Campos Neto diz que desancoragem de expectativas do mercado preocupa BC e defende cumprimento da meta de inflação

Publicado em 13/08/2024 14:07 e atualizado em 13/08/2024 15:02

 

Por Bernardo Caram

BRASÍLIA (Reuters) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reafirmou nesta terça-feira que a desancoragem das expectativas do mercado para a inflação preocupa a autoridade monetária, acrescentando que a autarquia deve estar sempre atenta à sua missão de cumprir a meta para a evolução dos preços.

Falando em audiência pública conjunta das Comissões de Desenvolvimento Econômico e de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, Campos Neto voltou a afirmar que o BC tem atuado de forma técnica e autônoma.

O presidente da autoridade monetária argumentou que o combate à inflação tem avançado, mas ainda é preciso "perseverança" no trabalho em meio ao processo de desancoragem das projeções do mercado para os preços à frente.

"A gente tem tido uma desancoragem, ou seja, as expectativas têm subido. Isso obviamente é um fator que preocupa o Banco Central", disse.

"É importante que o Banco Central esteja sempre atento à missão de cumprir a meta (de inflação)."

Ele citou que além da desancoragem das expectativas, houve no período recente um início de alta na inflação corrente acumulada em 12 meses, com itens menos voláteis também começando a "apontar um pouquinho para cima".

Enquanto a inflação acumulada em 12 meses apresentou alta em julho, alcançando o teto de 4,5% da meta de inflação, as expectativas do mercado para o IPCA estão em 3,97% para 2025 e 3,60% para 2026, segundo o boletim Focus. As projeções do BC também apontam para uma inflação acima do centro da meta de 3%.

Na audiência, Campos Neto também afirmou que o Brasil está em uma realidade na qual a taxa neutra de juros -- que não estimula nem retrai a economia -- é de 5%, destacando que "não sou eu que estou dizendo, o mercado acha, os bancos acham".

O patamar citado por ele é mais alto do que o considerado pelo BC, que atualmente trabalha com uma hipótese de taxa real neutra de 4,75%, patamar alcançado após ter sido elevado em 0,25 ponto percentual em junho.

Em relação ao tema fiscal, o presidente do BC afirmou que a expectativa do mercado para as contas públicas nos próximos anos é de difícil cumprimento de meta, apesar dos esforços do governo, questão que adiciona prêmio de risco ao país.

Ele avaliou que uma percepção de que as contas públicas estão desorganizadas dificulta o processo de convergência da inflação à meta, acrescentando que o custo de estabilizar os preços é mais alto se houver um desentendimento sobre os compromissos fiscal e monetário do país.

(Por Bernardo Caram, em Brasília; Reportagem adicional de Fernando Cardoso, em São Paulo)

Fonte: Reuters

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