Campos Neto vê dificuldade em prever arrecadação, mas diz que governo deve perseguir meta fiscal

Publicado em 23/10/2023 16:04

Por Fabricio de Castro

SÃO PAULO (Reuters) -O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta segunda-feira que tem sido difícil prever qual será a arrecadação, em função das medidas que estão em tramitação no Congresso, mas que é importante que o governo siga perseguindo a meta fiscal estabelecida.

Em sua proposta orçamentária, o governo Lula estabeleceu meta de resultado fiscal zero em 2024 -- um objetivo que o mercado financeiro vem considerando difícil de atingir, em função da previsão de despesas e despesas para o próximo ano.

"É importante não mudar a meta fiscal, é importante perseguir a meta... seguir o arcabouço", disse Campos Neto durante evento em São Paulo.

O presidente do BC lembrou que há medidas ainda a serem aprovadas no Congresso, que influenciarão a arrecadação. Ao mesmo tempo, ele pontuou que "tem sido difícil prever qual será a arrecadação".

"A reforma tributária parece estar mais bem encaminhada", acrescentou, avaliando ainda que o Brasil tem hoje um fiscal "bastante mais frouxo" que o mundo emergente.

Durante o evento, Campos Neto também voltou a abordar a situação fiscal dos EUA que, segundo ele, tem contribuído para a alta recente dos rendimentos dos Treasuries.

"Os juros mais altos nos EUA levantaram quase todas as curvas de juros no mundo", afirmou Campos Neto.

Em sua análise, o presidente do BC afirmou que a elevação da curva de juros norte-americana foi provocada por fatores como as intervenções cambiais da China -- que levaram à venda de títulos norte-americanos no mercado --, à venda maior de títulos pelo Tesouro dos EUA e a situação fiscal propriamente dita do país.

Campos Neto afirmou ainda que, aparentemente, a alta dos juros básicos nos EUA poderá ocorrer em dezembro, e não em novembro, considerando a curva norte-americana. "Vai depender dos números recentes", acrescentou.

Ele destacou ainda que os juros mais altos nos EUA reduzem a liquidez para as economias emergentes.

"A cada seis meses que estes juros ficam altos (nos EUA), são mais seis meses de custo maior de rolagem de dívida", afirmou Campos Neto. Segundo ele, os países desenvolvidos são impactados em um primeiro momento, mas o fenômeno também "suga" a liquidez dos emergentes.

PETRÓLEO

Durante sua apresentação, Campos Neto também avaliou que os preços do petróleo não subiram tanto no mercado internacional, com a guerra entre Rússia e Ucrânia e, mais recentemente, com o conflito entre Israel e Hamas. No entanto, para ele, não há perspectiva de queda importante dos preços diante das incertezas e a commodity não será, portanto, fator de desinflação global.

Em palestra durante evento promovido pelo Estadão e pela B3, Campos Neto disse que, no caso dos alimentos, a expectativa é de volatilidade dos preços, também sem contribuição para a desinflação no mundo.

(Edição de Isabel Versiani)

Fonte: Reuters

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