Dólar fica estável frente ao real apesar de apetite por risco no exterior

Publicado em 27/09/2024 10:25 e atualizado em 27/09/2024 10:55

Por Fernando Cardoso

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar rondava a estabilidade frente ao real nesta sexta-feira, à medida que investidores mostravam pessimismo com o cenário doméstico, apesar do apetite por risco no exterior em meio a promessas de novas medidas de estímulo econômico na China e dados de inflação dos Estados Unidos.

Às 10h14, o dólar à vista subia 0,02%, a 5,4462 reais na venda. Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento tinha alta de 0,25%, a 5,455 reais na venda.

Nesta sessão, o real tinha dificuldades de acompanhar a força de seus pares emergentes, uma vez que o mercado nacional voltava a elevar os prêmios de risco para o país em meio a novos indícios de aceleração da inflação nos próximos meses e preocupações com o cenário fiscal.

Dados da Fundação Getulio Vargas mostraram mais cedo que o Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M) acelerou mais do que o esperado por analistas em setembro, em alta de 0,62%, depois de ter avançado 0,29% no mês anterior.

A expectativa em pesquisa da Reuters com analistas era de alta de 0,47%. Com o resultado do mês, o índice, que calcula os preços ao produtor, consumidor e na construção civil entre os dias 21 do mês anterior e 20 do mês de referência, passou a acumular em 12 meses alta de 4,53%.

A preocupação com a dinâmica da inflação tinha impactos na curva de juros brasileira, com os juros futuros registrando altas nesta sessão, em meio a perspectiva de riscos para aceleração da inflação.

Também continuava no radar o cenário fiscal brasileiro, com agentes financeiros ainda demonstrando preocupação com o compromisso do governo com o ajuste das contas públicas, enquanto persegue a meta de déficit primário zero deste ano.

"Vejo muita cautela ainda com o cenário fiscal, e isso está nitidamente limitando a recuperação de nossos ativos locais", disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.

As atenções se voltavam ainda para eventos com membros do Banco Central, incluindo o diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, e o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto.

No cenário externo, por outro lado, o dólar seguia sendo prejudicado pela busca de ativos de maior risco no exterior, com o otimismo elevado em uma semana marcada pelo anúncio de medidas para impulsionar a economia da China, maior importador de matérias-primas do planeta.

Desde terça-feira, quando o Banco do Povo da China divulgou medidas de afrouxamento monetário a fim de fomentar os investimentos na segunda maior economia do mundo, os mercados globais têm experimentado ganhos devido à expectativa de maior demanda vinda do enorme mercado consumidor chinês.

O impulso foi renovado na véspera, quando membros do Politburo do Partido Comunista Chinês prometerem "gastos fiscais necessários" para atingir a meta de crescimento econômico deste ano, de aproximadamente 5%.

O efeito do estímulo chinês era mais evidente em mercados emergentes, cujas moedas dependem diretamente do desempenho dos preços de commodities. As altas de produtos importantes, como o minério de ferro, puxados pela perspectiva de demanda chinesa, tornava os ativos de países emergentes mais atrativos.

Com isso, o dólar recuava ante o peso mexicano, o peso chileno e o rand sul-africano.

O índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- caía 0,41%, a 100,190.

Os mercados de câmbio ainda receberam nesta manhã um novo fator positivo, após dados mostrarem que o núcleo da medida preferida de inflação do Federal Reserve teve uma alta menor do que o esperado em agosto, fortalecendo as apostas de um corte grande de juros em novembro,

O Departamento de Comércio informou que o índice PCE subiu 0,1%, em linha com o esperado por economistas consultados pela Reuters. O núcleo do índice, por outro lado, avançou abaixo do esperado, a 0,1%, ante projeção de alta de 0,2%.

Em 12 meses, o núcleo do PCE atingiu 2,7% em agosto, mesmo nível do mês anterior.

Após os dados, operadores colocavam 54% de chance de um corte de 50 pontos-base na reunião de novembro do Fed, acima dos 49% de probabilidade projetados mais cedo.

Fonte: Reuters

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