Taxas de juros a partir de 2026 caem sob influência externa; DIs curtos precificam alta da Selic
Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs fecharam a segunda-feira em queda firme nos contratos a partir de janeiro de 2026, em uma sessão marcada pela baixa dos rendimentos dos Treasuries e por nova redução da expectativa do mercado para a inflação no Brasil em 2025, conforme o relatório Focus.
Entre os contratos de curtíssimo prazo as taxas voltaram a ficar muito próximas da estabilidade, com a curva a termo precificando alta da taxa básica Selic em setembro, na esteira de novas declarações do diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo.
No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2025 -- que reflete a política monetária no curtíssimo prazo -- estava em 10,845%, em alta de 1 ponto-base ante 10,834% do ajuste anterior.
Já a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 11,56%, em queda de 9 pontos-base ante 11,652% do ajuste anterior, enquanto a taxa para janeiro de 2027 estava em 11,405%, em baixa de 16 pontos-base ante 11,565%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 11,39%, ante 11,48%, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 11,37%, ante 11,451%.
Os rendimentos dos Treasuries se firmaram em queda já no início do dia, com investidores avaliando que os dados mais recentes apontam para a proximidade do início de corte de juros pelo Federal Reserve. O movimento era acompanhado pela busca de ativos de maior risco nos mercados globais, como ações e moedas de países emergentes.
“A ideia de que os EUA estão desacelerando, mas de maneira suave, com inflação convergindo, cria este cenário muito propício para os mercados. É o famoso 'soft landing' (pouco suave)”, disse o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, em comentário enviado a clientes.
No Brasil, em meio ao recuo dos yields e à queda do dólar ante o real, as taxas dos DIs cederam na maior parte da curva a termo. A queda da expectativa de inflação para 2026, de acordo com o relatório Focus, corroborou o movimento.
No Focus, a projeção de inflação para 2024 subiu de 4,20% para 4,22%, mas para 2025 cedeu de 3,97% para 3,91% -- a segunda queda semanal consecutiva. No caso da taxa básica Selic, a projeção do Focus seguiu em 10,50% para o fim deste ano e passou de 9,75% para 10,00% no fim de 2025. Atualmente a Selic está em 10,50% ao ano.
“Lá fora o mercado está tranquilo, com o petróleo caindo e as taxas dos Treasuries recuando um pouco. É um ambiente que dá margem para o mercado repercutir o Focus”, comentou durante a tarde Luciano Rostagno, estrategista-chefe e sócio da EPS Investimentos, ao justificar a baixa das taxas dos DIs.
“Há uma combinação de dólar se enfraquecendo e expectativas (de inflação) diminuindo, o que aumenta a chance de o BC não ter que subir juros, apesar do reforço de hoje do Galípolo”, acrescentou Rostagno, lembrando que, a despeito da redução recente de prêmios, a curva brasileira segue precificando chances majoritárias de alta da Selic em setembro.
Em evento em Belo Horizonte no início da tarde, Galípolo disse que o BC vai aguardar as próximas quatro semanas até o encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) de setembro para obter "o máximo de dados", reforçando que todas as opções sobre a Selic estão na mesa.
Na apresentação, ele reafirmou que considera o balanço de riscos para a inflação à frente no país assimétrico, com mais riscos de alta, mas enfatizou que esse posicionamento não representa orientação futura para a condução dos juros.
Na visão do mercado a fala de Galípolo reforçou que a possibilidade de alta da Selic está de fato sob a mesa para a reunião de setembro, o que não trouxe alívio para a precificação: a taxa do DI para janeiro de 2025 novamente pouco se afastou da estabilidade.
Perto do fechamento a curva a termo brasileira precificava 90% de probabilidade de alta de 25 pontos-base da Selic no próximo encontro do Copom, em setembro. Os outros 10% estavam precificados na probabilidade de alta de 50 pontos-base da Selic. Na sexta-feira eram 94% para alta de 25 pontos-base e 6% para manutenção da Selic em 10,50%.
No exterior, com menos indicadores previstos na agenda da semana, a expectativa se concentra na divulgação da ata do último encontro de política monetária do Fed, na quarta-feira, e na participação do chair do Federal Reserve, Jerome Powell, no simpósio de Jackson Hole, na sexta-feira.
Às 16h37 ,o rendimento do Treasury de dez anos -- referência global para decisões de investimento -- caía 3 pontos-base, a 3,864%.