Taxas longas de juros futuros caem após fala de Galípolo e novas quedas no dólar e em rendimentos de Treasuries

Publicado em 09/08/2024 17:13

Por Fabricio de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs fecharam a sexta-feira em baixa firme entre os contratos a partir de janeiro de 2026, em mais um dia de queda do dólar ante o real e de recuo dos rendimentos dos Treasuries no exterior, em movimento ajudado ainda por declarações duras feitas na véspera pelo diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo.

Estes fatores baixistas acabaram por deixar em segundo plano durante o dia a inflação medida pelo IPCA, que veio acima do esperado. Ainda assim, as taxas de curtíssimo prazo encerraram em alta, precificando chances maiores de alta da Selic em setembro.

No fim da tarde desta quarta-feira a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2025 -- que reflete a política monetária no curtíssimo prazo -- estava em 10,745%, em alta de 6 pontos-base ante os 10,685% do ajuste anterior.

Já a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 11,525%, ante 11,57% do ajuste anterior, enquanto a taxa para janeiro de 2027 estava em 11,545%, ante 11,691%. Entre os contratos mais longos a taxa para janeiro de 2031 estava em 11,62%, ante 11,846%, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 11,6%, ante 11,83%.

Na abertura da sessão o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o índice oficial de inflação, o IPCA, subiu 0,38% em julho, registrando a maior taxa desde fevereiro, após alta de 0,21% em junho. No acumulado de 12 meses até julho, o IPCA teve alta de 4,50%, ficando no teto da meta de inflação do Banco Central.

Os números vieram um pouco acima das expectativas apontadas por economistas em pesquisa da Reuters, de aumento de 0,35% em julho e de alta de 4,47% em 12 meses.

Apesar dos números do IPCA um pouco piores que o esperado, as taxas dos DIs cediam desde cedo na maioria dos vencimentos, refletindo mais diretamente nova queda do dólar ante o real e a baixa dos yields dos Treasuries.

“O IPCA não deu motivo para fechamento da curva brasileira. Ele veio acima das expectativas, trouxe alguns sinais de alerta para a inflação, mas lá fora temos um dia tranquilo, com os rendimentos dos Treasuries recuando”, comentou durante a tarde Luciano Rostagno, estrategista-chefe e sócio da EPS Investimentos.

“A semana fecha de forma positiva, reforçando as apostas de corte de juros pelo Federal Reserve a partir de setembro, com possibilidade significativa de redução de 50 pontos-base, e o mercado coloca isso na curva”, acrescentou Rostagno.

O cenário global mais positivo também influenciava a nova queda do dólar ante o real, com a moeda norte-americana chegando a oscilar abaixo dos 5,50 reais no mercado à vista.

“Está havendo um ‘risk-on’ (busca por risco) no mercado global, que favorece as moedas emergentes. Assim, o câmbio está ajudando bem no fechamento da curva, com o dólar abaixo de 5,50 reais”, pontuou o economista-chefe do banco Bmg, Flavio Serrano.

Em seu último encontro, quando manteve a taxa básica de juros em 10,5%, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC traçou seu cenário de referência para a inflação com base em um dólar a 5,55 reais -- um valor acima do visto nesta sexta-feira.

Outro fator para a queda firme das taxas dos DIs, em especial os de longo prazo, foram as declarações dadas na véspera por Galípolo, consideradas duras com a inflação por profissionais do mercado.

Ele reforçou que os diretores do BC estão dispostos a fazer “aquilo que for necessário” para perseguir a meta de inflação e que as bandas do regime “não foram desenhadas para reduzir o esforço na persecução” do centro da meta.

“A curva de juros reagiu a isso, o juro longo caiu... Toda a ponta longa indo para baixo, reagindo a esta fala mais dura”, avaliou durante a manhã o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, em comentário enviado a clientes. “Ele (Galípolo) quis deixar claro que o BC está preparado: se precisar subir juros, vai subir juros”, acrescentou.

Esta percepção de um BC mais duro, disposto a elevar a Selic se for necessário, acabou por favorecer um movimento misto para a curva, com as taxas curtíssimas em alta, mas as longas em baixa.

Assim, perto do fechamento a curva brasileira precificava 20% de probabilidade de manutenção da Selic em 10,50% ao ano em setembro, na próxima reunião do Copom. A probabilidade de alta de 25 pontos-base era de 80%. Na véspera os percentuais eram de 48% e 52%, respectivamente.

Às 16h38, o rendimento do Treasury de dez anos -- referência global para decisões de investimento -- caía 5 pontos-base, a 3,946%.

Fonte: Reuters

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