Pesquisadores e produtores debatem vazio sanitário da soja
No intuito de debater temas relacionados ao plantio da soja, a Comissão de Cereais, Fibras e Oleaginosas da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) se reuniu na sede da entidade, onde recebeu produtores e representantes do setor como a Agência Goiana de Defesa Agropecuária (Agrodefesa), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e empresas de pesquisa e produção de sementes. Além de discutir temas como custo de produção e mercado, o encontro serviu para levantar a questão das áreas de pesquisa, nas quais a soja é cultivada mesmo dentro do vazio sanitário do grão - período de ausência total de plantas vivas cultivadas ou voluntárias da cultura soja no campo.
Durante o encontro, que aconteceu na última semana, os presentes também falaram sobre o cadastramento eletrônico das propriedades junto à Agrodefesa e o monitoramento da mesma para detecção da ferrugem asiática, principal doença que afeta a produção de soja em todo o país. A reunião foi comandada pelo vice presidente institucional da Faeg, Bartolomeu Braz, o consultor técnico do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) Goiás, Cristiano Palavro e pelo produtor e presidente da Comissão, Flávio Faedo.
O ponto alto da reunião foi o dabate sobre possíveis alterações na Instrução Normativa Nº 003, que define todos os parâmetros referente ao vazio sanitário da soja, importante estratégia de mitigação dos efeitos negativos desta doença nas lavouras goianas. Alguns artigos da normativa têm causado forte discussão entre os diferentes elos da cadeia produtiva.
Entre eles, o artigo que determina a obrigatoriedade de eliminar os restos culturais da soja nas áreas ou instalações nas quais houve cultivo, colheita, armazenagem, beneficiamento, comércio, industrialização, movimentação ou transporte do grão.
Segundo a normativa, esta eliminação deverá ocorrer até 30 dias após a sua emergência. Os produtores alegam que com a colheita precoce e o período chuvoso, ocorrem várias emergências da soja tiguera ou guaxas, que germinam a partir do grão, o que cria a necessidade de mais de uma eliminação e a elevação dos custos.
Outro ponto bastante questionado pelos produtores foi a concessão de cultivo durante o período de vazio sanitário, dadas pela Agrodefesa às empresas de pesquisa e melhoramento de sementes.
Cultura de sucessão
A questão da semeadura de culturas em sucessão ou rotação também precisou entrar na pauta de discussões, já que muitos produtores vêm optando pelo plantio de girassol e não conseguem extinguir as plantas voluntárias de soja que germinam no meio da cultura principal. A justificativa é de que não há um herbicida específico que erradique a soja tiguera e não afete o girassol.
Outro ponto importante, foi a presença de plantas tigueras de soja em beiras de rodovias e em áreas públicas, ocasionada principalmente pelas perdas de grãos de soja durante o transporte. Neste sentido foi proposto pela Agrodefesa a introdução de um artigo que permite a fiscalização e penalização dos transportadores que não acondicionem corretamente as cargas, o que evitaria o derramamento excessivo das cargas.
Vazio sanitário
A normativa estabelece ainda que o vazio sanitário da soja ocorra entre 01 de julho e 30 de setembro. O problema, na opinião de grande parte dos produtores, é que segundo as regras atuais, as empresas que realizam melhoramento genético de cultivares de soja e multiplicação de semente genética têm a possibilidade de cultivar soja irrigada neste período - o que tem contribuído para o agravamento das infecções com ferrugem, aumentando as perdas de produção e os custos de produção.
Um grupo de produtores de soja dos municípios de Acreúna e Rio Verde estiveram na reunião e se mostraram preocupados, alegando que a ferrugem asiática chegou muito cedo nas áreas adjacentes aos campos de pesquisa, mesmo tendo este último ano sido de clima mais seco que normalmente.
E aí que está o imbróglio. Do outro lado, a Embrapa alega que as pesquisas são responsáveis por avanços de valor incalculável dentro do setor agrícola. Um exemplo foi a diminuição do ciclo e o aumento da produtividade, além da maior resistência das variedades. As empresas de pesquisa, como um todo, se defendem apontando que o controle de ferrugem nas áreas cultivadas durante o período de vazio sanitário tem sido realizado de forma adequada, seguindo inclusive as determinações da Agrodefesa.
Além disso, elas apontam que a impossibilidade de cultivo neste período seria muito impactante na velocidade de melhoramento de novas variedades, o que prejudicaria os produtores rurais e o setor de pesquisa e sementes como um todo.
Pela necessidade de maior esclarecimento sobre os pontos conflitantes, uma nova reunião ficou marcada para a segunda semana de outubro. No encontro as empresas de pesquisa deverão apresentar um parecer sobre as sugestões feitas pelos produtores.