Na Bloomberg: China pode cancelar soja comprada dos EUA
Crescem as especulações de que a China pode cancelar parte de sua compra recorde de soja norte-americana, quando a safra brasileira entra no mercado. De acordo com o site de notícias Bloomberg, o gigante asiático comprou 24 milhões de toneladas da oleaginosa no final de novembro, volume 37% maior que o comprado no mesmo período do ano passado, segundo informações do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
No ano comercial passado, um congestionamento de navios em portos brasileiros fez com que a China cancelasse embarques. O país voltou sua demanda para os Estados Unidos, para se precaver de atrasos na entrega pelo Brasil, de acordo com Dan Hofstad, da FCStone de Londres.
“A China quer ter uma rede de fornecimento segura”, disse Hofstad, consutor de gerenciamento de riscos. “Obviamente, eles irão esperar uma confirmação do tamanho da safra sulamericana, mas depois disso, a China começará a cancelar os embarques dos Estados Unidos”.
A soja no mercado futuro caiu 5,2% este ano na Bolsa de Chicago, enquanto o milho e o trigo tiveram quedas de 37% e 18%, respectivamente. O USDA estima que a produção mundial das três culturas poderá alcançar recordes históricos este ano.
Brasil, o maior exportador de soja do mundo, deverá colher 90 milhões de toneladas este ano, 10% a mais que o recorde de 81,5 milhões de toneladas produzidas no ano passado, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Atraso de navios
Navios em portos brasileiros tiveram que esperar por mais de um mês para conseguir embarcar seus grãos no ano passado. A redução das cargas de milho e trigo pode indicar que os embarques de soja poderão ser mais rápidos este ano, segundo Hofstad.
A Conab estima as exportações brasileiras de soja em 45,9 milhões de toneladas, 6,7% a mais que no ano passado. Já as exportações de milho devem cair 20%, para 18 milhões de toneladas; as exportações de trigo devem ter queda ainda mais acentuada: 70%, para 500 mil toneladas.
Os Estados Unidos já venderam 37,59 milhões toneladas de soja desde que o ano comercial começou, no dia 1º de setembro, o que representa 94% do volume total a ser exportado durante todo o ano, segundo informações do USDA.
Mas pelo menos 20,3 milhões de toneladas desse volume ainda aguardam para serem embarcados – deles, 11,3 milhões de toneladas estão destinados para a China.
Se não houver cancelamento de cargas de soja, e se as vendas dos Estados Unidos continuarem no ritmo normal durante a segunda metade do ano comercial, os Estados Unidos deverão exportar 43,5 milhões de toneladas este ano, segundo Chris Gadd, analista do Grupo Macquarie, em Londres. Mas não será “possível” fornecer este volume sem forçar os norte-americanos a importar soja para atender sua própria demanda interna.
EUA sobrecarregado com compromissos de venda
A tensão no equilíbrio das importações e exportações dos Estados Unidos deverá fazer com que o mercado incentive a China a cancelar suas compras, segundo Gadd. “Os EUA já devem estar com mais compromissos do que podem cumprir, já que normalmente esperamos que o país continue vendendo na segunda metade do ano”.
O último cancelamento de compras de soja norte-americana pela China registrado pelo USDA foi em 26 de novembro, quando o país asiático cancelou 300 mil toneladas. No mesmo dia, os Estados Unidos venderam 360 mil toneladas para compradores não identificados.
“Os exportadores dos EUA querem vender soja para a China, mas não são tolos o bastante para acreditar que algumas cargas não serão canceladas”, informou Fiona Boal, analista sênior, da Hermes Fund Managers, em Londres.
Informações: Bloomberg
Tradução: Fernanda Bellei