No Valor: Commodities ainda resistem às turbulências
A grosso modo, a escaladas dessas commodities começou a ganhar fôlego entre 2006 e 2007, na esteira do crescimento da demanda de países emergentes como China e Índia. Diante da farta liquidez, grandes fundos de investimentos ampliaram suas apostas agrícolas nas bolsas de Nova York e Chicago e colaboraram para catapultar a tendência - que perdeu força com o recrudescimento da crise global, em setembro de 2008, mas que deixou como saldo níveis de negociações muito superiores às médias históricas até então praticadas, mantidos com a preciosa colaboração da erosão do dólar.
Esse mesmo quadro, "emoldurado" por ameaças climáticas às ofertas de algumas culturas em regiões importantes de produção - como já aconteceu no ano passado -, ofereceu suporte às cotações em agosto. No caso dos principais grãos, referenciados na bolsa de Chicago, as adversidades mais relevantes estiveram concentradas nos Estados Unidos, onde a safra 2011/12 está em pleno desenvolvimento e a falta de chuvas em áreas do Meio-Oeste ampararam os preços ao longo do mês.
Cálculos do Valor Data baseados nas médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega - normalmente os de maior liquidez - mostram que o milho subiu 9% em agosto em relação a julho e passou a acumular ganhos de 21,52% sobre a média de dezembro e de 71,01% na comparação com a de agosto de 2010. A soja registrou leve ganho sobre julho (0,48%), fechou o mês com viés de alta e aparece com ganhos de 3,08% no ano (resultado da comparação com a média de dezembro) e de 33,79% em 12 meses (relação com a média de agosto de 2010). No trigo, agosto fechou 8,21% acima de julho, a retração no ano caiu para 4,81% e em 12 meses a variação tornou-se positiva (4,68%).
O rol de commodities agrícolas referenciadas em Nova York também sofreu influência de liquidação de contratos nas primeiras semanas de agosto, mas especialmente nos mercados de açúcar e café incertezas do lado da oferta, concentradas no Brasil, aliviaram a pressão. No café a média do mês foi 1,93% superior a de julho; no açúcar, foi 1,87% inferior. O algodão, que virou o ano em patamares recordes, devolveu parte dos ganhos, sob influência do aumento da oferta global, e teve baixa de 2,13%. As previsões de superávit mundial causaram uma queda de 3,93% do, e o fato de a temporada americana de furacões ainda não ter causado grandes prejuízos à citricultura da Flórida levou o suco a recuar 10,77%.
Independentemente das desvalorizações observadas, todos esses produtos negociados na bolsa nova-iorquina acumulam valorizações nos últimos 12 meses e, como no caso dos grãos, os fundamentos de oferta e demanda são, em geral, positivos para os preços. Assim sendo, o afluxo de recursos do mundo financeiro continua. E, depois de adotarem uma postura mais cautelosa em julho, os fundos de investimento voltaram a ser mais agressivos em agosto tanto em Nova York quanto em Chicago.
De acordo com os números da Comissão de Comércio de Futuros de Commodities dos Estados Unidos (CFTC, na sigla em inglês), a posição líquida de compra dos fundos nos mercados de açúcar, café, algodão, soja e milho cresceu 2,93%, para 569,4 mil contratos, nas quatro semanas encerradas no último dia 23. A posição líquida é o saldo entre os contratos de venda, com os quais o investidor aposta na queda dos preços, e os contratos de compra, com os quais tentam antecipar uma alta.
No mercado de soja de Chicago, a posição comprada cresceu 4%, para 118,8 mil contratos, maior volume desde 8 de março. No milho, o saldo cresceu 10,75%, para 275 mil contratos, maior nível desde 21 de junho. Em Nova York, os fundos aumentaram em 19% sua posição em algodão, para 28 mil contratos, e mais do que quintuplicaram seu volume de compra em café, para 10,5 mil contratos - nos dois casos, o maior patamar desde 14 de junho. A exceção ficou por conta do açúcar, o que ajuda a explicar a queda do preço médio de seus contratos de segunda posição na comparação entre agosto e julho. Depois de baterem o recorde deste ano em 26 de julho, os fundos liquidaram posições e reduziram seu saldo de compra para 137 mil contratos, um recuo de 16,5%. Mesmo assim, o volume é 11,5% maior do que a média de 2011 (122,8 mil contratos).