Bancos dos EUA acendem alerta sobre imóveis corporativos
Por Matt Tracy e Saeed Azhar
(Reuters) - Alguns dos maiores bancos dos Estados Unidos destacaram imóveis comerciais voltados a escritórios como uma área de crescente preocupação, diante da queda dos valores das propriedades e inadimplência crescente dos locatários em meio ao aumento do juro numa economia em desaceleração.
Diante de perguntas de analistas sobre sua exposição aimóveis comerciais (CRE) e o potencial de perdas, executivos de Wells Fargo, Citigroup e JPMorganChase disseram nesta sexta-feira que as condições estavam piorando no setor.
"A fraqueza continua a se desenvolver em imóveis para escritórios", disse o presidente-executivo do Wells Fargo, Charlie Scharf, a analistas. O banco reservou um adicional de 643 milhões de dólares no primeiro trimestre para perdas de crédito, impulsionadas principalmente por expectativas de maior inadimplência em operações de financiamento imobiliário.
O estresse no setor imobiliário comercial pode ter amplas implicações para os bancos e para a economia norte-americana, uma vez que os calotes podem restringir a disponibilidade de crédito, agravando um cenário recessivo.
O presidente-executivo do JPMorgan, Jamie Dimon, disse esperar condições de empréstimo mais rígidas, principalmente em torno de "certas áreas do setor imobiliário", e que isso "aumenta as chances de uma recessão".
Os bancos representam 54% do mercado geral de 5,7 trilhões de dólares de crédito imobiliário voltado a imóveis comerciais (CRE), com instituições financeiras menores detendo 70% desses empréstimos, de acordo com analistas do Citigroup. Mais de 1,4 trilhão de dólares em financiamentos CRE nos EUA vence até 2027 e cerca de 270 bilhões neste ano, de acordo com o provedor de dados imobiliários Trepp.
Empréstimos garantidos por imóveis voltados para escritórios compõem a maior parte da carga de dívida em vencimento, seguidos por unidades imobiliárias multifamiliares e de varejo. A questão enfrentada por muitos mutuários atualmente é se eles poderão refinanciar ou reestruturar seus empréstimos para evitar a inadimplência, dizem bancos e analistas.
Imóveis mais antigos com grande vacância enfrentam o maior desafio de refinanciamento, afirmam os especialistas.
"Atualmente, os imóveis corporativos enfrentam o maior risco de refinanciamento" à medida que as empresas reavaliam suas necessidades, disse John Guarnera, analista da RBC BlueBay Asset Management, em meio a demissões maciças registradas no país nos últimos meses.
Como epicentro da desaceleração da indústria de tecnologia, o mercado de CRE da Califórnia foi duramente atingido. As cidades de São Francisco e Los Angeles tiveram uma taxa média de vacância de escritórios de 21,6% no primeiro trimestre, segundo dados da Cushman & Wakefield.
Financiamentos imobiliários envolvendo escritórios em São Francisco agora enfrentam o maior risco de inadimplência de todas as áreas metropolitanas dos EUA, de acordo com a Trepp.
Uma subsidiária da gestora de ativos Brookfield, por exemplo, ficou inadimplente em fevereiro em 783 milhões de dólares devidos sobre empréstimos vinculados a dois edifícios em Los Angeles. Citigroup e Wells Fargo estão entre os financiadores iniciais dos empreendimentos.
Citigroup e Wells Fargo se recusaram a comentar e Brookfield não respondeu a um pedido de comentário.