O que está em jogo para os mercados globais com Presidência de Trump
(Reuters) - Com Donald Trump de volta à Casa Branca, o dólar e o mercado acionários devem ser favorecidos, mas uma Presidência republicana pode pesar sobre os títulos, os mercados emergentes, a energia limpa e os investimentos sustentáveis.
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MOEDAS
A Presidência de Trump deve fortalecer o dólar, com os investidores esperando que suas políticas levem a uma inflação e a um crescimento mais altos do que teriam sido em um governo da democrata Kamala Harris. Isso significará que o Federal Reserve precisará manter os juros elevados para evitar o superaquecimento da economia.
Ao mesmo tempo, os planos de Trump de impor tarifas sobre o comércio, forçar os aliados europeus a pagar mais pela defesa e a desconfiança em relação às instituições multilaterais provavelmente deprimirão o crescimento em outras partes do mundo, aumentando o fascínio do dólar.
Analistas esperam uma queda acentuada do euro, possivelmente abaixo do nível de 1 dólar, se houver tarifas e cortes de impostos domésticos.
Com a expectativa de que o governo Trump adote uma linha mais suave na regulamentação de criptomoedas, o bitcoin é outro favorecido em potencial. A maior criptomoeda do mundo atingiu um recorde histórico nesta quarta-feira.
AÇÕES
A promessa de Trump de menos regulamentação e impostos mais baixos para as grandes corporações, mais produção de petróleo e uma política de imigração rígida apontam para um crescimento e uma inflação mais fortes, vistos como positivos para as ações. Setores como bancos, tecnologia, defesa e combustíveis fósseis provavelmente serão beneficiados.
Seu plano de reduzir a alíquota do imposto corporativo de 21% para 15% aumentaria os lucros das empresas do S&P 500 em cerca de 4%, segundo estimativas do Goldman Sachs.
Mesmo assim, ainda não está claro quanto do plano de corte de impostos de Trump será aprovado pelo Congresso. Ao mesmo tempo, suas políticas protecionistas e sua postura rígida em relação à China aumentariam os custos, reduziriam a lucratividade e prejudicariam as empresas multinacionais.
Fora dos Estados Unidos, um dólar forte, o aumento da taxa de juros dos EUA e as tensões comerciais significarão que os setores defensivos se sairão melhor e que as empresas multinacionais com exposição aos mercados dos EUA sofrerão um golpe.
Os setores expostos a mudanças tarifárias, como semicondutores, automóveis e energia limpa, provavelmente ficarão voláteis. Os investidores que se anteciparam ao resultado da eleição saíram das ações japonesas, onde as montadoras dominam, e das ações europeias de veículos elétricos e chips.
O Barclays alertou sobre possíveis quedas percentuais de "um dígito alto" nos lucros europeus caso os conflitos comerciais voltem a ocorrer. É provável que o setor de defesa da Europa tenha um resultado misto, depois que Trump disse que vai acabar com a guerra na Ucrânia, mas também afirmou que os aliados europeus precisam gastar mais em defesa.
TÍTULOS
Os investidores têm ficado cada vez mais alarmados com a escala da dívida do governo dos EUA e com os déficits fiscais que se somam a ela, com a preocupação de que isso aumente os custos dos empréstimos, ou os rendimentos dos Treasuries.
Os planos de gastos de Trump poderiam acrescentar 7,5 trilhões de dólares ao déficit em 10 anos, de acordo com uma estimativa, muito maior do que o proposto por Kamala. Os rendimentos dos Treasuries subiram quase 50 pontos-base em outubro, quando os mercados estavam precificando uma probabilidade maior de vitória de Trump.
As pressões inflacionárias das políticas de Trump deixariam o Fed com menos espaço para cortar os juros, o que manteria os rendimentos dos Treasuries elevados.
MERCADOS EMERGENTES
Mesmo antes da eleição, as preocupações com as políticas de Trump já pesavam sobre as economias emergentes. Além das tarifas sobre a China, Trump disse que aplicaria uma tarifa de até 200% sobre as importações de veículos mexicanos. O peso mexicano poderia se enfraquecer além de 21 por dólar, níveis não vistos em mais de dois anos, segundo analistas.
Outro possível problema para os mercados emergentes: o vice-presidente de Trump, JD Vance, propôs um imposto de 10% sobre as remessas de dinheiro, importante para muitas economias latino-americanas.
O real e o rand da África do Sul, e os mercados de ações desses países, ficam vulneráveis se houver aumento de tarifas, assim como os fabricantes de chips de Taiwan, Coreia do Sul e outros que produzem para as empresas chinesas de tecnologia.
A liquidação dos títulos do Treasury e a alta do dólar também sugarão o dinheiro dos mercados emergentes e forçarão políticas monetárias mais rígidas em muitos países.
As economias emergentes com crescimento interno e histórias de reformas, como a Índia ou a África do Sul, podem se beneficiar e se tornar um refúgio em cenários globais voláteis. O Chile, produtor de cobre e lítio, poderá ser amplamente poupado devido à natureza menos substituível de suas exportações.
COMMODITIES
Trump terá como objetivo maximizar a perfuração de petróleo e gás nos EUA, expandindo o arrendamento federal e revertendo a regulamentação ambiental sempre que possível - uma agenda política que praticamente garante que o país continuará sendo o maior produtor de petróleo do mundo. Essa oferta robusta poderia ajudar a manter os futuros do petróleo bruto nos EUA, que caíram cerca de 4% até agora neste ano, relativamente baixos.
Por outro lado, é provável que ele aumente a aplicação das sanções contra o Irã, o que poderia reduzir uma parte da oferta mundial de petróleo bruto. Ele também disse que vai encher a Reserva Estratégica de Petróleo a níveis nunca vistos antes, o que pode dar suporte aos preços à medida que o governo entra nos mercados.
A soja também está na mira. Os comerciantes dos EUA estavam correndo para embarcar uma safra recorde antes da eleição, em meio a temores de novas tensões comerciais com a China, o maior importador de soja do mundo. A China, que não conseguiu cumprir totalmente um acordo de 2020 com o governo Trump para comprar mais produtos agrícolas dos EUA, comprou menos soja norte-americana neste ano comercial e quase nenhum milho. Os preços da soja caíram 25% em comparação com um ano atrás.
(Por Vidya Ranganathan, Dhara Ranasinghe, Matt Tracy, Ross Kerber e Richard Valdmanis)