Dólar termina semana com valor recorde de R$6,0012 no fechamento

Publicado em 29/11/2024 17:29 e atualizado em 29/11/2024 18:08

Por Fabricio de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - Declarações favoráveis dos presidentes da Câmara e do Senado ao pacote fiscal do governo tiraram boa parte da pressão sobre o câmbio nesta sessão, mas ainda assim o dólar voltou a subir ante o real nesta sexta-feira, renovando recordes.

O dólar à vista fechou o dia com alta de 0,17%, cotado a 6,0012 reais -- maior valor nominal de fechamento da história e pela primeira vez acima dos 6,00 em um encerramento de sessão. Na semana a divisa dos EUA acumulou alta de 3,21%.

Às 17h46, o dólar para janeiro -- que nesta sessão passou a ser o mais líquido -- cedia 0,80%, aos 5,9991 reais.

O dia começou novamente com forte alta do dólar ante o real e de abertura firme da curva a termo, com o mercado ainda reagindo negativamente a uma medida específica do pacote fiscal: a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até 5 mil reais por mês.

Como em dias anteriores, a percepção negativa desta medida se sobrepunha às demais ações de cortes de despesas anunciadas pelo governo, cuja projeção é de uma economia de 71,9 bilhões de reais em dois anos.

No mercado de câmbio o movimento era amplificado pela disputa pela formação da Ptax de fim de mês. Calculada pelo BC com base nas cotações do mercado à vista, a Ptax serve de referência para a liquidação de contratos futuros. No fim de cada mês, agentes financeiros tentam direcioná-la a níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas (no sentido de alta das cotações) ou vendidas em dólar (no sentido de baixa).

Neste cenário, o dólar à vista atingiu 6,1168 reais às 10h16 -- maior cotação da história e também para o dia.

O cenário somente mudou no início da tarde, quando os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), foram a público fazer sinalizações favoráveis ao pacote, tentando desvinculá-lo da proposta de isenção de IR.

"Qualquer outra iniciativa governamental que implique em renúncia de receitas será enfrentada apenas no ano que vem, e após análise cuidadosa e sobretudo realista de suas fontes de financiamento e efetivo impacto nas contas públicas. Uma coisa de cada vez. Responsabilidade fiscal é inegociável", disse Lira em publicação no X.

Por sua vez, Pacheco afirmou que "a questão de isenção de IR, embora seja um desejo de todos, não é pauta para agora e só poderá acontecer se (e somente se) tivermos condições fiscais para isso”.

Os comentários aparentemente coordenados de Lira e Pacheco fizeram o dólar virar para o território negativo, com parte do mercado aproveitando as declarações para vender moeda e embolsar os lucros recentes. Às 12h57 o dólar à vista atingiu a mínima do dia de 5,9568 reais (-0,57%).

Também no início da tarde, durante evento em São Paulo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a defender o pacote fiscal e deixou claro que ele não é o "gran finale" do esforço do governo para o ajuste das contas públicas. "A caixa de ferramentas é infinita", afirmou.

No mesmo evento, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, reforçou que a autarquia não defende um nível para a taxa de câmbio e que só intervém no mercado em caso de disfuncionalidades.

Nos últimos dias, profissionais do mercado ouvidos pela Reuters chegaram a afirmar que o BC deveria realizar leilões de dólares para segurar pressão no mercado.

"Sempre explicamos que o BC atua no câmbio em função de disfuncionalidades", afirmou Galípolo em relação às atuações do BC no câmbio. Na sequência, acrescentou que no caminho até o evento conversou com o atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, sobre o assunto. "Estava trocando ideia no carro com Roberto sobre o tema", disse Galípolo, sem se aprofundar na questão.

Na reta final do dia, o dólar voltou para o território positivo, novamente na contramão do que se via no exterior, onde a moeda norte-americana cedia ante a maioria das demais divisas. Às 17h44, o índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- caía 0,36%, a 105,690.

Fonte: Reuters

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Ibovespa fecha em alta, mas tem maior perda semanal deste setembro com preocupação fiscal
Dólar termina semana com valor recorde de R$6,0012 no fechamento
S&P 500 e Dow Jones fecham em recordes com  impulso de ações de tecnologia
Vendas de diesel no Brasil batem recorde em outubro, diz ANP
Europeu STOXX 600 avança com ações de tecnologia
Galípolo diz que BC não defende nível de câmbio e só atua em caso de disfuncionalidade
undefined