Uso de EDS para operar curva de juros dispara em 2023 no Brasil

Publicado em 17/04/2023 10:11

Por Fabrício de Castro e André Romani

SÃO PAULO, 17 Abr (Reuters) - Em meio às discussões em torno da perspectiva para a taxa básica de juros no Brasil, participantes do mercado financeiro têm ampliado este ano o uso de um produto que permite operar trechos da curva de DIs (Depósitos Interfinanceiros) sem que seja necessário montar várias posições.

Dados mostram que em março de 2023 a B3 registrou uma média diária de negociação de 90 mil contratos de EDS (Exchange Defined Strategies) de DI de 1 dia (DI1). Apenas no dia 28 de março --uma terça-feira, quando o Banco Central divulgou a ata de sua reunião de política monetária mais recente-- foram negociados 146,8 mil EDS, um recorde até aquela data.

Em comparação, no ano passado --o produto foi lançado em maio de 2022 pela B3-- a média diária havia sido de apenas 2,6 mil contratos.

O sucesso recente dos EDS entre os investidores é atribuído pela B3 à facilidade do produto, que dispensa a montagem de operações isoladas, e ao custo menor.

O produto é uma operação estruturada que funciona como uma espécie de "pacote" de posições, em que o investidor assume uma estratégia na curva a termo sem precisar operar cada um dos vencimentos envolvidos.

"O investidor pode fazer uma estratégia com o DI para janeiro de 2025 contra o janeiro de 2027. Assim, ele pode operar todos os movimentos na curva neste trecho", disse Felipe Gonçalves, superintendente de produtos de juros e moedas da B3, à Reuters, exemplificando uma operação com EDS.

De acordo com Gonçalves, o uso de EDS --em substituição à montagem de estratégias diretamente nos vencimentos futuros de DI-- tem pelo menos duas vantagens.

Em primeiro lugar, o investidor reduz o risco de execução.

"Se você opera individualmente cada vencimento, pode ser que, ao passar para o vencimento seguinte, o preço tenha mudado e não seja mais o que você queria", explicou Gonçalves.

O segundo benefício está ligado a uma tarifação mais eficiente, que incide sobre a estratégia em geral, e não sobre cada um dos vencimentos. Conforme a B3, a redução de custos nestes casos pode chegar a 90%.

Atualmente, a B3, a bolsa de valores brasileira, oferece estratégias ligadas a três mercados específicos: futuro de DI, futuro de cupom de IPCA (DAP) e FRA de cupom cambial (FRC).

Em função da alta liquidez e da importância no Brasil, o mercado de DI tem puxado as operações com EDS, mas a expectativa da B3 é de que, com o maior entendimento do produto, os investidores também passem a acessar mais as estratégias de DAP e FRC.

Questionado, Gonçalves disse não ver relação do maior uso de EDS e o cenário econômico local ou externo.

Entre os investidores, os fundos têm demonstrado interesse maior em operar DI por meio de EDS, sendo que bancos e investidores estrangeiros atuam como contraparte, dando liquidez, segundo a B3.

"Ainda há uma parte boa do mercado se preparando para entrar. Sabemos que os volumes de EDS estão crescendo, mas isso ainda não é tudo o que o mercado faz de estratégia", afirmou Gonçalves. Segundo ele, muitos participantes do mercado seguem operando vértice por vértice ao montar estratégias. "Os fundos acabam puxando porque tendem a ser mais rápidos na adaptação", pontuou.

Fonte: Reuters

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