Líderes mundiais se reunirão na ONU enquanto grandes potências disputam países em desenvolvimento

Publicado em 15/09/2023 15:57 e atualizado em 15/09/2023 16:34

 

Por Michelle Nichols

NAÇÕES UNIDAS (Reuters) - Os líderes mundiais se reunirão nas Nações Unidas na próxima semana sob a sombra de tensões geopolíticas -- em grande parte alimentadas pela guerra na Ucrânia -- enquanto a Rússia e a China disputam com os Estados Unidos e a Europa para atrair os países em desenvolvimento.

A guerra da Rússia na Ucrânia, que já está em seu segundo ano, será novamente o foco do encontro anual em Nova York, com o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy comparecendo pessoalmente pela primeira vez desde o início do conflito.

Também estarão no topo da agenda deste ano as preocupações do Sul Global, em parte um reflexo da maior atenção dada ao mundo em desenvolvimento pelas nações ocidentais, ansiosas por garantir seu apoio ao esforço para isolar a Rússia.

Várias reuniões de alto nível que acontecerão durante a Assembleia Geral se concentram nas prioridades dos países em desenvolvimento da África, América Latina e Ásia: clima, saúde, financiamento para o desenvolvimento e como colocar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável -- uma lista global de "coisas a fazer" criada em 2015 -- no caminho certo.

BILHÕES PARA INFRAESTRUTURA

A guerra da Ucrânia é apenas um dos motivos para o foco nos países em desenvolvimento.

Na última década, a China concedeu centenas de bilhões de dólares em empréstimos para projetos de infraestrutura muito necessários como parte de sua iniciativa do Cinturão e Rota que foi criticada por sobrecarregar nações com dívidas pesadas.

Os Estados Unidos e seus aliados tentaram recentemente combater a crescente influência da China com suas próprias promessas de dinheiro para desenvolvimento e ajuda climática.

Antes das reuniões de Nova York, os diplomatas reconheceram seu foco no mundo em desenvolvimento, mas rejeitaram as sugestões de que a rivalidade desempenhava um papel importante.

A embaixador norte-americana na Organização das Nações Unidas, Linda Thomas-Greenfield, descreveu a reunião como uma oportunidade para os países pequenos "exporem suas prioridades para nós" e que ela não a vê "como uma competição entre grandes potências".

O embaixador da China na ONU, Zhang Jun, disse à Reuters que Pequim "não tem intenção de competir com ninguém" e que, à medida que as condições da China melhoram, o país está "disposto a fazer mais em troca dos países em desenvolvimento, mas não estamos competindo".

Da mesma forma, o embaixador da Rússia na ONU, Vassily Nebenzia, disse que Moscou não está "tentando encantar ninguém".

"Somos apenas o que somos e nunca condicionaremos nossa amizade com ninguém a entrar na linha e fazer o que queremos -- ao contrário de alguns de nossos pares aqui", disse ele.

"GRANDE SHOW"

Zelenskiy deve discursar na Assembleia Geral na terça-feira e falar em uma reunião do Conselho de Segurança sobre a Ucrânia na quarta-feira, o que poderá colocá-lo na mesma mesa que o Ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov.

Nebenzia prevê que a reunião planejada do conselho será simplesmente um "grande show".

Os diplomatas ocidentais estão ansiosos para mostrar que seus esforços para atingir diplomaticamente a Rússia por causa da guerra na Ucrânia não significam que eles não possam se concentrar em outras crises e questões globais importantes.

"Não se trata de um caso de um ou outro. Temos de fazer as duas coisas", disse a embaixadora britânica na ONU, Barbara Woodward, descrevendo a invasão russa como "um ataque a tudo o que a ONU representa".

Ainda assim, um diplomata europeu sênior, falando sob condição de anonimato, advertiu que as tensões geopolíticas podem afastar mais países em desenvolvimento dos esforços liderados pelo Ocidente e levá-los ao Brics -- grupo liderado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul -- na esperança de que ele possa "atender melhor a alguns dos interesses do mundo em desenvolvimento".

No mês passado, o Brics -- onde a China é o peso pesado -- acrescentou mais meia dúzia de países ao bloco, numa tentativa de remodelar uma ordem mundial que considera desatualizada.

Um diplomata africano, falando sob condição de anonimato, disse que a ONU é incapaz de "mostrar aos jovens africanos que sua impaciência por empregos pode ser respondida pela democracia e não por soldados".

"Se ninguém estiver ao lado deles, então os Brics -- o que quer que eles ofereçam -- serão atraentes", disse o diplomata.

Fonte: Reuters

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