Ibovespa engata quinta queda consecutiva com receios sobre fiscal no radar
Por Patricia Vilas Boas
SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa fechou em queda nesta segunda-feira, seu quinto pregão consecutivo de declínio, com deteroriação da percepção fiscal no país diante de ajustes na contenção de gastos pelo governo, na contramão da alta nas bolsas norte-americanas.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa recuou 0,38%, a 130.568,37 pontos, menor patamar de fechamento desde 8 de agosto. Na mínima da sessão, chegou a 130.099,62 pontos. Na máxima, marcou 131.065,44 pontos. O volume financeiro no pregão somou 19,6 bilhões de reais.
Investidores repercutiram nesta segunda o anúncio de sexta-feira sobre a contenção total de verbas de ministérios -- que será reduzida de 15 bilhões de reais para 13,3 bilhões de reais, com ganhos de arrecadação compensando uma alta de gastos obrigatórios.
Em entrevista coletiva para comentar o relatório bimestral de receitas e despesas, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, afirmou nesta segunda-feira que há incômodo na equipe econômica do governo em relação a uma "irracionalidade" na percepção de agentes econômicos sobre a gestão fiscal.
No front de juros, agentes financeiros mencionaram um tom "mais duro" do Comitê de Política Monetária (Copom) após a elevação da taxa Selic em 25 pontos-base na semana passada. Analistas consultados pelo Banco Central subiram sua projeção para o nível da Selic ao fim deste ano, prevendo agora uma alta de 50 pontos-base nos juros na próxima reunião da autarquia, em novembro, conforme pesquisa Focus divulgada nesta segunda.
Na visão de analistas do Itaú BBA, o Ibovespa "deu um até logo" para a tendência de alta no curto prazo. "O que pode segurar o mercado por aqui é que sob a visão do estrangeiro, o EWZ e o Ibovespa em dólar ainda não perderam suportes", afirmaram Fábio Perina, Lucas Piza e Igor Caixeta no relatório Diário do Grafista.
Nos Estados Unidos, os índices acionários encerraram levemente positivos, em meio a comentários de autoridades do Federal Reserve e dados estáveis de atividade empresarial, partindo da forte alta do mercado na semana passada, após a decisão do banco central norte-americano de reduzir os juros.
"A expectativa de longo prazo para a trajetória dos juros, tanto no Brasil quanto nos EUA, continuará sendo um elemento-chave para determinar os movimentos futuros do mercado financeiro brasileiro", afirmou Fábio Murad, sócio da Ipê Avaliações, em comentários.
DESTAQUES
- SANTOS BRASIL ON saltou 16,44%, em meio ao anúncio de que a gigante francesa do transporte marítimo CMA CGM acertou acordo para comprar 47,6% da companhia por 6,3 bilhões de reais. A empresa francesa também se comprometeu a lançar uma oferta pública de aquisição das ações remanescentes da Santos Brasil.
- VALE ON subiu 0,31%, mesmo em meio ao declínio dos futuros do minério de ferro na China, com o contrato mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian encerrando as negociações diurnas em queda de 4,5%, a 658,5 iuanes a tonelada. A mineradora anunciou na sexta-feira que seu novo presidente, Gustavo Pimenta, assumirá o cargo em 1º de outubro.
- PETROBRAS PN subiu 1,02%, apesar da reversão durante a sessão da tendência de alta dos preços do petróleo no exterior, com o barril de Brent encerrando em queda de 0,8%, a 73,90 dólares.
- ITAÚ UNIBANCO PN caiu 0,58% e BRADESCO PN perdeu 2,58%, ambas selando seu sexto pregão seguido de queda. No setor, BTG PACTUAL UNIT desvalorizou-se 1,62%.
- USIMINAS PN perdeu 4,76%, com JP Morgan rebaixando o papel para "underweight" e reduzindo preço-alvo de 11 reais para 5,50 reais. Analistas citaram custos de produção ainda elevados, apesar da reforma do alto-forno 3 em Ipatinga (MG), um mercado global de aço ainda pressionado por altos níveis de exportação da China e uma revisão para baixo das projeções do banco para os preços do minério de ferro em 2024, 2025 e 2026.
- WEG ON subiu 3,43%, na esteira de relatório de analistas da BB Investimentos apontando para oportunidade de compra da ação em estratégia de swing trade. Na semana passada, a companhia anunciou investimento de 670 milhões de reais nos próximos cinco anos em expansão de capacidade e verticalização de negócios com transformadores e motores elétricos no Brasil e no México.