Dólar à vista fecha em alta de 0,96%, a R$5,2851 na venda
Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar se reaproximou dos 5,30 reais durante a sessão desta terça-feira, encerrando em alta firme, em um dia marcado pela queda de commodities importantes da pauta exportadora brasileira, pelo avanço da moeda norte-americana ante outras divisas de emergentes no exterior e pelo desconforto do mercado com o cenário fiscal no Brasil.
A moeda norte-americana à vista encerrou o dia cotada a 5,2851 reais na venda, em alta de 0,96%. Este é o maior valor de fechamento em mais de um ano, desde 23 de março de 2023, quando o dólar marcou 5,2898 reais.
Às 17h47, na B3 o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento <DOLc1> subia 0,66%, a 5,2995 reais na venda.
O dólar oscilou em alta durante toda a sessão. No início do dia, as cotações no Brasil acompanhavam o avanço do dólar ante outras divisas no exterior, em especial em relação às moedas de países emergentes, como o peso mexicano <MXNUSD=R>, o rand sul-africano <ZARUSD=R> e a rupia indiana <INRUSD=R>.
Profissionais ouvidos pela Reuters pontuaram que havia nos mercados globais uma fuga dos investidores de moedas de países emergentes, na esteira dos resultados eleitorais recentes -- em especial, da vitória da esquerda na disputa presidencial do México nL6N3I10DW.
Na comparação com os pares da América Latina, conforme Lais Costa, analista da Empiricus Research, “estamos até que segurando um pouco mais, principalmente na moeda (real), mas é fato que está tendo um fluxo de saída de emergentes.”
O viés de alta para o dólar ante o real era justificado ainda pela queda de commodities importantes da pauta exportadora brasileira, como minério de ferro, petróleo e soja.
“Isso tem um grande peso no enfraquecimento do real”, comentou à tarde Felipe Izac, sócio da Nexgen Capital. “Junto a isso, (há) o sentimento de aversão a risco muito grande... com toda a questão fiscal deteriorada, principalmente relacionada à desoneração, e a consequente dificuldade do governo em conseguir aumentar a arrecadação”, acrescentou.
Durante o dia, o governo Lula apresentou em Brasília novas medidas para a área fiscal e o segundo projeto de lei para regulamentação da reforma tributária. As propostas foram recebidas com certo ceticismo pelo mercado, que viu as taxas dos DIs nL1N3I22IW (Depósitos Interfinanceiros) e as cotações do dólar acelerarem durante a tarde.
O governo editou uma medida provisória nL1N3I218R para limitar o sistema de créditos de Pis/Cofins, prevendo que a iniciativa ampliará as receitas em 29,2 bilhões de reais em 2024. A medida busca compensar a perda de receita gerada pela manutenção da desoneração da folha salarial de 17 setores da economia e de municípios de pequeno porte, com custo estimado de 26,3 bilhões de reais neste ano.
Além disso, o governo enviou ao Congresso o segundo projeto de lei complementar nL1N3I222V para regulamentar a reforma tributária sobre o consumo. A proposta também regulamenta o Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens ou Direitos (ITCMD), um tributo estadual incidente sobre heranças e doações. No entanto, por decisão do governo, o texto não trata da cobrança desse tributo sobre heranças de aplicações em previdência privada -- algo que foi ventilado pela imprensa ao longo da semana.
“Vimos nos últimos dias ideias/tentativas de tributar plataformas de e-commerce e tributar previdências, porém hoje o governo voltou atrás... O governo (está) aumentando cada vez mais gastos e sem encontrar uma saída para arrecadar mais”, pontuou Izac.
No momento de maior pressão do dia, às 13h35, o dólar à vista se reaproximou dos 5,30 reais, marcando a cotação máxima de 5,2977 reais (+1,21%).
“É uma continuidade da aversão ao risco vista tanto lá fora quanto aqui”, comentou durante a tarde Jefferson Rugik, diretor da Correparti Corretora, ao analisar a escalada do dólar ante o real. “O câmbio acompanha o exterior e nossos velhos problemas com o fiscal. E faz tempo que não vemos um dólar a 5,30 reais”, acrescentou, alertando que se as cotações superarem este ponto técnico nos próximos dias é de se esperar uma série de desmonte de posições.
No fim da tarde, o dólar seguia em alta ante outras divisas de emergentes no exterior, mas tinha alta mais contida ante as moedas fortes.
Às 17h44, o índice do dólar <=USD> -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- subia 0,11%, a 104,150.
Pela manhã o Banco Central vendeu todos os 12.000 contratos de swap cambial tradicional ofertados para rolagem dos vencimentos de agosto.