Ibovespa fecha quase estável com ajuda de NY e exportadoras em meio a receios fiscais
Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa fechou com um acréscimo marginal nesta terça-feira, favorecido pelo avanço nos pregões em Wall Street e queda nos rendimentos dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos, enquanto preocupações com as políticas fiscal e monetária no Brasil voltaram a minar o sentimento dos agentes financeiros.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa encerrou com variação positiva de 0,06%, a 124.787,08 pontos, após chegar a 125.490,73 pontos no melhor momento e a 124.310,24 pontos na mínima do dia, em desempenho ainda ajudado pelo avanço de exportadoras.
O volume financeiro somou 20 bilhões de reais.
A falta de sinalizações de medidas efetivas para melhorar as contas públicas combinada com incertezas sobre o próximo presidente do Banco Central, uma vez que o mandato de Roberto Campos Neto termina ao final deste ano, têm mantido os ativos locais pressionados, com o dólar chegando a superar 5,70 reais.
Agentes no mercado citaram como um fator negativo declarações da ministra do Planejamento, Simone Tebet, afirmando que o governo ainda precisa decidir sobre a necessidade contingenciamentos, mas que no momento não vê necessidade.
Na visão do analista Régis Chinchila, da Terra Investimentos, a fala corrobora o mau humor dos últimos dias com tensão crescente entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o titular do BC em um ambiente de aumento nas preocupações fiscais.
"A percepção de que o governo não está preocupado em cortar gastos deixa o investidor bem preocupado com a meta fiscal", acrescentou.
Nesta terça-feira, ainda pela manhã, Lula voltou a criticar a atuação do BC e de Campos Neto, enquanto também afirmou que fará "alguma coisa" para conter a valorização do dólar ante o real.
Campos Neto, por sua vez, em outro evento, disse que o aumento de ruídos relacionados às expectativas para as políticas fiscal e monetária colaborou para a decisão da autoridade monetária de pausar o ciclo de cortes na taxa básica de juros.
Em meio ao clima mais adverso no mercado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a melhor maneira de conter a desvalorização do real ante o dólar é melhorar a comunicação sobre o arcabouço fiscal e a autonomia do BC. Ele negou a possibilidade de o governo mexer no IOF em operações de câmbio.
De acordo com o sócio e advisor da Blue3 Luis Gustavo Montagnini, a incerteza fiscal continua elevando os prêmios de risco do país. Ele avalia que uma melhora, principalmente na taxa de câmbio, só deve ocorrer quando Lula e Haddad adotarem atitudes "equilibradas e coerentes".
Estrategistas do UBS cortaram a recomendação das ações brasileiras em seu portfólio de mercados emergentes para "neutra", citando que a situação política -- e o correspondente impacto na performance fiscal -- poderá pesar sobre o sentimento dos investidores no curto prazo.
"O mercado brasileiro está barato e o índice geralmente é beneficiário dos preços mais elevados do petróleo. No entanto, surpresas negativas consistentes do lado macroeconômico e incertezas em torno da disciplina fiscal poderão continuar a pesar no mercado", afirmaram em relatório a clientes.
No exterior, os rendimentos dos Treasuries recuaram, com o yield do título de 10 anos marcando 4,4336% no final do dia, de 4,479% na véspera, após comentários do chair do Federal Reserve, Jerome Powell, de que a política monetária está mais próxima do ponto em que cortes nos juros são apropriados.
Em Nova York, o sinal positivo também prevaleceu, com o S&P 500 encerrando o dia com elevação de 0,62%.
DESTAQUES
- MINERVA ON avançou 2,39%, em dia positivo para empresas de proteínas na bolsa paulista, com MARFRIG ON subindo 2,23%, BRF ON fechando em alta de 2,56% e JBS ON ganhando 0,4%. As companhias tendem a se beneficiar da valorização do dólar dada a participação relevante de exportações em suas receitas. Além disso, Lula defendeu que a carne seja incluída na cesta básica -- e com isso tenha imposto menor ou não precise pagar.
- SLC AGRÍCOLA ON terminou com acréscimo de 2,35%, ainda embalada por noticiário recente, incluindo aumento do valor de suas terras entre 2023 e 2024, além do efeito da alta na taxa de câmbio, umas vez que se trata de uma das maiores produtoras agrícolas do Brasil. Na véspera, analistas do Santander também elevaram o preço-alvo para as ações de 22 reais para 27 reais, reiterando recomendação "outperform".
- PETROBRAS PN fechou em baixa de 0,31%, conforme o barril de Brent perdeu o fôlego e fechou em queda de 0,4%. Analistas também publicaram relatórios nesta sessão citando encontro com executivos da empresa, incluindo a nova CEO. O Citi afirmou que permanece no modo "esperar para ver" para a Petrobras, mas destacou que a sinalização da nova administração é de ela está focada em manter o alto nível de governança corporativa.
- PETRORECONCAVO ON encerrou com acréscimo de 5,49%, apesar da fraqueza no Brent, com a agenda incluindo dados da ANP mostrando que a produção de petróleo no Brasil subiu em maio pela primeira vez em seis meses. PRIO ON valorizou-se 1,42% e 3R PETROLEUM ON subiu 0,83%.
- ITAÚ UNIBANCO PN subiu 1,3%, após duas quedas seguidas, assegurando o sinal positivo do Ibovespa, enquanto BRADESCO PN terminou com variação negativa de 0,19%.
- VALE ON caiu 0,33%, apesar do avanço nos futuros do minério de ferro na China, em meio a ajustes após a ação subir nas últimas quatro sessões, período em que acumulou um ganho de mais de 4%. A mineradora informou nesta terça-feira que seu conselho de administração buscará recompor seu quadro "de forma célere", após duas renúncias em menos de quatro meses terem deixado o colegiado com menos conselheiros independentes do que o exigido pelas regras internas da companhia.
- CVC BRASIL ON desabou 7,69%, em meio a uma combinação de juros futuros em alta e valorização do dólar ante o real.
- SÃO MARTINHO ON perdeu 4,79%, tendo como pano de fundo relatório do analista Gabriel Barra, do Citi, enviado a clientes na noite de segunda-feira, cortando a recomendação dos papéis para "neutra" ante "compra", enquanto o preço-alvo permaneceu em 37 reais.