Soja: Preços no disponível avançam e superam paridade de exportação em algumas praças

Publicado em 18/09/2015 16:05
Preços do saldo da safra 2014/15 têm bom momento no mercado disponível

O baixo volume de soja brasileira da safra 2014/15 que ainda há disponível no mercado vem sendo disputado entre as exportações e a demanda interna. O cenário, que tradicionalmente é iniciado nesse período do ano, aliado à uma disparada do dólar frente ao real vem sendo traduzido em bons ganhos para os preços no interior do país. Em alguns estados, as altas desde a última sexta-feira (11) passam de 3%. 

Segundo analistas e consultores, pouco mais de 90% da safra velha já foi vendida e, melhor capitalizados, os sojicultores brasileiros tê ainda segurado suas vendas, diante de uma demanda que segue aquecida e aumenta internamente, podendo garantir preços ainda melhores. Além disso, nesta semana o dólar já acumula uma alta de 7% e, no ano, de 46%, com perspectivas de alcançar patamares ainda mais elevados. Nesta sexta, a moeda norte-americana subia mais de 1% e superava os R$ 3,90. 

As praças de comercialização do Sul do Brasil são algumas das que apresentam valorizações mais expressivas. Os produtores que estão em regiões próximas dos portos já têm preços próximos dos R$ 80,00 por saca. "Ainda tem espaço para o dólar crescer aqui no Brasil a partir da situação crítica que o país está vivendo (...) Os produtores vão aguardar para ver o que vai acontecer com o câmbio, então, não temos vendedores", explica Vlamir Brandalizze, consultor da Brandalizze Consulting. E nesse ambiente, ainda segundo o consultor, os preços pagos no interior poderiam superar os registrados para liquidar na exportação. 

No Paraná, de acordo com o levantamento do centro de pesquisa Biomercado - Centro de Referência da Cadeia de Produção de Biocombustíveis para a Agricultura Familiar -, da Universidade Federal de Viçosa, a média do preço da soja subiu, na última semana, cerca 2,46%, passando de R$ 67,83 para R$ 69,50 por saca. Em algumas praças como Cascavel, por exemplo, o ganho no mesmo período foi de 2,94% para R$ 70,00. 

As altas no estado são um reflexo claro dessa boa demanda interna, uma vez que o Paraná é grande produtor de frango, suínos e leite, setores que exigem elevada demanda de farelo, segundo explicou Dilvo Grolli, presidente da Coopavel. "O primeiro semestre foi de exportações fortes e isso, em seguida, deixou o mercado equilibrado entre a demanda e a disponibilidade de oferta", diz. Além disso, o produtor e as cooperativas estão bem capitalizados, com condições de reter as vendas e esperar preços ainda melhores, ainda de acordo com Grolli. 

O presidente da cooperativa explica ainda que, neste momento, o produtor entende a soja ainda como um ativo e diante das informações de uma cena política e econômica ainda mais complicada no Brasil e de mais avanço do dólar, segura a oleaginosa e evita a efetivação de novas vendas. 

No Rio Grande do Sul, a situação é semelhante e os negócios com o pouco saldo da safra velha são pontuais, como explica o vice-presidente do Sindicato Rural de Carazinho. Na região os preços no disponível estão na casa de R$ 74,50 e remuneram bem os produtores, já que, de frete para o porto de Rio Grande, no caso da exportação, o valor é de R$ 5,00 por saca. Assim, se considerado uma cotação de R$ 83,00 base porto, descontando também os custos das intermediações dos negócios, o total destinado ao produtor fica entre R$ 72,00 e R$ 74,00. 

Ainda de acordo com o Biomercado, a média de preço no estado gaúcho, da última sexta (11) até esta quinta-feira (17), o ganho foi de 0,89%, subindo de R$ 70,50 para R$ 71,13 por saca. Em Não-Me-Toque, no norte do Rio Grande do Sul, a alta foi de 1,42%, de R$ 70,50 para R$ 71,50. 

No Mato Grosso, mesmo quadro. "Há uma briga pela soja em grão neste momento, como acontece todo ano nesse período. Está todo mundo precisando e o produtor está com a soja nas mãos", relata o presidente do Sindicato Rural de Sorriso, Laércio Pedro Lenz. 

No município, o último indicativo de preço trazido pelo Imea (Instituto Mato Grossensse de Economia Agropecuária) foi de R$ 67,50 por saca, na venda. Para o estado, a alta apontada pelo Biomercado na média de preços, é de 2,90%, com a cotação saltando de R$ 69,00 para R$ 71,00 por saca. Em Tangará da Serra, por exemplo, o valor subiu de R$ 66,50 para R$ 67,00, com alta de 0,75%. 

Lenz afirma, no entanto, que segurar essas vendas e aguardas oportunidades que possam ser ainda mais rentáveis para a soja da safra velha pode ser melhor, principalmente, para quem tem condições de armazenar seu produto. "O custo de carregar essa soja fica alto se a armazenagem for terceirizada", diz. 

Ainda de acordo com o Biomercado, a média de preços em Goiás subiu 3,28% - de R$ 61,00 para R$ 63,00 - e no Mato Grosso do Sul, 3,02% para R$ 68,15 por saca. Em São Gabriel do Oeste, município sul mato-grossense, o ganho no mesmo período foi de 4,29%, com a cotação passando de R$ 70,00 para R$ 73,00/saca.

"A oferta (brasileira) foi bem robusta, mas a demanda interna, e principalmente a externa, em função da valorização cambial é que fizeram com que a soja tivesse essa forte alta registrada nos últimos meses. O mercado como um todo olha com muita atenção na safra sulamericana, principalmente em ano de El Niño, pois aumenta as incertezas quanto ao tamanho da safra 2015/16", explica Márcio Genciano, consultor da MGS Rural, de Ivaiporã/PR.

CNA: Quem segurou a soja, se deu bem

Ao segurar a venda da supersafra de soja, diante da disparada diária do dólar após a colheita, os produtores gaúchos fizeram as exportações do grão aumentar 41% em agosto, na comparação com igual período em 2014. Os embarques da oleaginosa somaram 1,25 milhão de toneladas no período, contra 839 mil toneladas no mesmo mês no ano anterior.
 
A concentração maior das vendas externas em agosto fez o Rio Grande do Sul alcançar o maior crescimento em volume (16,4%) entre os principais Estados exportadores, conforme dados divulgados ontem pela Fundação de Economia e Estatística (FEE).
 
A soja respondeu por mais de 30% de todo o volume exportado em agosto, compensando boa parte da queda na indústria destaca Tomás Torezani, pesquisador em Economia da FEE.
 
Um dos fatores que explica o volume maior embarcado em agosto deste ano é a colheita recorde de soja, que superou a marca histórica de 15 milhões de toneladas. Mas a supersafra gaúcha não é o único motivo, explica o consultor em agronegócio Carlos Cogo.
 
Quando o produtor viu que o dólar não parava de subir começou a reter o grão para tentar vender melhor, já que a alta é transferida 100% para o preço da soja  explica Cogo, acrescentando que em abril e maio ainda se esperava uma redução na safra americana, o que acabou não se confirmando mais tarde.
 
A estratégia, mesmo que intuitiva, deu certo. Em abril, quando a safra foi colhida, a saca de 60 quilos de soja era vendida no Estado a R$ 65, enquanto o bushel (equivalente a 27,2 quilos) estava cotado a US$ 9,81 no mercado internacional. Em agosto, a mesma saca foi vendida a R$ 76,73, mesmo com o bushel a US$ 8,88.
 
A valorização do dólar compensou até mesmo a baixa na cotação da commodity. Quem retardou a venda, se deu bem completa Cogo.
 
Outro fator que ajudou a valorizar o preço foi o prêmio pago no porto de Rio Grande, 40% maior em agosto, na comparação com abril.

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Por: Carla Mendes
Fonte: Notícias Agrícolas

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