Soja: Clima para nova safra da América do Sul é alvo de especulação na CBOT

Publicado em 16/10/2015 12:41

As informações sobre o desenvolvimento da nova safra de soja da América do Sul começam a ganhar cada vez mais peso no andamento do mercado internacional. Com a colheita evoluindo bem nos Estados Unidos, trazendo bons níveis de produtividade e a safra praticamente definida, o cenário climático sulamericano passa ser alvo de fortes especulações entre os traders e de atenção entre os produtores, especialmente neste ano, que é de El Niño.

"Caso tenhamos problemas mais sérios no Brasil e outros países da América Latina, e efetivamente complicados, acredito que toda a dinâmica do mercado por aqui possa mudar completamente, bem como a atitude dos traders, dos investidores", disse o vice-presidente da consultoria internacional Price Futures Group, de Chicago, Jack Scoville, em entrevista ao Notícias Agrícolas. "Ao passo em que avançamos com a nossa colheita, vamos voltando às atenções para a América do sul", completa.

O consultor internacional Michael Cordonnier, um dos mais respeitados do setor, trouxe suas primeiras projeções para a produção sulamericana variando entre 169,2 milhões a 181,4 milhões de toneladas, com média de 175,3 milhões. O número tem um incremento significativo se comparado à safra 2014/15 de 171,5 milhões de toneladas. A média esperada para o Brasil é de 100 milhões; para a Argentina de 60 milhões; Paraguai, 8,8 milhões; Bolívia, milhões e Uruguai, 3,5 milhões de toneladas.

Paralelamente, destacou suas preocupações com as adversidades climáticas em entrevista ao portal internacional ProFarmer.

"A área do Brasil que começa a ser uma preocupação é a parte central do país, incluindo os estados de Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, e a região Nordeste. Esta área toda não recebeu chuvas suficientes para dar o início ao plantio e as previsões para os próximos dias ainda não são muito promissoras. Assim, a maior parte das áreas que já foram plantadas são áreas de pivô", diz Cordonnier.

O consultor completa dizendo que as preocupações devem ser maiores na medida em que o atraso no plantio se concretiza e se agrava, além de ressaltar que esse cenário poderia preocupar ainda mais em relação à janela para o plantio da safrinha 2016 de milho.

"Desta data em diante, mudam os olhos do mercado e se encaminham para cá. A safra dos EUA já está definida, nenhuma novidade de grande impacto. Assim, o que acontece é que como o plantio ainda não deslanchou no Centro-Oeste (do Brasil), inicia-se uma pressão. Mas, nos preços, agora este reflexo é pequeno ainda. O movimento está se iniciando agora", diz o consultor de mercado Ênio Fernandes.

BRASIL

No Brasil, o plantio da safra nova se desenvolve de forma mais lenta do que em anos anteriores por conta de alguns problemas de clima. Em meio aos custos de produção mais altos, os produtores preferem não arriscar e a semeadura do grão ocorre somente em áreas onde a umidade foi suficiente ou em áreas irrigadas.

Enquanto o Sudeste e Centro-Oeste do país sofrem com uma irregularidade no regime de chuvas, o extremo Sul recebe elevados acumulados, sem mencionar umas das mais severas secas da região Nordeste. E para os próximos dias, as previsões não indicam mudanças drásticas. De acordo com o último alerta da Somar Meteorologia, elaborado pelo agrometeorologista Marco Antônio dos Santos, uma nova frente fria se avança causando apenas pancadas de chuvas no Centro-Oeste. Já no MATOPIBA, o tempo permanecerá firme, muito quente e sem previsões de chuvas. 

“Contudo, essas (do Centro-Oeste) ainda continuarão sendo irregulares e de baixa intensidade, mas poderá beneficiar um ou outro produtor que está com seus campos semeados. E possibilidade de ocorrência de chuvas irá permanecer entre hoje a domingo. Mas mesmo com essa possibilidade o risco de se plantar apostando nessas chuvas é gigantesco, pois não há nenhuma certeza de tais chuvas possam cair exatamente na área desejada. Probabilidade de ocorrência de chuvas um pouco mais firme só no próximo final de semana e mesmo assim, não há como apostar nelas”, explica Santos.

Região Centro-Oeste - Na região Centro-Oeste, o maior estado produtor do grão, Mato Grosso, sofre com as chuvas que permanecem irregulares. Essa semana, o Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária), informou que apenas 6,1% da área total foi semeada no estado. O número representa um atraso de 2,3% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Em Querência, o plantio da soja não ultrapassa os 3%, conforme afirma o presidente do Sindicato rural Gilmar Dell Osbell. “Ainda estamos dentro da janela ideal de plantio da soja, porém, a preocupação é com a janela ideal da safrinha de milho. Tanto é que muitos produtores poderiam ter fechado a aquisição de insumos da safrinha de 2016, mas estão cautelosos e aguardam as chuvas”, completa o presidente.

Nos outros dois estados que compõe a região o cenário é bastante semelhante. Em Goiás, a semeadura caminha de forma lenta e apenas em áreas de pivô. A última projeção da Faeg (Federação de Agricultura e Pecuária de Goiás) pouco mais de 2% da área havia sido cultivada até a semana anterior. Em Mato Grosso do Sul, o plantio estava próximo de 6,4% no balanço divulgado na semana passada, segundo dados da Famasul (Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul).

Na região de Chapadão do Sul (MS), a semeadura ainda permanece lento devido às irregularidades climáticas.  “O produtor vai esperar as chuvas para fazer um bom plantio e não cometer nenhum erro, pois temos uma safra com custos elevados. Porém, se o cenário se confirmar poderemos considerar um atraso que também pode refletir no cultivo da safrinha de milho”, explica o presidente do Sindicato rural, Rudimar Borgelt.

Região Sul - O Paraná que tem recebido chuvas regulares e o cultivo já atingiu 36% da área projetada para essa safra. No mesmo período do ano anterior, o cultivo da oleaginosa estava próximo de 33%, conforme informou o Deral (Departamento de Economia Rural). Já na semana anterior, o plantio estava completo em 23%. Em contrapartida, no Rio Grande do Sul, os produtores já começam a se preocupar com o excesso de chuvas, que em muitas localidades poderá atrasar os trabalhos nos campos.

Em Santa Maria (RS), uma das regiões mais afetadas no estado e que acumula chuvas de mais de 400 mm nos últimos 10 dias, a preocupação é com as erosões no solo. O vice-presidente do sindicato rural de Carazinho, Paulo Vargas, ressalta que “há uma apreensão com a lixiviação do solo, que é a perda de nutrientes por meio de chuvas torrenciais”. 

Região Sudeste - As chuvas também continuam esparsas na região Sudeste, uma vez que uma massa de ar seco ainda impede o avanço de novas frentes frias. Com isso, em Minas Gerais, muitos produtores esperam as precipitações para iniciarem os trabalhos nos campos. Segundo o presidente do sindicato rural de Araguari, Túlio Rodrigues da Cunha, neste período a região já deveria ter plantado cerca de 40% da área, mas a falta de chuvas impede o avanço da semeadura "e pode atrasar também o plantio do milho safrinha", sinaliza.

ARGENTINA

Na Argentina, a safra 2015/16 divide opiniões. Enquanto a Bolsa de Cereais de Rosário estima um aumento de 300 mil hectares na área de cultivo da soja – para 20,50 milhões – em relação à temporada anterior, muitos analistas acreditam em uma redução por conta da relação preços x custos no país. A bolsa estima ainda uma safra de 63,55 milhões de toneladas, contra 60,1 milhões da anterior.

Para o analista de mercado Pablo Adreani, da consultoria argentina Agripac, a área destinada à oleaginosa nesta nova temporada pode apresentar uma redução de 2% a 3%, para algo entre 19,4 e 19,5 milhões de hectares. “E isso é esperado por conta da baixa rentabilidade da soja na Argentina. Aqui, não temos uma forte valorização do dólar, como acontece no Brasil, e temos uma grande inflação em pesos, o que resulta em custos de produção cada vez mais altos”, disse.

Um estudo recente mostrou que, atualmente, cerca de 44% da área de soja no país seriam economicamente inviáveis. Leia mais:

>> Argentina tem 44% da área de soja e 83% de milho economicamente inviáveis, diz estudo

Por hora, o clima na Argentina ainda não causa preocupações muito sérias e os níveis de umidade do solo nas regiões produtoras é bastante satisfatório, ainda segundo Adreani. O plantio da soja foi iniciado apenas das lavouras mais precoces, com o início efetivo esperado somente para o próximo mês. E sob um cenário de favoráveis condições climáticas, a colheita do país tem potencial para chegar aos 60 milhões de toneladas.

Sobre a influência das informações da nova safra da Argentina sobre o mercado internacional, o analista afirma que essa é, realmente, a tendência de agora em diante. “Mas, o mercado está mais preocupado com o Brasil, principalmente, com a falta de chuvas no Mato Grosso”, acredita.

URUGUAI

As expectativas para a nova safra de soja do Uruguai são semelhantes às da Argentina. No país de economia dolarizada, os preços da oleaginosa vêm recuando de forma significativa desde a temporada 2013/14 e, atualmente, as cotações trabalham em patamares próximos dos US$ 300,00 por tonelada no porto de Nueva Palmira, o principal para exportação da commodity, segundo explica o engenheiro agrônomo e gerente comercial da Solaris Tecnologia Agrícola, do Uruguai, João Luis Sandri.

Ao mesmo tempo, os custos de produção seguem em elevação e desestimulam um aumento de área de plantio com a oleaginosa no país. Atualmente, a média dos custos se mostra em cerca de 2500 kg/hectare, e considerando ainda que boa parte das propriedades é de áreas arrendadas. “Os preços da soja caíram mais do que os insumos subiram”, relata Sandri.

Ainda de acordo com o engenheiro, a área uruguaia deve ser de, aproximadamente, 1,2 milhão de hectares nessa próxima temporada, com uma redução de 14 a 15% em relação à anterior. Assim, e com condições climáticas adequadas, a produtividade deve ficar em algo próximo de 3 mil quilos por hectare (cerca de 50 sacas/ha). Assim, a produção esperada inicialmente fica em torno de 3,6 milhões de toneladas.

O ano, portanto, deverá ser de ajustes, principalmente nos custos de produção. “Os produtores devem se concentrar em áreas mais férteis, deixando algumas áreas marginais, e devem investir menos em tecnologia nesta safra”, acredita Sandri. Afinal, no cenário atual, o faturamento do sojicultor uruguaio já caiu cerca de US$ 600,00 por hectare. “O Uruguai é bem consolidado na pecuária, então, ao contrário do que aconteceu há alguns anos, áreas que antes eram cultivadas com a soja devem voltar a ter pastagem”, diz.

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Por: Carla Mendes
Fonte: Notícias Agrícolas

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