Campos Neto cita preocupação com possível efeito de mercado de trabalho apertado na inflação
BRASÍLIA (Reuters) -O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta segunda-feira que a possibilidade de o mercado de trabalho apertado afetar inflação de serviços é uma preocupação, embora esse impacto ainda não tenha sido observado no Brasil.
"Ainda há essa ideia, embora isso não esteja acontecendo mecanicamente agora, de que em algum momento o mercado de trabalho muito apertado pode afetar a inflação de serviços de uma forma que seria uma ameaça para convergência de inflação no médio prazo", afirmou em evento virtual promovido pela gestora Constellation.
O Brasil registrou uma taxa de desemprego de 7,5% nos três meses encerrados em abril, marcando o nível mais baixo de desocupação para o período em 10 anos.
Campos Neto também disse que o prêmio de risco do Brasil medido pelos títulos do Tesouro Nacional atrelados à inflação, que estão com remuneração real acima de 6,3% ao ano, está muito alto.
"É um juro real alto quando você pensa na importância desse elemento para a estabilidade da dívida pública no longo prazo", disse.
Ele afirmou ainda que os juros neutros, patamar que não estimula nem retrai a atividade, têm caído no Brasil ao longo do tempo, mas voltou a subir um pouco recentemente, o que precisa ser avaliado.
Campos Neto afirmou que números recentes de inflação foram benignos e mostram convergência, mas “não são muito diferentes do que esperávamos”, e ressaltou que as expectativas de inflação seguem em processo de desancoragem.
De acordo com o presidente do BC, a maior percepção de risco no Brasil no curto prazo é ligada à capacidade de haver harmonia entre políticas monetária e fiscal. Para ele, o desafio de longo prazo para o país é ampliar a produtividade da economia.
O presidente do BC voltou a dizer que o tema das contas públicas é uma fonte de preocupação, argumentando que a mudança de metas fiscais pelo governo ampliou incertezas no mercado.
Na apresentação, ele afirmou que o crescimento estrutural do Brasil está levemente mais alto, o que pode ser reflexo de reformas econômicas feitas pelo país nos últimos anos.
(Por Bernardo CaramEdição de Isabel Versiani)