Após 6 semanas de alta, dólar tem 1ª queda semanal com mudança de discurso do governo
Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - Após começar a semana pressionado, chegando a superar os 5,70 reais na terça-feira, o dólar encerrou a sexta-feira novamente em baixa no Brasil, acompanhando o recuo da moeda norte-americana no exterior, após números considerados fracos do mercado de trabalho dos EUA, e ainda sob efeito da mudança de discurso do governo Lula em relação ao ajuste fiscal.
O dólar à vista encerrou o dia cotado a 5,4627 reais na venda, em baixa de 0,43%. Com isso, terminou a semana com queda acumulada de 2,29%. Esta é a primeira baixa semanal após seis semanas consecutivas de alta. Em 2024, porém, a divisa ainda acumula elevação de 12,60%.
Às 17h16, na B3 o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,39%, a 5,4775 reais na venda.
Desde quarta-feira o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem moderado o discurso, deixando de atacar em eventos públicos o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, o atual nível da taxa Selic e o mercado financeiro.
Além disso, Lula voltou a defender o equilíbrio fiscal, enquanto o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou na quarta-feira a intenção do governo de cortar despesas obrigatórias de 25,9 bilhões de reais no Orçamento para 2025.
Esta moderação no discurso do governo, que fez o dólar despencar na quarta e na quinta-feira, continuou a influenciar os negócios nesta sexta-feira.
Em evento em Osasco, Lula defendeu gastos na área social, mas voltou a dizer que o país não quebrará porque o governo tem “responsabilidade”. Pelo terceiro dia consecutivo, Lula não criticou Campos Neto ou o atual nível da Selic.
No exterior, os dados do relatório de empregos payroll mostraram que os EUA abriram 206 mil postos de trabalho fora do setor agrícola em junho, bem acima dos 190 mil esperados pelos economistas conforme pesquisa da Reuters.
No entanto, os números de maio passaram por forte revisão, de 272 mil novos empregos para 218 mil, e a taxa de desemprego subiu de 4,0% para 4,1% em junho.
A revisão para baixo e o aumento da taxa de desemprego sugerem, na visão de analistas, que a economia norte-americana está desacelerando, o que abriria espaço para corte de juros pelo Federal Reserve já em setembro.
Com isso, a curva de juros norte-americana teve mais um dia de queda firme, o que também empurrou as cotações do dólar para baixo no exterior, com reflexos no Brasil.
Após atingir a cotação máxima de 5,5356 reais (+0,90%) às 10h52, ameaçando uma correção depois das baixas firmes de quarta e quinta-feira, o dólar à vista atingiu a mínima de 5,4567 reais (-0,54%) às 16h52, pouco antes do fechamento.
Às 17h15, o índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- caía 0,28%, a 104,870.
Pela manhã, o Banco Central vendeu todos os 12 mil contratos de swap cambial tradicional em leilão para fins de rolagem do vencimento de 2 de setembro de 2024.