Soja: No Brasil, preços fecham com estabilidade no interior e nos portos; CBOT neutraliza dólar
O mercado internacional da soja fechou o pregão desta terça-feira (1) com expressiva baixa na Bolsa de Chicago. Os futuros da oleaginosa, assim como as demais commodities, ainda sentem a pressão das turbulências do mercado financeiro, e o mês começou pesado para as cotações. Entre as posições mais negociadas, as perdas ficaram entre 12,75 e 13,50 pontos, e assim, a primeira posição - setembro/15 - fechou o dia valendo US$ 8,84 por bushel, enquanto a referência para a safra norte-americana - novembro/15 - terminou a sessão em US$ 8,78.
Nesta terça, foram divulgados os últimos números do índice de atividade industrial da China, o PMI, e a informação de uma queda de 50 para 49,7 pontos não foi bem recebida pelos investidores. O PMI de serviços recuou de 53,9 para 53,4 pontos e o compostou foi de 50,2 a 48,8. As notícias, mais uma vez, pesaram sobre o andamento dos negócios e motivou uma liquidação de posições por parte dos traders, que migraram para ativos mais seguros, principalmente o dólar. No Brasil - também motivada pelo cenário doméstico - a divisa bateu em R$ 3,70.
Outro fator que também pesa negativamente sobre as cotações, ainda na macroeconomia, é a forte perspectiva dos investidores sobre a alta da taxa de juros nos Estados Unidos, o que também motiva uma corrida para a moeda norte-americana. As ações norte-americanas, nesta terça em Wall Street amargaram um dia de perdas significativas, também sentindo a pressão de uma venda generalizada de ativos, como noticou a agência internacional Bloomberg. O petróleo também voltou a recuar e perdeu quase 3% em Nova York.
Complementando o cenário, ainda de acordo com informações apuradas pela Bloomberg, a presidente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Christine Lagarde, disse, nesta terça-feira, que a projeção do crescimento global está pior do que se esperava há dois meses. "Isso reflete duas forças: uma recuperação mais fraca do que o projetado em economias avançadas, e um novo 'abrandamento' no avanço das economias emergentes", disse Christine em um discurso feito em Jacarta, na Indonésia.
Paralelamente, alguns fundamentos, principalmente os que se referem à nova safra norte-americana, também são negativos para a formação dos preços. Nos Estados Unidos, as lavouras de soja parecem caminhar para uma boa conclusão e, de acordo com os últimos números trazidos pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) em seu boletim semanal de acompanhamento de safras, 63% delas estão em boas ou excelentes condições. 93% delas estão formando vagens e 9% delas já começaram a derrubar suas folhas.
"O clima no Meio-Oeste dos EUA continua muito favorável para as safras", disse o analista de mercado e editor do site internacional Farm Futures, Bob Burgdorfer. As últimas previsões do NOAA, o serviço oficial de clima do governo americano, já mostram chuvas nesta semana, porém, nos períodos dos próximos 5 e 7 dias, as precipitações esperadas para o país devem se manter fora do Corn Belt.
De acordo com as previsões da agência MDA Weather Services, o Meio-Oeste americano deverá ter, nesta semana, tempo mais quente e seco, com as máximas variando entre 30ºC e 34ºC e mínimas entre 21ºC e 23ºC.
Negócios: Brasil e EUA têm vendas travadas
Os negócios, no Brasil e nos Estados Unidos, estão travados. De acordo com analistas, essa deve ser a tendência até que o produtor volte a ver oportunidades que o atraiam novamente à ponta vendedora do mercado. Os compradores, por outro lado, permanecem bastante ativos e demandando a soja, principalmente brasileira, diante dessa desvalorização cambial.
Nos terminais nacionais, as cotações fecharam o dia próximas da estabilidade. Afinal, o ganho do dólar foi neutralizado pelas baixas expressivas registradas em Chicago. Em Paranaguá, a soja disponível fechou com R$ 78,00 por saca, e a futura - entrega março/16 - com o mesmo valor, mas registrando um avanço de 2,36%. Já em Ri Grande, a oleaginosa disponível caiu 0,25% para R$ 79,60, e a da safra nova perdeu 0,13% para R$ 79,70.
No interior do país, apenas poucas praças de comercialização, entre as principais, apresentaram alguma variação de preço. Em Não-Me-Toque/RS, o valor subiu 1,49% para R$ 68,00/saca e em Cascavel, alta de 1,55% para R$ 65,50. Já em Luís Eduardo Magalhães, o valor perdeu 1,39% para R$ 71,00 por saca.
As operações não evoluem, nem mesmo com prêmios no patamar de 90 cents de dólar acima de Chicago no Golfo, principal canal de exportação da soja norte-americana, e passando de US$ 1,00 nas primeiras posições de entrega nos portos brasileiros. E esse tem sido um importante fator no tripé de formação das cotações da soja no mercado brasileiro.
Paralelamente, há ainda a questão cambial. O dólar tem se mostrado bastante volátil nos últimos meses diante da incerta e preocupante situação política e econômica do Brasil, que também traz insegurança ao produtor para evoluir com sua comercialização. Nesta terça-feira, o dólar chegou a subir 2% e bater em R$ 3,70 pela primeira vez desde 2002 frente a esse quadro.
"Se agosto foi ruim, setembro começa tão mal quanto", escreveu em nota a cliente o operador da corretora SLW João Paulo De Gracia Corrêa reportada pela agência Reuters. "No Brasil, o mercado demonstrava cada vez mais nervosismo sobre a perspectiva de perda do selo de bom pagador do país diante da deterioração das contas públicas do país", informou ainda a Reuters.
Ainda segundo Brandalizze, "o produtor brasileiro já viu que há potencial de avançar, então, ele vai vender escalonadamente. Eu não acredito que ele virá ao mercaddo agressivamente, vendendo forte, porque ele está muito preocupado com a situação política e econômica do Brasil, que ainda não chegou nem ao meio, e ainda tem muito a piorar".
Exportações Brasileiras
A Secretaria de Comércio Exterior informou, nesta terça-feira, que as exportações brasileiras de soja registraram um novo recorde. De janeiro a agosto deste ano, o Brasil exportou o volume histórico de 45,8 milhões de toneladas, ou 9,3% a mais do que o vendido no mesmo período do ano passado. As exportações totais da oleaginosa de 2014 foram de 45,8 milhões de toneladas, de acordo com um levantamento da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais).
No período, a receita gerada foi de US$ 17,7 bilhões e, com referências menores de preços, principalmente no mercado internacional, o valor ficou 17,2% abaixo do registrado no mesmo intervalo do ano anterior. Os preços médios, ainda de acordo com a Secex, ficaram 24,2% menores do que os apresentados nos primeiros oito meses de 2014.