Soja volta a recuar no Brasil com estabilidade em Chicago e baixa de mais de 1% do dólar

Publicado em 01/03/2016 17:52

Com o dólar perdendo mais de 1% na sessão desta terça-feira (1), os preços da soja no Brasil registraram um novo dia de baixas, nos portos e no interior do país. Nos principais terminais, as perdas passaram de 2%, enquanto a moeda norte-americana recuou 1,55% e terminou o dia com R$ 3,9411, após duas altas consecutivas. 

Apesar de mais uma queda generalizada entre as commodities - com exceção do petróleo, o mercado financeiro global registrou um dia mais amenos, sem tanto mau humor com notícias vindas, principalmente da China. 

"O otimismo com a China continua ajudando moedas emergentes hoje, mesmo depois de alguns dados fracos", disse o operador da corretora Correparti Ricardo Gomes da Silva à agência Reuters.

Assim, a soja disponível, no porto de Paranaguá, encerrou o dia caindo 3,21% para R$ 75,50 por saca e, no de Rio Grande, a baixa foi de 2,53% para R$ 77,00. Já a soja com entrega prevista para maio no terminal paranaense cedeu 2,58%, fechando dcom R$ 75,50, e perdeu 2,38% no gaúcho, com R$ 78,00 por saca e entrega junho. 

No interior, as praças que mais sofreram foram, as do Paraná, com Ubiratã e Londrina perdendo 1,48% para R$ 66,50, já Ponta Grossa teve estabilidade nos R$ 70,00 por saca. Em São Gabriel do Oeste, MS, a baixa foi de 3,17% para R$ 61,00. 

Na outra ponta, os preços recuperaram boa parte das perdas nas praças de Mato Grosso nesta terça. Tangará da Serra viu o preço subir 4,24% para R$ 61,50, Campo Novo do Parecis 4,27% para R$ 61,00 e Sorriso 3,33% para R$ 62,00. 

Além da pressão vinda do câmbio, há ainda os fatores sazonais que pesam sobre as cotações, principalmente a evolução da colheita, que já passa de 30% da área cultivada com a oleaginosa, bem como a falta de movimentação do mercado internacional. Nesta terça, o fechamento também foi negativo na Bolsa de Chicago. 

No entanto, começam a chamar a atenção alguns problemas climáticos em determinadas regiões produtoras, como é o caso da área conhecida como Matopiba. E uma das situações mais graves tem se dado no Oeste da Bahia, onde cerca de três milhões de hectares plantados com soja estão sob forte risco. As elevadas temperaturas e a falta de chuvas - que acontece há mais de 20 dias em algumas localidades - vem matando as plantas e reduzindo a produção local. 

No Piauí, na região de Uruçuí, as plantas adiantaram em um mês seu ciclo de desenvolvimento e as perdas em alguns pontos podem chegar a 60%. No Tocantins, região de Guaraí - onde já foi decretado estado de calamidade, a produtividade pode ficar abaixo das 15 sacas por hectare. 

Veja mais:

>> Soja: Sem chuvas há 40 dias, prejuízos podem superar os 70% em Guaraí (TO)

>> Em Uruçuí (PI), lavouras de soja morrem com tempo seco e perdas podem ficar acima dos 60%

>> Soja do tarde é a que mais sofre com o calor intenso no Matopiba

No Sul do Brasil, por outro lado, as perdas vêm sendo ocasionados pelo excesso de chuvas, na contramão do que acontece no Norte e Nordeste do país. Em áreas como Astorga, no Paraná, a soja já está brotando nas lavouras e perdendo qualidade por conta desse quadro climático. 

Exportações de Fevereiro

Apesar dessa situação de incerteza sobre o real tamanho da safra 2015/16 e também da direção do dólar frente ao real neste momento, as exportações brasileiras de soja em grão foram bastante significativas e somaram 2.036,8 milhões de toneladas. O volume subiu 443,6% em relação ao mês anterior, quando foram vendidas 394,4 mil toneladas. 

O preço médio da tonelada de soja do Brasil, porém, caiu 6,2% no mesmo intervalo de tempo, e foi de US$ 351,20. Já em relação a feveiro do ano passado, a diferença é ainda maior - de 11,9% -, uma vez que o preço, naquela época, foi de US$ 398,50 por tonelada. 

Em Chicago, mercado segue caminhando de lado

Em Chicago, nesta terça-feira, os futuros da oleaginosa chegaram a testar uma recuperação no início do dia, subiram mais de 5 pontos, porém, voltaram a perder força e fecharam com baixas de 2,25 a 3,75 pontos nas posições mais negociadas. 

"Esse ainda é um mercado baixista bem abastecido já que ainda não há notícias positivas. Além disso, as exportações (reportadas nesta segunda-feira no boletim semanal de embarques do USDA) desapontaram o mercado e um dólar segue forte, afetando as mesmas negativamente", explica Jason Roose, analista de grãos da U.S. Commodities. 

Essa movimentação, portanto, continua confirmando um comportamento técnico dos futuros da oleaginosa, justificado, em boa parte, pela relação cada vez mais estreita com o cenário financeiro mundial. A aversão ao risco ainda é elevada - apesar da chegada de algumas notícias positivas, porém, pontuais - e afastam os fundos de investimento, mantendo os preços ainda travados e com baixa volatilidade, distantes de ativos mais arriscados como as commodities agrícolas.

Entretanto, duas notícias reportadas nesta terça-feira, ainda de acordo com analistas internacionais, teriam limitado as baixas registradas pela soja em Chicago. 

A primeira delas é, depois de muitas semanas, o anúncio de vendas de soja em grão feito pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) hoje. Foram 140 mil toneladas de soja da safra 2015/16 para destinos não revelados. 

A outra refere-se à logística brasileira e as dificuldades enfrentadas pelos produtores nacionais por conta do excesso de chuvas em algumas regiões. Em função de dias consecutivos de precipitações, o transporte da soja da nova safra está mais lento do interior do país aos portos, o que poderia atrasar o embarque dos navios. 

E as chuvas, além de prejudicarem o transporte, já provocam a paralisação dos trabalhos de colheita em algumas áreas. "Chuvas que podem ser registradas nas regiões Central e Noroeste do Brasil nesta semana podem manter lento o ritmo dos trabalhos de campo", afirma o agrometeorologista sênior do MDA Information Services, Donald Keeney, em entrevista ao Agriculture.com. 

Como explica Marco Antônio dos Santos, agrometeorologista da Somar Meteorologia, para a próxima semana também há momentos de atenção, principalmente com a chegada de uma nova frente fria. 

"Uma nova frente fria deverá atingir o Rio Grande do Sul entre a quinta e sexta-feira e provocar chuvas generalizadas sobre o Estado. E aos poucos esse sistema avançará, onde irá provocar chuvas em quase todo o País no final de semana e início da próxima semana", diz. 

Clima nos EUA

Os futuros dos grãos negociados na Bolsa de Chicago há meses caminham de lado diante da ausência de especuladores no mercado e da falta de novidades entre os fundamentos. 

E para o diretor de inteligência de mercado da Cerealpar Corretora e consultor do Kordin Grain Terminal de Malta, na Europa, essa situação pode mudar caso as condições de clima no Meio-Oeste americano se confirmem desfavoráveis para este novo ano safra. 

"Na atual conjuntura do mercado, só mudanças no clima dos Estados Unidos que trouxessem um problema sério poderiam mudar o andamento do mercado", diz. "Porém, ainda é cedo para sabermos qual será o impacto do clima na nova safra americana, e isso só será possível a partir do período que vai de maio e julho. Aí sim pode haver mais especulação", completa. 

Leia mais:

>> EUA: Incerteza sobre intensidade e presença do La Niña aumenta especulações sobre clima para nova safra

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Por: Carla Mendes
Fonte: Notícias Agrícolas

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