JBS tem queda de 24,5% no lucro de 2022 e projeta custos mais estáveis de grãos em 2023
Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A JBS, uma da maiores companhias de alimentos do mundo, informou na terça-feira que teve quedas expressivas no lucro do quarto trimestre e de 2022, com a empresa sofrendo impacto de maiores custos dos grãos no mundo e do boi nos Estados Unidos, uma situação diferente da vivida em 2021, quando elevadas margens de bovinos da unidade norte-americana fizeram os resultados dispararem.
O lucro da companhia somou 2,35 bilhões de reais no quarto trimestre, queda de 63,7% na comparação com o mesmo período do ano anterior, ajudando a pressionar o resultado líquido anual, que recuou 24,5% para 15,46 bilhões de reais em 2022.
Enquanto a receita no ano passado avançou 6,9% para um recorde de 374,85 bilhões de reais, o custo dos produtos vendidos aumentou 10,8%, para 315,4 bilhões de reais, com o impacto dos insumos para ração para aves e suínos e do gado mais caro nos EUA, unidade com maior faturamento da companhia.
Para 2023, o CEO global da JBS, Gilberto Tomazoni, considera que haverá uma certa estabilidade nos custos com os grãos, com grande safra do Brasil compensando perdas pela seca na Argentina, enquanto acredita que menores preços do boi nas unidades brasileira e australiana poderão ajudar a mitigar uma arroba bovina mais firme nos Estados Unidos, que passa por um período de menor oferta de animais para abate.
"Trabalhamos com uma estabilidade de custos de grãos ou uma pequena redução, se ocorrer, mas o nosso cenário tem uma estabilidade de custos", disse Tomazoni à Reuters, lembrando que a safra dos EUA ganha importância para os cenários da JBS após a quebra severa da colheita argentina pela seca.
Ele salientou que a plataforma diversificada em proteínas e regiões da JBS vai ajudar a companhia a lidar com os custos de bovinos nos EUA, onde as margens estão se "normalizando", ainda que estejam distantes das vistas em 2021, quando estiveram "fora da curva". E citou prognóstico mais favorável para as operações do Brasil e Austrália.
"O que a gente vê é que o Brasil tem um rebanho maior e a Austrália tem um rebanho maior, o Brasil e a Austrália vão entrar em contraciclo dos Estados Unidos. Na Austrália, sabemos que o rebanho está maior, mas não chegou ainda para processamento... mas chega em algum momento... a gente espera que comece a acontecer no segundo quarto deste ano em frente. No Brasil, da mesma forma."
Sobre Brasil, ele disse esperar o retorno das exportações de carne bovina para a China, principal mercado do país, em breve, após um caso atípico de "mal da vaca louca" em fevereiro. E espera que a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao país asiático possa ajudar nesse processo.
"Acredito que sim, o que aconteceu com a BSE (na sigla em inglês) foi uma coisa atípica, o Brasil não é considerado um país de risco... é uma questão burocrática, não é uma questão sanitária."
No quarto trimestre, o Ebitda ajustado, importante indicador das operações, recuou 65,2% ante o mesmo período de 2021, para 4,57 bilhões de reais, enquanto no ano passado este item do resultado atingiu 34,57 bilhões de reais, queda de 24,3% ante 2021, com o presidente da JBS citando ainda um cenário econômico global desafiador, situação que segue pelo menos no primeiro trimestre de 2023, segundo ele.
"Vemos cenário desafiador, inflação em alta em praticamente todo mundo, e inflação em alta acaba enfraquecendo o consumo...", comentou, lembrando que isso provoca um desbalanceamento entre a oferta e a demanda, relação esta que já estava afetada nos anos de pandemia.
MAIS PREPARADA
Segundo o CEO da JBS, a empresa se antecipou a um cenário de crédito mais restrito --em momento em que o setor bancário enfrenta uma crise no mundo-- e de juros em alta.
"Isso que está acontecendo de alguma forma nós tínhamos antecipado este cenário. Fizemos todo o trabalho de casa, estendemos o endividamento para 10 anos, até 2027 não tem nenhum compromisso importante", disse o CEO.
A dívida líquida da empresa subiu para 79,2 bilhões de reais ao final do ano passado, verus 69,3 bilhões ao final de 2021.
Já o CFO da JBS, Guilherme Cavalcanti, citou a boa liquidez da empresa, que era da ordem de 5,7 bilhões de dólares ao final de 2022, divididos entre caixa de 2,5 bilhões e linhas de crédito rotativas de 3,2 bilhões de dólares.
A condição financeira permite que a JBS siga "olhando oportunidades" para aquisições, especialmente na área de salmão, comentou Tomazoni.
"Começamos a construir o negócio de salmão, compramos uma primeira fábrica na Austrália, é pequena, mas queremos fazer nesse negócio de salmão o que fizemos no frango e suínos, queremos que o salmão se torne muito importante dentro do nosso portfólio."
No ano de 2022, a JBS destinou 13,1 bilhões de reais na expansão dos seus ativos e em aquisições.