Na VEJA: Sem se irritar nenhuma vez, Dilma fala a "João"
Jô Soares chamou a presidente o tempo todo de "você"; ela, por duas vezes, se enganou e o chamou de "João" -- o que o apresentador, gentil, fingiu não perceber. Não poderia ter sido mais cordial o clima da entrevista de 70 minutos concedida pela presidente Dilma Rousseff ao apresentador da TV Globo, que foi ao ar na madrugada deste sábado. A presidente pôde descrever em detalhes os pontos mais importantes dos programas de seu governo e expor em minúcias cada um dos projetos que considera bem-sucedidos. Sobre a situação econômica, voltou a afirmar que ela é consequência da crise internacional, "que durou mais do que a gente esperava", e da "forte seca, que desta vez atingiu o Sudeste" e forçou a elevação do custo dos alimentos e da energia. Disse, porém, que "as dificuldades são momentâneas" e que espera que a inflação, que a deixa "muito agoniada", comece a ceder "em alguns meses". Mas, alertou: "A gente não pode chegar aqui e jurar, depende de coisas que também nós não controlamos."
A presidente se mostrou bem-humorada e sorridente durante todo programa. Ao contrário da reação que teve na semana passada, quando foi perguntada pelo canal francês France 24 sobre o que faria se fosse provada a sua ligação com o escândalo do petrolão, ela não se irritou nenhuma vez. Quando o apresentador fez menção ao episódio ("Em 2011, você mudou o comando da Petrobras. É porque você já pressentia que existia algo de podre lá?"), Dilma respondeu: "Não eram pessoas da minha confiança. Então, passado um ano -- porque a Petrobras não é um barquinho que se move rápido-- eu troquei toda a diretoria". Não houve outras perguntas sobre o tema.
Perto do último bloco, quando a presidente discorria sobre os investimentos em infraestrutura feitos pelo seu governo, Jô Soares reclamou que o ar-condicionado do aeroporto Santos Dumont, no Rio, fazia muito barulho mas não gelava. "Vê se você dá um jeito nisso", disse à presidente. "Pode deixar, Jô", respondeu ela. "E obrigada pela crítica".
Dilma e Jô: bom humor em entrevista cordial(Reprodução/Felipe Moura Brasil/VEJA)
(da redação)
O horário eleitoral de Dilma disfarçado de Programa do Jô
Comentei em tempo real no Twitter a entrevista de Dilma Rousseff a Jô Soares.
Eis as tuitadas:
- Dilma no Jô. Vai ter panelaço, danilaço ou roncaço?
(Uma leitora respondeu: “Namoraço”.)
- Jô Soares tenta se defender da “reputação de petista fanático” por ter saído em defesa de Dilma Rousseff. Acha que defender Dilma é natural.
- Jô Soares diz que Dilma Rousseff é uma leitora compulsiva. E não foi uma piada.
- A única coisa que Dilma conseguiu dizer sobre a Bíblia é que ela tem metáforas.
- João Santana escreveu as perguntas de Jô Soares também?
- Eu vivi para ver Jô questionar Dilma sobre “a pressão dos radicais”. Sim: Dilma, a ex-terrorista “moderada” que sempre lutou pelo comunismo.
- Jô Soares é tão garoto-propaganda de Dilma Rousseff que atribui “machismo” aos seus críticos.
- Dilma em mais um ato-falho: “Vamos fazer o possível para o Brasil voltar a ter uma inflação…”
- Dilma sobre caos em hospitais: “Presidente não pode só se indignar. Tem de fazer.” O que Dilma faz? Culpa o fim da CPMF. Quer mais impostos.
- Dilma: “Pra mim a grande questão do Brasil é educação + educação + educação.” São 12 anos no poder. E Brasil segue na lanterna dos rankings.
- Dilma não disse, mas cortou 9 bilhões de reais da Educação. É mesmo “uma grande questão” para ela.
- Dilma disse que a Petrobras ganhou o Oscar. Só esqueceu de dizer que foi o de Melhor Maquiagem.
- Dilma: “A Petrobras está no caminho certo.” Verdade. O da Justiça americana.
- Dilma não quer que ninguém acabe com o Ministério das Mulheres, “porque ele é simbólico”. O dinheiro dos impostos é “simbólico” para Dilma.
- Jô: “Como você quer ser conhecida pela História?” Dilma: “Como uma pessoa que não abandonou duas coisas: os interesses do seu povo” (a militância do PT) “e a soberania do país” (que seu Foro de São Paulo violou).
- Jô Soares agradece Dilma Rousseff pelo “momento histórico em meus 54 anos de profissão”. Verdade. O marco de um melancólico fim de carreira.
- O melhor momento do horário eleitoral do PT travestido de Programa de Jô foi o intervalo.
Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil
O panorama visto por Delfim
Delfim Netto está preocupado, mas não totalmente pessimista. Estima que neste ano a inflação fechará em torno dos 8%, mas crê que no final de 2016 ela possa ter caído para 4,5%, como pretende o BC.
O que Delfim teme mesmo é a taxa de desemprego. Será muito maior do que as pessoas estão imaginando: “Tudo indica que a rapidez do aumento do desemprego vai surpreender”.
Delfim avalia que o mais importante, no entanto, é Dilma Rousseff recuperar o protagonismo. “Do contrário, será um campo fértil para ideias malucas progredirem”. As críticas ao financiamento às exportações feito pelo BNDES, que acabou virando polêmica em meio ao Petrolão, é uma dessas “ideias malucas” a que ele se refere.
Numa de suas imbatíveis frases de efeito, Delfim resume o drama da presidente: “O problema da Dilma é que quem votou nela não está satisfeito. E quem não votou, está mais insatisfeito ainda”.
Por Lauro Jardim
PT ataca velhos e novos inimigos, mas continua sem rumo
O Congresso do PT que se encerrou neste sábado em Salvador teve aplausos a investigados por corrupção, ataques à imprensa e bravatas do ex-presidente Lula.
O Congresso do PT que se encerrou neste sábado em Salvador teve aplausos a investigados por corrupção, ataques à imprensa e bravatas do ex-presidente Lula. Como novidade, apenas a constatação de que o partido está em uma grave crise e não faz ideia de como sair dela.
"Estamos vivendo um momento muito difícil e delicado", declarou o ex-presidente Lula na sexta-feira. O documento final aprovado pela sigla, bem mais ameno do que se pretendia, também reconhece a situação.
Enfraquecido pelas investigações da Lava Jato e pela baixa popularidade da gestão Dilma Rousseff, o PT transformou a política econômica do governo em alvo principal de suas críticas no congresso. Os grupos mais radicais pediam a cabeça do ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Mesmo nas alas mais pragmáticas, as queixas eram audíveis.
Metade da bancada do PT na Câmara, por exemplo, subscreveu um documento atacando o ajuste fiscal implementado por Dilma. "Este reposicionamento adota políticas de caráter recessivo, com aumento de juros que provoca desaceleração econômica e desemprego", diz a carta. Na abertura do congresso, um grupo da juventude petista chegou a gritar palavras de ordem contra a política econômica do governo.
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No documento final aprovado neste sábado, porém, as críticas ficaram bem mais brandas: "É preciso conduzir a orientação geral da política econômica para a implementação de estratégias para a retomada do crescimento e a defesa dos direitos dos trabalhadores", diz o texto.
Mas a insatisfação é explícita. "Houve crítica, sim, a aspectos da política econômica, embora não personificando criticas em algum ministro ou à presidente Dilma", afirmou o presidente da sigla, Rui Falcão, após o encerramento do congresso.
Para o governo, o dilema é de difícil solução. Se fizer o que precisa para recuperar a economia, a presidente Dilma Rousseff terá de intensificar o aperto nas contas públicas e contrariar ainda mais os petistas. Se fizer o que querem os petistas, pode retomar o apoio dos correligionários mas deixará a economia ainda mais perto do precipício.
Dilma Rousseff alterou seu cronograma de viagens para ir à abertura do congresso, na quinta-feira (em princípio, ela só apareceria no encerramento). A presidente dedicou praticamente todo o seu discurso de quase uma hora de duração à defesa do ajuste fiscal e à tentativa de convencer os petistas de que a melhor saída para o crescimento do país é aquilo que os petistas mais rebeldes apelidaram de Plano Levy - atribuindo ao ministro da Fazenda decisões que só podem partir da presidente da República. A presidente, que entrou no palanque ao lado de Lula para não ser vaiada, recebeu uma recepção fria da militância.
Tampouco no campo da corrupção o PT parece ter encontrado uma saída. A única medida prática tomada pelo partido depois do escândalo do petrolão foi anunciar que passaria a rejeitar o financiamento empresarial de campanha. Mas nem isso subsistiu. A ala majoritária do partido manobrou para impedir que o tema fosse objeto de deliberação no Congresso. Agora, a disposição deve ser enterrada pelo diretório petista.
Para a crise na base aliada no Congresso, a solução defendida por muitos petistas foi o rompimento com o PMDB. Mesmo os defensores da aliança admitiram a fragilidade da parceria. "É claro que a coalizão presidencial está em crise, mas um momento como esse é o momento de acumular força para em 2018 nos elegermos Lula presidente do Brasil", disse o líder do governo na Câmara, José Guimarães (CE). A proposta do rompimento com o partido do vice-presidente Michel Temer não foi incorporada ao texto final do encontro.
A convenção foi menor e menos triunfalista do que os anteriores. Há um ano, a essa altura, a presidente Dilma ainda bradava contra os "pessimistas" que insistiam em ver uma crise econômica a caminho. Desta vez, ficou difícil disfarçar. O país vai mal e o PT, ainda pior.
O presidente do PT Rui Falcão durante o último dia do Congresso Nacional do partido em Salvador - 13/06/2015(Erik Salles/A Tarde/Folhapress)