Soja fecha em baixa na CBOT e nos portos, mas interior do país tem mercado firme
O movimento de realização de lucros continuo forte nesta terça-feira (4) na Bolsa de Chicago e os preços da soja encerraram o dia com baixas de dois dígitos. Os principais vencimentos fecharam perdendo mais de 19 pontos, com o janeiro/15 valendo US$ 10,09 e o contrato maio/15, referência para a safra brasileira, valendo US$ 10,24/bushel no fechamento desta sessão.
No Brasil, o mercado não seguiu uma direção comum. Nos portos, apesar da boa alta do dólar registrada nesta terça, os preços voltaram a recuar e fecharam o dia a R$ 62,00 tanto em Paranaguá como em Rio Grande para o produto com entrega em maio/15. No terminal gaúcho, a soja disponível ficou em R$ 63,50. No interior do país, a cotação caiu em Não-Me-Toque/RS, 0,86% para R$ 57,50; 0,49% em Jataí/GO para R$ 51,25/saca. Já em Cascavel, alta de 0,85% para R$ 59,50 e estabilidade nas demais praças. Em Maracaju, por outro lado, o valor subiu 1,69% e ficou em R$ 60,00 e em Ponta Porã, o ganho foi de 3,39% para R$ 61,00.
Quedas em Chicago
O principal fator de pressão sobre as cotações neste pregão, segundo explica o analista de mercado Camilo Motter, da Granoeste Corretora de Cereais, foi o significativo avanço da colheita dos grãos nos Estados Unidos na última semana.
De acordo com o último boletim de acompanhamento de safras divulgado pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), a colheita da soja, em uma semana, evoluiu 13 pontos percentuais e atingiu 83% da área até o domingo 2 de novembro. Assim, o número fica em linha com a média dos últimos cinco anos, além de ter superado as expectativas do mercado, que variavam de 79 a 81%.
Esse avanço nos trabalhos de campo reforçam os reportes de produtividade que chegam do Meio-Oeste americano indicando números bastante elevados para a oleaginosa. E diante dessas informações, segundo explicam analistas, os fundos de investimento, que ainda se mostram muito presentes no mercado, se sentem estimulados a liquidarem suas posições em busca de garantia de lucros.
"Como a colheita nos EUA alcançou a média histórica - de 83% -, o mercado ficou mais tranquilo, depois do atraso que vínhamos observando. Assim, na semana que vem podemos ver de 90 a 92% da área já colhidos e os trabalhos de campo entrando na reta final", explicou Motter."Mais produto no mercado, mais pressão sobre os preços", completa.
Além disso, o mercado sentiu a pressão ainda dos preços do farelo de soja também na Bolsa de Chicago. Ainda segundo o analista da Granoeste, nas últimas três sessões, os valores do derivado já chegam a registrar perdas de 10 a 12%, após fortes rallies em outubro - que motivaram a forte puxada do grão - já que a corrida que foi observada nas últimas semanas parece estar se desaquecendo. "O vencimento dezembro na CBOT, que atingiu os US$ 408,00 por tonelada curta no melhor momento, agora trabalha na casa dos US$ 372,00. Então, essa queda expressiva do subproduto também pressiona a matéria-prima. Estamos vendo agora uma 'normalização' da oferta", explica.
Além disso, notícias melhores também sobre o comportamento do clima no Brasil nas próximas semanas, as quais poderiam aliviar o atraso no plantio da nova safra, também pressionam as cotações. Entretanto, nos últimos dias, essa demora para a semeadura vinha encorajando os fundos especulativos a continuarem comprando posições.
"As previsões desssa semana mostram apenas uma ligeira melhora em relação à da semana anterior, porém, já são duas semanas de indicando um clima mais úmido no país", disse o analista de mercado e editor do site norte-americano Farm Futures.
No entanto, para Camilo Motter, o mercado ainda terá de uma a duas semanas com seu foco voltado mais para a safra norte-americana, já que a colheita caminha para a reta final no país e, na próxima segunda-feira (10), o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) divulga seu novo boletim mensal de oferta e demanda. E as expectativas são de que os números venham ainda maiores do que os reportados em outubro.
Em seguida, os investidores devem se voltar cada vez mais à América do Sul e ao comportamento do clima, principalmente no Brasil. Apesar de uma ligeira melhora no regime de chuvas nos últimos dias, ainda há um significativo atraso no plantio da nova safra brasileira, que está concluído em cerca de 25 a 27%. A média para esse período, de virada de outubro para novembro, é de 50%, ou seja, o dobro.
Dessa forma, ainda segundo o analista, o mercado poderia precificar de forma positiva esse início ruim da temporada 2014/15 no Brasil, uma vez que poderia resultar em perdas na produção brasileira. Na última semana, a Oil World, consultoria alemã, já trouxe uma estimativa de menos de 90 milhões de toneladas para a colheita do Brasil. "Mas, ainda é cedo para sabermos qual o impacto que isso terá sobre as cotações, já que uma mudança significativa no clima poderia permitir uma boa recuperação das lavouras", disse Camilo Motter.