PF investiga morte de cacique e não vê indícios de grupos armados em terra indígena no Amapá
(Reuters) - A Polícia Federal abriu inquérito no domingo para investigar a morte de um cacique na semana passada em uma terra indígena no Amapá, após relatos de um possível ataque ao local, e até o final do domingo, os policiais federais não haviam encontrado indícios da presença de grupos armados na Terra Indígena Wajãpi, informou a Fundação Nacional do Índio (Funai).
A morte do cacique, ocorrida na semana passada, gerou reações do presidente Jair Bolsonaro, um crítico da demarcação de terras indígenas, e da alta comissária de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas, Michelle Bachelet, que classificou a morte do cacique Emrya Wajãpi como um "sintoma perturbador" da pressão exercida sobre os índios por mineradores, madeireiros e fazendeiros no Brasil.
De acordo com a Funai, a Coordenação Regional da Fundação Nacional do Índio no Amapá encaminhou para a presidência do órgão no sábado memorando informando sobre um possível ataque de garimpeiros à área indígena.
A Funai disse que, por se tratar de um local de difícil acesso, a fundação alertou os órgãos de segurança da área para se certificar da veracidade das informações.
"Neste domingo, após a chegada de servidores da Fundação, da Polícia Federal e do Bope, foi aberto inquérito pela PF para apuração da morte de um cacique que foi a óbito na semana passada", informou a Funai em nota.
"Também nesse domingo, o último relatório da equipe da PF em campo, registrado por volta de 23h, afirmou 'não haver nenhum indício, até o momento, da presença de grupo(s) armado(s) no local'. De acordo com a equipe, 'será feito um relatório pormenorizado, contendo até os pontos georreferenciados'", acrescentou a nota da Funai.
De acordo com a fundação, servidores da Funai encontram-se no local e acompanham o trabalho da polícia. Também foi montado um gabinete de crise com representantes da Funai, Ministério Público Federal, Ministério Público estadual, Polícia Federal, Secretaria de Justiça e da Segurança Pública do Amapá e Exército.
Ao comentar o caso nesta manhã em Brasília, Bolsonaro --que disse recentemente que enviará ao Congresso um projeto de lei para legalizar o garimpo no país-- afirmou que o excesso de reservas indígenas no país está "inviabilizando o agronegócio", e levantou dúvidas sobre a morte do cacique Wajãpi.
"Nesse caso agora aqui... não tem ainda nenhum indício forte de que esse índio foi assassinado lá agora. Chegaram várias possibilidades. A PF está lá, quem nós pudermos mandar para lá já mandamos para buscar desvendar o caso e buscar a verdade sobre isso aí", disse o presidente em entrevista na saída do Palácio da Alvorada.
Bachelet, que é ex-presidente do Chile, por sua vez, manifestou preocupação com a morte do cacique no Amapá e fez um apelo para que Bolsonaro reconsidere sua posição de liberar mais áreas na Amazônia para a mineração.
"Eu apelo para que o governo brasileiro aja de forma decisiva para deter a invasão dos territórios indígenas e garantir o exercício pacífico de seus direitos coletivos sobre suas terras", disse Bachelet, acrescentando que o desmatamento agrava as mudanças climáticas.
(Reportagem de Eduardo Simões em São Paulo, Lisandra Paraguassu em Brasília, Pedro Fonseca no Rio de Janeiro e Stephanie Nebehay em Genebra)