove, porque o poder de barganha com a China viria da contrapartida de melhor acesso dos produtos chineses ao Brasil em outros setores (que não o complexo soja).

"É preciso apresentar contrapartidas em outros setores. É uma negociação entre governos", disse Lovatelli, sem dar detalhes.

Segundo ele, não há um cronograma para uma eventual abertura do mercado chinês para o farelo brasileiro. Ele destacou que o atual governo federal, que já enviou grandes comitivas para a Ásia em negociações comerciais, tem apresentado abertura para sugestões do setor empresarial como esta e que "é preciso aproveitar essa boa vontade".

A Abiove representa todas as grandes tradings e esmagadoras de soja do Brasil, como ADM, Bunge, Cargill, Louis Dreyfus, Amaggi e Cofco Agri.

Fonte: Reuters

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