Investimento não decola no país, apesar de ações do governo

Publicado em 22/11/2009 08:16
Medidas anticíclicas apenas impediram retrocesso; desoneração conseguiu manter consumo interno em alta e reativar economia Para o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, falta de aumento da capacidade produtiva é a "grande fragilidade" futura do país, por MARCIO AITH


O Brasil não teve uma, mas duas estratégias de enfrentamento da crise mundial.
A primeira envolveu a liberação maciça de recursos para impedir a quebra de instituições financeiras, restaurar o crédito bancário e assegurar o financiamento às exportações.
A segunda visou preservar o nível de consumo, a qualquer preço. Para isso, o governo reduziu impostos, como o IPI do setor automotivo, e elevou o volume de empréstimos concedidos por bancos oficiais.
À primeira estratégia deve-se o fato de os bancos brasileiros e o comércio exterior terem resistido à brutal contração de crédito externo com, relativamente, poucas avarias.
Já a segunda estratégia foi responsável pela rápida recuperação do nível de emprego e pelo fato surpreendente de a massa salarial do país não ter caído durante toda a crise.
É difícil calcular o custo do pacote anticrise porque grande parte do dinheiro liberado não pertencia ao governo, mas aos próprios bancos -caso do compulsório. O cálculo usado pelo governo é de 1,5% do PIB, cerca de US$ 28 bilhões, o menor patamar entre os países do G20.

Pouco investimento
A estratégia brasileira é considerada um sucesso mundo afora. Diferentemente da China, no entanto, o Brasil não conseguiu fazer decolar sua taxa de investimento. Nesse campo, a ação anticíclica do BNDES apenas impediu um retrocesso.
"Os investimentos em infraestrutura continuam baixíssimos", diz o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros. "Aí está a grande fragilidade, olhando para a frente: tivemos uma recuperação 100% movida pelo consumo, sem aumento da capacidade produtiva."
O Tesouro capitalizou o BNDES com R$ 100 bilhões, destinados a elevar o financiamento de grandes projetos de infraestrutura. No entanto, questões regulatórias e ambientais, entre outros fatores, têm brecado o impulso que o governo prometeu que daria nos investimentos.
O economista elogia a forma como o Banco Central lidou com a crise. Mas credita o sucesso brasileiro mais à característica "do carro" do que "à habilidade dos pilotos".
"Só foi possível baixar o compulsório dos bancos porque a exigência de compulsório no país era muito alta", disse. "E o aumento do crédito público só foi eficiente porque eles já eram fortes no país. Nos Estados Unidos, por exemplo, esses instrumentos não estavam à disposição do governo."
A resposta mais imediata à crise, do Banco Central, envolveu a liberação de depósitos compulsórios (R$ 98,8 bilhões), o uso de reservas para financiar os exportadores (U$ 24,4 bilhões), a venda de dólares no mercado à vista (US$ 14,5 bilhões) e a oferta de swaps cambiais (US$ 33 bilhões).
Quando a crise veio, o Brasil tinha US$ 205,1 bilhões em reservas internacionais. Em fevereiro, elas caíram para US$ 199 bilhões, o menor valor desde então. Depois voltaram a subir. Na última terça-feira, estavam em US$ 235,8 bilhões.
No campo fiscal, a desoneração de impostos para estimular a economia custou R$ 25 bilhões. As medidas concentraram-se nos setores automotivo e de eletroeletrônicos.

Fonte: Folha de S. Paulo

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