Dólar sobe em linha com emergentes com eleição nos EUA e fiscal em foco
Por Fernando Cardoso
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar subia ante o real nesta quarta-feira, em linha com a força da divisa norte-americana em mercados emergentes, e compensava as perdas da véspera, em meio a preocupações de investidores com a futura política comercial dos Estados Unidos e com as contas públicas brasileiras.
Às 9h59, o dólar à vista subia 0,49%, a 5,4557 reais na venda. Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,33%, a 5,452 reais na venda.
Nesta manhã, a moeda norte-americana acumulava ganhos em uma série de mercados emergentes, incluindo o Brasil, com destaque para as altas em relação ao rand sul-africano, em 0,6%, e frente ao peso mexicano, a 0,7%.
Nos mercados globais, a expectativa por uma política comercial mais restritiva nos EUA tem crescido, conforme aumentaram as apostas na vitória de Donald Trump na eleição presidencial de novembro, o que afeta o apetite por risco.
O rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento -- subia 2 pontos-base, a 4,183%
Na segunda-feira, o candidato republicano confirmou o senador J.D. Vance como companheiro de chapa, reforçando expectativas de que a política comercial e externa dos EUA em um novo mandato de Trump será marcada por forte protecionismo.
Reiterando declarações anteriores, Vance disse em entrevista no dia de sua nomeação que vê a China como a "maior ameaça" aos EUA no momento. O país asiático sempre foi alvo de Trump em seus discursos, com ameaças frequentes de imposição de tarifas sobre a segunda maior economia do mundo.
Contribuindo para as preocupações, reportagem da Bloomberg News que relatou que o governo do presidente Joe Biden está considerando novas restrições para afetar a indústria chinesa de chips, mostrando que os EUA devem apertar a política comercial mesmo com a reeleição do democrata.
No exterior, ainda era destaque a queda nos preços futuros do minério de ferro, com o contrato de setembro do minério de ferro mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian (DCE) da China atingindo o menor valor em quase três semanas, a 805 iuanes (110,78 dólares), o que afeta países exportadores de commodities.
No cenário nacional, a retomada das preocupações com o ajuste fiscal no Brasil também pressionava o real, após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmar na véspera que o governo não é obrigado a cumprir a meta fiscal "se você tiver coisas mais importantes para fazer".
Em entrevista à TV Record na terça-feira, Lula ainda acrescentou que precisa ser convencido sobre eventual necessidade de cortar despesas para respeitar o arcabouço, dizendo que não haveria problema se o déficit fiscal ficasse em 0,1% ou 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB).
As falas do presidente contribuíram para a volatilidade do real na véspera. No entanto, o dólar à vista encerrou o dia cotado a 5,4293 reais na venda, em queda de 0,28%.
"Alguns reflexos (da entrevista de Lula) podem vir de ainda alguma insegurança com o arcabouço fiscal... Lula deixou margem para a interpretação de que a flexibilidade que ele espera pode ser maior do que o mercado está disposto a tomar", disse Matheus Massote, especialista em câmbio da One Investimentos.
Com esses elementos, o desempenho da moeda norte-americana no Brasil ia na contramão de sua fraqueza em economias avançadas, em meio a expectativa de início de um ciclo de afrouxamento monetário no Federal Reserve.
Operadores estão precificando um corte de juros já em setembro, com a possibilidade de até outros dois cortes até o fim do ano, à medida que os EUA vêm apresentando dados mais moderados na inflação, reforçando a trajetória de volta à meta de 2% do Fed.
O índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- caía 0,47%, a 103,720.
O euro era negociado a 1,09415 dólar, em alta de 0,39% no dia.