Dados recentes não contribuíram para "confiança" do Fed na desinflação, mostra ata
Por Howard Schneider
WASHINGTON (Reuters) - Autoridades do Federal Reserve estavam preocupadas no mês passado com a possibilidade de o progresso da inflação ter estagnado e de ser necessário um período mais longo de política monetária restritiva para controlar o ritmo dos aumentos de preços, de acordo com a ata da reunião de 19 e 20 de março do banco central dos Estados Unidos, em que os formuladores de política monetária mantiveram um cenário base prevendo três cortes na taxa básica de juros em 2024.
"De modo geral, os participantes destacaram sua incerteza quanto à persistência da inflação elevada e expressaram a opinião de que dados recentes não haviam aumentado sua confiança de que a inflação esteja se movendo de forma sustentável para 2%", disse a ata da reunião, percepção que pode ter sido reforçada pelos dados divulgados nesta quarta-feira mostrando outro salto surpreendente na inflação.
As autoridades do Fed estão debatendo se o maior risco é que a política monetária permaneça muito apertada por muito tempo ou que o Fed corte os juros muito cedo e não consiga fazer com que a inflação retorne à sua meta de 2%.
Algumas autoridades continuaram a argumentar que itens importantes, como a inflação imobiliária, começariam a desacelerar, com "vários" dizendo que os aumentos na produtividade poderiam permitir que o crescimento siga forte enquanto a inflação continua a cair.
No entanto, a ata reflete uma preocupação geral sobre a situação de uma luta contra a inflação que parecia estar bem controlada no início do ano.
"Os participantes destacaram os indicadores que apontam para um forte impulso econômico e leituras decepcionantes sobre a inflação nos últimos meses", reiterando que precisariam de mais confiança na continuidade da desinflação antes de cortar os juros, segundo a ata.
"Algumas" autoridades disseram que havia riscos de que a política monetária do Fed fosse "menos restritiva do que o desejado, o que poderia aumentar o ímpeto da demanda agregada e pressionar a inflação para cima", disse a ata -- o tipo de lógica que poderia ser usada para defender outro aumento dos custos de empréstimos.
O Fed aumentou sua taxa de juros em 5,25 pontos percentuais desde março de 2022 para combater o aumento das pressões de preços.
Os dados do índice de preços ao consumidor norte-americano divulgados nesta quarta-feira minaram ainda mais qualquer certeza sobre o declínio da inflação.
O Departamento do Trabalho dos EUA informou que o índice de preços acelerou para uma taxa anual de 3,5% em março, de 3,2% em fevereiro, e uma medida separada do "núcleo", que exclui os preços de alimentos e energia, estagnou em 3,8%.
Os formuladores de política monetária do Fed estão debatendo quando reduzir a taxa de juros de referência "overnight" do banco central da atual faixa de 5,25% a 5,50%, onde se encontra desde julho do ano passado. Eles se reunirão em 30 de abril a 1º de maio.
Após a divulgação dos dados mais recentes do índice, investidores aumentaram suas apostas sobre o momento de um corte inicial da taxa básica para setembro em relação a junho.
A ata também mostrou que a grande maioria das autoridades do Fed julgou que seria prudente desacelerar o ritmo de redução dos Treasuries e dos títulos lastreados em hipotecas detidos pelo banco central "em breve".