Batalha contra inflação não está ganha e é preciso persistir, diz Campos Neto
(Reuters) -O núcleo da inflação no Brasil está muito resiliente e, embora o dado cheio esteja caindo, o aumento de preços deve voltar a ganhar força no segundo semestre, afirmou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, nesta quarta-feira, ressaltando que é preciso persistir na batalha contra a inflação.
Falando a investidores em Londres, Campos Neto disse não ter lido em detalhe ainda o texto do projeto do arcabouço fiscal encaminhado pelo governo ao Congresso na véspera, mas reiterou que a proposta é "bastante razoável" e que será importante acompanhar o processo de aprovação do texto. Ele também voltou a afirmar que não necessariamente a nova regra levará a uma queda dos juros.
"A realidade é que o processo de desinflação está mais lento do que esperávamos dado o nível dos juros reais no Brasil. O que nos diz que a batalha não foi ganha e precisamos persistir", disse em reunião organizada pelo European Economics & Financial Centre.
Respondendo a uma pergunta de investidor, Campos Neto afirmou que há muita incerteza em torno dos efeitos para a economia de se deixar os juros altos por mais tempo, mas que pode haver um "trade-off de esperar um pouquinho mais para garantir que você faz isso (leva a inflação à meta) de um jeito estável".
A estimativa do BC é de que a inflação geral deve ir a 3,5% em junho, e depois voltará a subir, disse Campos Neto.
Ele notou que as expectativas de inflação para 2024 e 2025 subiram quase 1% desde dezembro, em parte devido ao pacote fiscal aprovado no final do ano passado e ao fato de o governo atual ter falado em mudança na meta de inflação.
Para Campos Neto, não é papel do BC definir a meta de inflação --a autarquia tem um dos três votos do conselho que fixa os objetivos anualmente--, mas que, na sua avaliação, uma elevação da meta geraria um risco altista para a inflação.
"Nossa opinião é mais no lado de que risco vai aumentar. E mesmo que não aumente muito, não significa que não tem custo num prazo mais longo... No prazo mais longo, você pode criar danos ao fazer isso."
(Por Isabel Versiani Edição de Camila Moreira e Luana Maria Benedito)