Taxas futuras de juros disparam com alta de Treasuries, Caged forte e proteção antes do Fed

Publicado em 30/04/2024 16:49 e atualizado em 30/04/2024 17:30

Por Fabricio de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs fecharam a terça-feira em forte alta, superior a 20 pontos-base em alguns vencimentos, reagindo ao avanço dos yields dos Treasuries após dados fortes dos EUA, aos números acima do esperado do emprego brasileiro e à busca por proteção antes da decisão sobre juros do Federal Reserve na quarta, quando será feriado no Brasil.

No fim da tarde a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2025 estava em 10,31%, ante 10,158% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 10,625%, ante 10,394% do ajuste anterior.

Já a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,975%, ante 10,761%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 11,285%, ante 11,082%. O contrato para janeiro de 2031 marcava 11,75%, ante 11,564%.

A curva de juros brasileira encontrou nesta terça-feira uma série de motivos para abrir.

Em primeiro lugar, às 9h30 os yields dos títulos norte-americanos tiveram forte impulso com a divulgação do Índice de Custo de Emprego (ECI, na sigla em inglês), a medida mais ampla dos custos de mão de obra no país, que aumentou 1,2% no último trimestre, após uma alta não revisada de 0,9% no quarto trimestre. Economistas consultados pela Reuters previam avanço de 1,0%.

O dado de custos -- que geralmente não repercute com tanta intensidade nos Treasuries -- desta vez fez preço em função da expectativa antes da reunião de política monetária do Fed, na quarta-feira. O número reforçou apostas de que o Fed cortará juros apenas mais à frente, talvez apenas em novembro.

“O dado (do ECI) estragou lá fora. Aí veio o Caged forte no Brasil”, comentou o economista-chefe do banco Bmg, Flavio Serrano, ao justificar a disparada das taxas dos DIs no Brasil.

Também às 9h30 o Ministério do Trabalho e Emprego informou que, conforme o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o Brasil abriu 244.315 vagas formais de trabalho em março, resultado bem acima da expectativa apontada em pesquisa da Reuters, de criação líquida de 188.000 empregos.

Mais cedo, às 9h, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) já havia informado que a taxa de desemprego no Brasil encerrou o primeiro trimestre a 7,9% -- a menor já registrada para um trimestre encerrado em março desde 2014, quando foi de 7,2%. Economistas esperavam por um percentual de 8,1%.

“Tanto o Caged quanto a Pnad (do IBGE) vieram acima do esperado. Isso dá a percepção de maior robustez da atividade, o que exige mais juros”, avaliou Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.

“Além disso, há uma ansiedade antes do Fed... Ninguém quer dormir comprado (em título, vendido em taxa) e fazer o ajuste apenas na quinta-feira, após o feriado no Brasil. Então (o investidor) faz o ajuste agora”, acrescentou.

Neste cenário, a taxa do DI para janeiro de 2026 atingiu o pico da sessão, de 10,645%, às 16h15, com alta de 25 pontos-base.

Mais do que a decisão em si do Fed, que deve manter a taxa de referência na faixa de 5,25% a 5,50%, os investidores em todo o mundo estarão atentos nesta quarta-feira ao discurso do chair do Fed, Jerome Powell, em busca de pistas sobre quando começará o corte de juros nos EUA.

No Brasil a diferença é que, em função do feriado do Dia do Trabalho, a repercussão sobre os ativos será apenas na quinta-feira.

Com o movimento desta terça, porém, o mercado se posicionou ainda mais no sentido de que o Banco Central cortará a taxa básica Selic em apenas 25 pontos-base na próxima semana. Atualmente a Selic está em 10,75% ao ano.

Perto do fechamento a precificação da curva estava em 96% de probabilidade de corte de 25 pontos-base e 4% para corte de 50 pontos-base. Em comunicações anteriores, antes da piora recente do cenário, o BC havia estabelecido um "forward guidance" de corte de 50 pontos-base no próximo encontro. Na semana passada, no entanto, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse que o aumento das incertezas impede a autarquia de oferecer uma orientação futura.

Internamente o mercado também seguiu cauteloso nesta terça-feira em relação ao equilíbrio fiscal do governo, o que favorecia a abertura da curva.

A senadora Daniella Ribeiro (PSD-PB), relatora do projeto de lei que reformula o Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse), indicou que pretende incorporar ao texto a correção pela inflação do teto negociado com o governo, de 15 bilhões de reais, para o montante de incentivos do programa entre abril de 2024 e dezembro de 2026. Na prática, isso pode significar mais despesas para o governo.

No exterior, as taxas dos Treasuries seguiam em alta nesta tarde. Às 16h37, o rendimento do Treasury de dez anos -- referência global para decisões de investimento -- subia 7 pontos-base, a 4,686%.

Fonte: Reuters

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Dow Jones atinge recorde de fechamento após dados econômicos favoráveis dos EUA
Dólar à vista fecha em alta pela 5ª sessão apesar de intervenções do BC
Ibovespa tem melhor mês do ano com expectativa sobre juros nos EUA
Taxas longas de juros futuros disparam com temor fiscal após alta da dívida bruta no Brasil
S&P fecha em alta após dados econômicos favoráveis dos EUA
Desemprego baixo não provoca "inflação grande" em serviços, mas preocupa, diz Campos Neto