Dólar fecha sessão volátil em leve queda com Fed e tensões domésticas no radar

Publicado em 08/02/2023 17:27

Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar teve leve queda frente ao real nesta quarta-feira, após uma sessão volátil marcada por comentários de várias autoridades do Federal Reserve, enquanto investidores locais continuaram atentos às tensões entre o governo brasileiro e o Banco Central.

A moeda norte-americana à vista fechou com variação negativa de 0,09%, a 5,1967 reais na venda, depois de ter avançado mais de 3% no acumulado das três sessões anteriores. O pregão foi marcado por instabilidade, e o dólar foi de 5,2460 reais no maior patamar do dia (+0,86%) para 5,1661 no menor (-0,68%).

Stefany Oliveira, analista da Toro Investimentos, atribuiu essa volatilidade, em parte, a comentários recentes do chair do Fed, Jerome Powell, que na véspera não endureceu significativamente seu tom sobre a inflação, mas disse que o processo para fazer com que o ritmo de alta dos preços volte para perto da meta de 2% do banco central norte-americano levará "bastante tempo".

Depois de Powell, vários de seus colegas do Fed falaram publicamente nesta quarta-feira, o que fez o dólar mudar de sinal várias vezes no mercado internacional de acordo com o tom adotado por cada um.

O presidente do Federal Reserve de Nova York, John Williams, disse que o banco central dos Estados Unidos ainda tem mais altas de juros pela frente e precisará manter a política monetária restritiva por algum tempo.

Já a autoridade Lisa Cook disse que o banco central está determinado a retornar a inflação à meta de 2% com novos aumentos nos juros, embora tenha ponderado que isso pode ser feito sem um grande avanço no desemprego e tenha destacado a força da economia.

Já o diretor do Fed Christopher Waller disse que a inflação parece prestes a continuar desacelerando este ano, mas a batalha do banco central dos Estados Unidos para atingir sua meta de 2% "pode ser uma longa luta".

No exterior, o índice que compara o dólar a uma cesta de seis pares fortes devolveu tanto perdas quanto ganhos de mais cedo e rondava a estabilidade no final desta tarde, enquanto divisas arriscadas pares do real --como dólar australiano, rand sul-africano e peso mexicano-- operavam em baixa.

Enquanto isso, diante de um pano de fundo de embates entre o governo brasileiro e o Banco Central, os mercados domésticos continuaram um cautelosos nesta sessão, depois que Lula defendeu que o Senado se mantenha "vigilante" com Roberto Campos Neto, o presidente da autoridade monetária, o que colaborou para o vaivém do dólar.

"Lula parece estar em pé de guerra em sua busca por taxas de juros mais baixas e agora tem a independência do Banco Central em sua mira", disse em nota William Jackson, economista-chefe de mercados emergentes da Capital Economics.

"Se Lula conseguisse o que queria, a experiência do Brasil no início dos anos 2010 e de outros lugares do mundo emergente sugere que isso faria com que a inflação subisse e, em última análise, exigiria um longo período de altas taxas de juros reais mais adiante."

Em geral, uma taxa Selic alta costuma beneficiar o real ao torná-lo mais atraente para uso em estratégias de investimento que buscam lucrar com diferenciais de juros entre economias. No entanto, quanto mais tempo os juros ficam elevados, mais eles tendem a prejudicar a atividade econômica do país, fator que também é levado em consideração por investidores estrangeiros na hora de montar suas carteiras.

Para Oliveira, da Toro, ainda há esperanças de ancoragem dos ativos brasileiros mesmo em meio à recente tensão entre governo e BC.

"Às vezes o investidor estrangeiro continua colocando dinheiro no Brasil porque vê esses movimentos (políticos) mais como ruídos e não como fatos. Enquanto isso seguir, vamos continuar vendo o estrangeiro segurando a performance tanto do real quanto do Ibovespa. Vamos depender muito disso para o dólar continuar brigando abaixo da casa de 5,30", disse ela à Reuters.

Mas, "se em algum momento o 'gringo' começar a ver isso (críticas de Lula à independência do BC) como algo concreto, será muito mais prejudicial para nosso câmbio", completou Oliveira.

Fonte: Reuters

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Arthur Lira acena para avanço de projetos sobre “Reciprocidade Ambiental”
CMN amplia prazo para vencimento de crédito rural em cidades do RS atingidas por chuvas
Ibovespa fecha em alta à espera de pacote fiscal; Brava Energia dispara
Macron e Biden dizem que acordo de cessar-fogo no Líbano permitirá retorno da calma
Fed cita volatilidade e dúvidas sobre taxa neutra como motivos para ir devagar com cortes, diz ata
Gabinete de segurança de Israel aprova acordo de cessar-fogo com o Líbano
undefined