Editor da "Economist" diz que Brasil deve pressionar China por câmbio

Publicado em 09/11/2010 08:31
Se o Datafolha fizesse uma pesquisa com líderes políticos e empresariais de todo mundo, perguntando qual é a publicação mais influente e lida entre eles, dificilmente a revista britânica "The Economist" não estaria no topo do ranking.

Defensora do liberalismo e criada em 1843, a "Economist" é chefiada desde 2006 por John Micklethwait, 48, que está hoje em São Paulo para participar de um debate sobre o potencial brasileiro.

"Não é justo ficar colocando Brasil sempre ao lado de China e Índia, com escalas tão diversas. Por enquanto, o Brasil é um poder regional em ascensão, como são Indonésia, Turquia", diz.

A revista apoiou em editorial o candidato derrotado José Serra, "porque ele teria mais ambição por fazer as reformas engavetadas por Lula", diz. "Dilma pode ser mais intervencionista ou até surpreender, como Lula."

O jornalista britânico passou boa parte das últimas duas décadas escrevendo sobre os EUA. Seu último livro, "The Right Nation" (trocadilho entre a "nação certa" e a palavra "direita" em inglês), conta a ascensão do conservadorismo americano.

Pressão brasileira
Não sou pessimista com o G20 porque minhas expectativas com o sucesso desse encontro são bem baixas. Mas o Brasil deveria pressionar mais a China, junto com os demais emergentes. Mas a China foi bem eficiente em culpar exclusivamente os EUA. A emissão de dólares dos EUA certamente não ajuda, mas o Brasil precisa lembrar a responsabilidade chinesa, pois as manufaturas muito baratas prejudicam a indústria brasileira. O desequilíbrio é culpa dos dois, não só dos EUA.

Potência regional
Por enquanto, Brasil, China e Índia criaram uma situação em que todos ganham. O que o Brasil vende eles não têm. E a agricultura brasileira é muito mais produtiva que a chinesa ou a indiana.

Dependência chinesa
A balança brasileira está muito dependente da China. O Brasil precisa de produtos de maior valor agregado. A agricultura é fantástica, então tem que fazer produtos finalizados, ter marcas. O setor de serviços pode se internacionalizar. O sistema bancário pode ser muito forte na América Latina.

Declínio americano
É muito cedo para decretar o declínio absoluto dos EUA. Estão em meio a uma recessão séria, mas onde as pessoas mais talentosas do mundo querem estudar? Em que empresas querem trabalhar?

É sério que houve mudanças. Reagan falava coisas extremas, mas tinha lido Hegel, algo que não posso falar de Sarah Palin. O achado de Murdoch foi criar uma rede de comunicação para um público conservador que era sub-representado na mídia.

Sempre suspeito quando dizem que em 2025 a China será o maior império do mundo. Não será uma evolução em linha reta. Há desafios na urbanização, na religião e choques com os vizinhos, muitas dificuldades no caminho.

*Europa subestimada *
Também acho que muita gente está subestimando a Europa. Ela tem um problema sério de pessimismo, mas tem os trabalhadores mais qualificados. Se desregular seu setor de serviços, ele vai virar um gigante.

A Europa já sofreu grandes problemas e tem uma capacidade de se reinventar e de reconstrução enormes.

Alemanha e Europa anglosaxônica avançarão mais. Mesmo os franceses, que foram às ruas lutar contra a aposentadoria mínima aos 62 anos, também sabem que precisam mudar.

Inteligência de massa
O fenômeno da globalização ajuda muito a "The Economist". Nossa tiragem tem crescido muito, já supera 1,5 milhão por semana. Temos 30 correspondentes internacionais, uma cobertura realmente global, então é normal que muitos brasileiros ou indianos nos leiam. Vivemos a ascensão da "inteligência de massas". Reclamamos do sucesso das revistas de celebridades e fofocas, do baixo nível da TV, mas nunca tanta gente no planeta foi à universidade, leu ou teve tanto acesso à informação.

Jornalismo
Estamos virando blogueiros e aprendendo multimídia. Mas, para 90% da equipe, o que busco são as habilidades do jornalismo de sempre: inteligência para pensar em novas dimensões sobre tudo.

Fonte: Folha Online

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