Alertas do BC reforçam apostas do mercado em juro alto por mais tempo

Publicado em 02/02/2023 14:22

Por Marcela Ayres e Luana Maria Benedito

BRASÍLIA/SÃO PAULO (Reuters) - Alertas do Banco Central sobre os riscos da incerteza fiscal e seu impacto na deterioração nas expectativas de inflação reforçaram entre agentes do mercado a aposta num cenário de juros mais altos por mais tempo, com várias instituições financeiras revisando para cima seus prognósticos para a taxa Selic ao final de 2023.

Há inclusive quem já preveja novas elevações da Selic este ano, embora essa parcela do mercado seja uma minoria.

Depois de manter os custos dos empréstimos inalterados pela quarta reunião seguida, o BC sinalizou na quarta-feira que está considerando deixar a Selic no nível atual de 13,75% --o mais elevado em seis anos-- por mais tempo do que os mercados esperam, enfatizando que as expectativas de inflação estão se afastando das metas em meio às incertezas ligadas à expansão fiscal patrocinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Ainda há um longo caminho pela frente, mas podemos esquecer qualquer ação de flexibilização na frente monetária em 2023", disse o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central.

William Jackson, economista-chefe de mercados emergentes da Capital Economics, disse que o comunicado do Copom deixou claro que o BC está cada vez mais preocupado com o fato de a inflação não cair em direção à meta com rapidez suficiente, sugerindo que os juros podem ser mantidos no nível atual até 2024.

"Recentemente adiamos (a projeção para) o momento do primeiro corte de juros em nosso perfil para o quarto trimestre, que é mais tarde do que a maioria espera. Mas o risco é que as autoridades possam nem mesmo cortar este ano", acrescentou.

Probabilidades implícitas em contratos futuros de juros mostravam nesta quinta-feira cerca de 28% de chance de o BC elevar sua taxa básica em 0,25 ponto percentual na reunião de política monetária de março, contra 72% de chance de manutenção no nível atual.

As taxas dos principais DIs chegaram a operar em alta acentuada na curva até janeiro de 2026 na primeira parte dos negócios desta quinta-feira, refletindo o tom duro do Copom, embora tenham perdido fôlego desde então. No final da manhã, as taxas dentro desse intervalo mostravam alta de 0,5 a 7 pontos-base.

Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV, acredita que a possibilidade de uma nova alta da Selic é "baixa" por enquanto. "Obviamente que esse plano de voo pode mudar se a situação fiscal piorar, se tiver algum choque que faça com que as expectativas de inflação se deteriorem ainda mais, mas, neste momento, a sinalização é de manutenção dos juros por um prazo mais longo", disse ele à Reuters.

O UBS BB alterou nesta quinta-feira sua perspectiva para a Selic, que sob o novo cenário deve fechar o ano em 12,25%, ante 11,25% estimados antes. O Citi também revisou seus prognósticos e passou a projetar o juro básico brasileiro em 12,25% ao fim de 2023, contra 10,5% antes.

Enquanto isso, XP e Credit Suisse apontaram que a dura mensagem do Copom reforçou sua visão sobre a manutenção dos juros em 13,75% até o início do ano que vem.

Com o mercado dando como certo um cenário de Selic alta por mais tempo, o dólar despencava nesta quinta-feira, operando abaixo dos 5 reais pela primeira vez desde meados de junho passado, num movimento também influenciado pela desaceleração do ritmo de aperto monetário do Federal Reserve, que na véspera subiu sua taxa de juros em apenas 0,25 ponto percentual.

Quanto maior o diferencial entre os custos dos empréstimos domésticos e internacionais, mais atraente fica o real para uso em estratégias de "carry trade", que consistem na contratação de empréstimo em país de juro baixo e aplicação desses recursos em praça mais rentável.

Já no mercado de ações, o Ibovespa tinha leve queda, em dia de declínio dos papéis da Vale e da Petrobras diante da fraqueza de commodities no exterior. Num geral, as ações brasileiras não costumam ser beneficiadas por cenário de juros muito altos, como acontece com o real, já que condições monetárias apertadas tendem a frear o consumo.

Fonte: Reuters

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