Taxas futuras de juros têm forte alta após redução da meta fiscal e dados fortes de varejo dos EUA

Publicado em 15/04/2024 16:53

Por Fabricio de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs fecharam a segunda-feira em forte alta no Brasil, de quase 20 pontos-base em alguns vencimentos, com investidores aumentando as apostas de que a Selic pode não passar por corte na reunião de junho, após o governo Lula reduzir a meta fiscal para 2025 e, nos EUA, dados do varejo reforçarem a perspectiva de juros altos por lá por mais tempo.

No fim da tarde a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2025 estava em 10,135%, ante 10,033% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 10,395%, ante 10,159% do ajuste anterior.

Já a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,755%, ante 10,486%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 11,08%, ante 10,817%. O contrato para janeiro de 2031 marcava 11,57%, ante 11,296%.

Foi a quarta sessão consecutiva de alta das taxas dos DIs, com investidores se reposicionando em meio à piora do cenário global e do risco fiscal brasileiro.

Pela manhã, o Departamento do Comércio dos EUA informou que as vendas no varejo aumentaram 0,7% em março, acima do 0,3% projetado por economistas ouvidos pela Reuters. Já os dados de fevereiro foram revisados para alta de 0,9%, em vez do 0,6% informado anteriormente.

Os números reforçaram a avaliação de que o Federal Reserve adiará o início do processo de corte de juros, o que fez os rendimentos do Treasury de dez anos -- referência global de investimentos -- superar os 4,60%.

No Brasil, as taxas futuras de juros também foram impulsionadas na esteira do avanço dos yields. Além do fator externo, o mercado reagia às notícias de que o governo Lula reduzirá a meta fiscal para 2025 de superávit de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) para resultado primário zero.

Durante a tarde, em entrevista à Globo News, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou a meta zero para o próximo ano, o que foi mal-recebido pelo mercado.

Às 14h28, com a entrevista ainda em andamento, a taxa do DI para janeiro de 2027 atingiu 10,795% -- alta de 23 pontos-base ante o ajuste de sexta-feira.

“Tem uma série de elementos domésticos que se somam ao movimento externo muito forte. Houve uma piora da percepção global sobre juros, com fortalecimento do dólar, e no Brasil você (o governo) também está fazendo coisas que são contrárias ao que se espera”, afirmou Adauto Lima, economista-chefe da Western Asset.

“Quando começou a discutir esta mudança (da meta de 2025) para 0,25%, o governo falava em tentar manter o número positivo, porque, se não conseguir atingi-lo, ficaria no zero. Agora já vem com zero”, acrescentou Lima. “Todo movimento sempre é para facilitar o aumento de gastos, e não a busca do primário melhor.”

A curva de juros traduziu o desconforto com o exterior e com o fiscal precificando mais chances de o Banco Central reduzir já em maio o ritmo de cortes da taxa básica Selic, hoje em 10,75% ao ano.

Perto do fechamento a curva a termo brasileira precificava 59% de chances de o corte da Selic em maio ser de 50 pontos-base. Já as apostas em corte de apenas 25 pontos-base subiram para 41%.

Para o encontro de junho, a curva precificava durante a tarde cerca de 70% de chances de corte de 25 pontos-base e 30% de probabilidade de não haver corte nenhum -- uma possibilidade com a qual o mercado não vinha trabalhando antes da piora do cenário.

“Está menos provável agora (um corte de 50 pontos-base em junho), mas tem chão até a reunião de maio”, comentou o economista-chefe do banco Bmg, Flavio Serrano. “Precisamos ver como o cenário evolui até lá.”

Em Nova York, os rendimentos dos Treasuries, seguiam em alta firme no fim da tarde, com investidores precificando chances menores de o Fed cortar juros no curto prazo.

Às 16h40, O rendimento do Treasury de dez anos -- referência global para decisões de investimento -- subia 13 pontos base, a 4,624%.

Fonte: Reuters

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Dow Jones atinge recorde de fechamento após dados econômicos favoráveis dos EUA
Dólar à vista fecha em alta pela 5ª sessão apesar de intervenções do BC
Ibovespa tem melhor mês do ano com expectativa sobre juros nos EUA
Taxas longas de juros futuros disparam com temor fiscal após alta da dívida bruta no Brasil
S&P fecha em alta após dados econômicos favoráveis dos EUA
Desemprego baixo não provoca "inflação grande" em serviços, mas preocupa, diz Campos Neto