Commodities emparedam Brasil entre inflação e comércio

Publicado em 18/02/2011 12:58
Contrário à idéia sinalizada pela França de controle do mercado de commodities na reunião do G20, o Brasil se coloca no paradoxo de defender seu principal item da pauta de exportações, ao mesmo tempo em que trava luta contra a inflação por causa das matérias-primas.

Representante do Brasil no encontro, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, mostrou-se enfático opositor à tese do presidente francês Nicolas Sarkozy de regras para conter a volatilidade dos preços de commodities, pelo risco de distúrbios alimentares e crescimento mundial mais fraco. "Não dá pra botar a culpa nos preços dos alimentos, como alguns países fazem", disse Mantega a empresários na quarta-feira, antes de embarcar para a reunião do G20, que começa nesta sexta-feira, ao mesmo tempo em que tentava convencê-los da eficácia das medidas tomadas pelo governo para debelar a inflação ascendente.

Em dezembro, o BC anunciou medidas para tentar desacelerar o crédito. No mês passado, aumentou a Selic em 0,5 ponto, para 11,25% ao ano. E na semana passada, o governo anunciou um corte recorde de R$ 50 bilhões no Orçamento de 2011. "É a dicotomia que o governo tem que enfrentar", afirmou Jason Vieira, analista internacional da corretora Cruzeiro do Sul. "O Brasil defende o preço alto das commodities porque isso ajuda pelo viés exportador de commodities do Brasil, mas ao mesmo tempo sofre com o processo inflacionário que é cruel".

No ano passado, as exportações de commodities agrícolas do Brasil atingiram o recorde de US$ 76,4 bilhões (ou 38% do total que o País exportou), muito em função dos bons preços de seus produtos no mercado internacional.

Os preços ajudaram a impulsionar as vendas externas do agronegócio, um setor fundamental para a balança comercial do País. Mas a alta das commodities, segundo especialistas, também é fundamental para a nação continuar elevando a sua produção e gerando excedentes exportáveis, na medida em que são um estímulo para agricultores produzirem mais, especialmente em países como o Brasil, que subsidia pouco sua agricultura se comparado com países desenvolvidos como a França. "Em síntese, os preços altos precisam ocorrer para induzir as mudanças necessárias. Representam um custo para a sociedade em geral (Brasil e mundo) no curto prazo, mas as medidas corretivas (crescimento mais lento decorrente do combate à inflação, por exemplo) assegurarão mais crescimento sustentável no futuro", disse o professor Geraldo Sant'ana de Camargo Barros, da Esalq/USP.

A opinião é partilhada pelo ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, hoje coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas, de que os preços altos inexoravelmente elevarão a oferta em algum momento, e são necessários para que o mundo possa atender a crescente demanda das nações emergentes.

Nesse sentido, continuou o professor da USP, "não há medidas corretivas dirigidas ao setor específico que sejam eficazes a curto prazo", como pretende o presidente da França.

Para Vladimir Caramaschi, economista-chefe do Credit Agrícole Brasil, a ideia de tentar limitar as altas nos preços das commodities não tem como ser bem sucedida, uma vez que há uma combinação de fatores que levam ao aumento dos valores e que não serão revertidos tão cedo. "O primeiro é o excesso de liquidez que os BCs dos países desenvolvidos estão colocando no mercado", disse o economista. "O outro é mais estrutural, há uma percepção de que o crescimento global vai continuar sendo liderado por emergentes... e é sabido que os emergentes demandam mais commodities quando crescem."

Fonte: Reuters

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