Dólar tem alta de 1,32% em pregão de aversão a risco com temores por Fed e bancos nos EUA
(Reuters) - Em uma sessão marcada pela aversão global a ativos de maior risco, o dólar à vista fechou a sexta-feira em forte alta ante o real no Brasil, com os investidores buscando a proteção da moeda norte-americana e reduzindo posições na bolsa de valores e em contratos futuros de DI.
O movimento foi disparado por preocupações em torno do risco de crédito no setor bancário dos EUA e por receios quanto ao futuro da política monetária norte-americana, após a divulgação de novos dados de empregos.
No Brasil, a aversão ao risco fez a bolsa de valores ter perdas firmes e as taxas dos contratos futuros de juros avançarem.
No mercado de câmbio, o dólar subiu ante o real, ajudado ainda por fatores técnicos. Como a moeda norte-americana acumulava perdas na semana de 1,16% até quinta-feira, os participantes do mercado aproveitaram esta sexta-feira para corrigir posições e comprar divisas em níveis mais baixos, o que também impulsionou as cotações.
O dólar à vista fechou o dia cotado a 5,2081 reais, em alta de 1,32%.
Na B3, às 17:42 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,84%, a 5,2340 reais.
A moeda norte-americana oscilou em alta ante o real durante toda a sessão. Logo cedo, conforme o diretor da assessoria de câmbio FB Capital, Fernando Bergallo, participantes do mercado aproveitaram os preços mais baixos –após os recuos ao longo da semana– para comprar a moeda norte-americana, o que deu força às cotações.
“Aqui mesmo no escritório houve muito movimento de compra de dólares. As cotações estavam atrativas”, comentou.
No mercado futuro, alguns agentes também aproveitaram para recompor posições compradas (de alta) na moeda norte-americana.
Durante a manhã, os dados de emprego nos EUA trouxeram sinais divergentes. A abertura de vagas fora do setor agrícola somou 311 mil empregos no mês passado, conforme o Departamento do Trabalho. Economistas consultados pela Reuters previam a abertura de 205 mil empregos. No entanto, houve arrefecimento na taxa mensal de aumento dos salários e o desemprego subiu em relação a janeiro.
Além dos receios quanto ao futuro da política monetária nos EUA, pesavam sobre os negócios preocupações com o setor bancário no país, após o SVB Financial Group, uma instituição financeira focada em startups, anunciar na quinta-feira emissão de ações para reforçar seu balanço. A operação desencadeou temores de capitalização e as ações do SVB desabaram. Nesta sexta, reguladores bancários da Califórnia colocaram o banco em recuperação judicial e liquidaram seus ativos.
Com essa combinação de fatores, surgiu um movimento generalizado de fuga de ativos mais arriscados nesta sexta-feira.
“Está havendo um movimento de risk-off (fuga do risco), em que os investidores procuram ativos mais seguros”, comentou o economista da BlueLine Asset Management, Flavio Serrano.
No Brasil, isso se traduziu na queda da bolsa de valores, na alta dos juros futuros e no avanço do dólar ante o real.
“O Brasil está sendo contagiado pelo risk-off. A preocupação com o setor bancário norte-americano respingou aqui”, afirmou Cleber Alessie Machado, operador da H. Commcor DTVM.
Segundo ele, isso ocorreu ainda que o mercado mantenha o otimismo em relação ao novo arcabouço fiscal, a ser apresentado este mês pelo Ministério da Fazenda.
A moeda norte-americana subiu ante a brasileira e a de países como Chile, Turquia e Austrália. No entanto, o índice do dólar se mantinha no território negativo nesta tarde.
Às 17:42 (de Brasília), o índice do dólar --que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas-- caía 0,64%, a 104,580.
Pela manhã, o Banco Central vendeu a oferta integral de 16 mil contratos de swap cambial para rolagem dos vencimentos de abril.
(Por Fabrício de Castro)