Reservas e espaço para baixar juros são armas do País ante crise
"O mais sensato seria dizer que estamos igualmente preparados, afinal, em 2008, na última crise econômica, o Brasil já apresentava condições propícias para enfrentar a crise", afirmou o professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi) e especialista em mercado financeiro, Fernando Galdi.
De acordo com o Banco Central, na última quarta-feira, o Brasil chegou à marca recorde de US$ 350,9 bilhões de reservas internacionais - o que significa um aumento de cerca de 70% comparado há três anos, quando foi decretada a falência do banco Lehman Brothers. Em julho de 2008, antes da crise, esse número era de US$ 203,562 bilhões. Parte desse aumento se deve à compra de dólares feita pelo Banco Central. Somente em 2011 foram cerca de US$ 45 bilhões.
"O Brasil não tem como sofrer um ataque especulativo, pois o País tem uma grande reserva de dinheiro", disse o economista-chefe da corretora Souza Barros, Clodoir Vieira.
Outro indicador que mostra que as finanças do Brasil estão mais saudáveis é a relação entre a dívida do governo e o Produto Interno Bruto (PIB), que em 2008 era de 30,18% e atualmente está em 26,60%. A taxa de desemprego também está mais baixa agora em comparação há três anos: 6,2% em junho de 2011, contra 7,8% em junho de 2008, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Além disso, segundo o professor de macroeconomia da Escola de Economia da FGV-SP Rogério Mori, o País conta com uma política fiscal ajustada e, caso fosse necessário, poderia diminuir a taxa de juro para aquecer o mercado. "Temos a Taxa Selic em 12,5% hoje, que em uma situação extrema, poderia chegar em torno de 8% para incentivar o consumo e colocar mais dinheiro em circulação."
Experiência
Além dos bons números, o País também tem a seu favor a experiência bem sucedida de ter passado por 2008 e 2009 como umas das nações menos atingidas pela crise. "O Brasil sabe o que deu certo e o que precisava mudar para estar mais fortalecido", afirmou Vieira. Um exemplo positivo foi o incentivo à criação de linhas de crédito e redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para aumentar as vendas de veículos. O resultado foi logo sentido pelo setor automotivo. Em janeiro de 2009, três meses após o início da crise, o crescimento comparado ao mês anterior foi de 3,25%.
Contudo, mesmo com esses pontos a favor, em um cenário de incertezas e com a economia de países importantes como Estados Unidos oscilando, é impossível que o Brasil não sofra nenhum resquício. "Se o País sentir algum efeito será justamente pela posição em que se encontra hoje: um player mundial, importador e grande exportador de commodities que cada vez mais ganha destaque", disse o professor da Fipecafi.
Compare o Brasil de 2008 com o Brasil de 2011
Taxa de desemprego (pelo IBGE)
2008 - 7,8%
2011 - 6,2%
Relação dívida/PIB
2008 - 30,18%
2011 - 28,60%
Taxa de investimento/PIB
2008 - 18,5%
2011 - 18,4%
PIB (ante o ano anterior)
1º trimestre de 2008 - alta de 5,8%
1º trimestre de 2011 - alta de 4,2%
Arrecadação
Junho de 2008 - R$ 55,7 bilhões
Junho de 2011 - R$ 82,7 bilhões
Inflação (pelo IPCA)
Julho de 2008 - 0,53%
Julho de 2011 - 0,16%