Soja fecha em campo misto na CBOT e baixa do dólar pressiona cotações nos portos do BR
O mercado da soja na Bolsa de Chicago, nesta quarta-feira (8), fechou a sessão com estabilidade e sem direção definida para as posições mais negociadas. Buscando manter o patamar dos US$ 9,70 por bushel, as cotações terminaram o dia com pequenas altas nos dois primeiros contratos - maio e julho/15 - e ligeiro recuo nos dois últimos - agosto e setembro/15.
Durante todo o pregão, o mercado trabalhou com oscilações limitadas nesta quarta, uma vez que, os investidores ainda trabalham na defensiva à espera dos novos números que o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) divulga nesta quinta-feira (9) em seu novo boletim mensal de oferta e demanda. E as expectativas são de que o reporte traga uma redução nos estoques finais de soja dos EUA e uma manutenção nos números globais, como mostram as projeções divulgadas por consultorias privadas.
Para os estoques finais norte-americanos de soja, as expectativas apontam para uma redução dos números em relação ao boletim anterior e variam entre 9,444 milhões e 10,859 milhões de toneladas, com média de 10,07 milhões. Em março, o USDA estimou 10,48 milhões de toneladas. Sobre os estoques mundiais, há uma perspectiva ainda de manutenção dos números dos estoques finais globais de soja em 89,5 milhões de toneladas para a safra 2014/15. As expectativas - com média de 89,5 milhões também - variam de 88 milhões a 91,15 milhões de toneladas.
Esse reporte será o último com as atenções voltadas para a temporada 2014/15, antes que elas se transfiram para o início e desenvolvimento da safra 2015/16 dos Estados Unidos, segundo explicam analistas. E no aguardo por esses números, segundo Camilo Motter, analista e economista da Granoeste Corretora, os preços da soja se vêem confinados em Chicago em um intervalo de US$ 9,50 a US$ 10,00 por bushel.
Paralelamente, o mercado observa também, ainda de acordo com o analista, o desenvolvimento da nova safra dos Estados Unidos e, com mais atenção ainda, o comportamento do clima no país, uma vez, que esses deverão ser os próximos fatores responsáveis pela nova configuração dos preços na CBOT.
"Mas não há espaço para o mercado cair muito, porque os produtores mais retraídos poderiam aumentar a área do milho em detrimento da soja. Há uma tendência nos últimos meses que mostra que a relação entre os preços da soja e do milho, que ainda favorece a soja, de aproximação dos preços a níveis mais históricos em torno de 2,10 / 2,20 bushels de milho para 1 bushel de soja. Hoje, essa relação já está mais próxima de 2,40 / 2,50, mas já esteve muito mais alta", explica Motter. "E tudo isso significa ampliação da área de soja", completa.
Sobre o clima, o analista define esse fator como o "decisivo para a reorientação dos preços", uma vez que poderá ser observada a movimentação dos fundos de investimentos ligada a esse comportamento climático. "Hoje, os fundos estão com posições líquidas vendidas em maior número, e isso pode ser revertido ao menor sinal de fundamento, principalmente sobre o clima, e recompor suas carteiras com posições líquidas compradas", diz, mostrando uma possibilidade desse movimento positivo para as cotações. Além disso, as condições de clima poderiam ainda influenciar nas decisões finais sobre a área de plantio da safra 2015/16.
E, ainda de acordo com o analista, esse "confinamento" do mercado tem se dado, também, em função da conclusão da safra na América do Sul, especialmente no Brasil, onde a colehita já está bastante avançada e números, principalmente de consultorias privadas, trazendo uma recuperação do potencial da produção nacional.
Mercado Brasileiro
No Brasil, o foco dos produtores continua sobre o andamento do dólar e dos prêmios pagos nos portos, uma vez que as exportações brasileiras vem retomando seu ritmo, mas ainda esbarrando em problemas logísticos, segundo explica o analista de mercado Camilo Motter.
Assim, com mais um dia de baixas para a moeda norte-americana frente ao real - o recuo passou dos 2%, os preços da soja recuaram nos portos nesta quarta-feira. Em Rio Grande, o produto disponível caiu 1,43% para R$ 68,90 por saca, enquanto para maio/15 o valor apresentou uma baixa de 1,83% e perdeu o patamar dos R$ 70,00, fechando o dia com R$ 69,70. Em Paranaguá, queda de 1,47% para a soja com entrega em abril, para R$ 67,00/saca.
E o dólar, ainda de acordo com o analista, deve seguir enfrentando um cenário de acentuada volatilidade, uma vez que as crises política, econômica e moral ainda devem permear os negócios e influenciar a direção da taxa cambial no Brasil, pesando diretamente sobre a formação do preço da soja no mercado interno.
"O câmbio tem mantido os preços para o produtor brasileiro em patamares que não imaginávamos. Por isso, o produtor brasileiro está colhendo as beneces do câmbio, já que fez seus custos com um câmbio bem mais baixo e está vendendo a produção com um dólar mais alto", explica Motter. "Mas isso pode ser revertido no futuro, fazendo o custo da próxima safra com um dólar mais alto e, quando for vender a safra mais a frente, ter surpresas, se as coisas se ajustarem", completa.
Sobre os prêmios, o analista explica que os valores ainda positivos - de 40 a 45 centavos de dólar acima dos valores praticados em Chicago - são reflexo, além da demanda, da pressão sobre as cotações no mercado internacional. "Pode haver um recuo maior do produtor brasileiro (em relação às vendas) caso os prêmios ou o câmbio venham a cair", diz.
A demanda ainda aquecida pela soja brasileira também segue contribuindo para o suporte para os preços. "Já temos pouco mais de 50% da safra brasileira comercializada e isso quer dizer algo próximo de 30% desse total já estariam comprometidos com a exportação. Porém, os gargalos logísticos realmente afetam de forma drástica o ritmo das exportações. O interesse lá fora existe, o produtor brasileiro está, embora mais lento, muito vendido, então, está claro que o problema está nos gargalos portuários".