Stellantis quer estar pronta até fim do ano para produzir híbridos a etanol no Brasil
SÃO PAULO (Reuters) - A Stellantis, dona de marcas como Fiat, Jeep e Citroen, espera conseguir desenvolver no Brasil até o fim do ano as primeiras tecnologias necessárias para a produção no país de veículos híbridos a etanol, afirmou o presidente da companhia para a América do Sul, Antonio Filosa, nesta terça-feira.
"Começamos o (projeto) Bio-Electro no ano passado e agora, em várias etapas, vamos trabalhar internamente para termos as primeiras tecnologias desenvolvidas dentro de casa no final deste ano e lançarmos elas ao mercado quando for oportuno", disse Filosa, em entrevista a jornalistas.
A Stellantis, que tem três fábricas de veículos no Brasil, planeja lançar na América do Sul 43 veículos entre 2021 e 2025, parte de um plano de investimento de mais de 16 bilhões de reais, disse o executivo. Além do Brasil, na região, o grupo tem duas fábricas na Argentina e uma parceria industrial no Uruguai.
Filosa não deu detalhes sobre quando o primeiro modelo híbrido elétrico do grupo produzido no país será lançado ou o investimento na tecnologia, citando restrições do período de silêncio, antes da divulgação de resultados da companhia.
"Minas Gerais vai ser o epicentro disso (híbrido elétrico) porque as competências que queremos realizar estão nos 1.500 engenheiros que temos aqui", afirmou o executivo.
No mapa da companhia para a região no tema descarbonização estão virão depois veículos totalmente elétricos e movidos a célula de combustível a etanol.
Segundo Filosa, a Stellantis não pretende trazer kits de peças de outras partes do mundo para montagem dos veículos híbridos a etanol, preferindo optar pelo desenvolvimento local de fornecedores.
Questionado se a empresa terá que construir uma nova fábrica para produzir veículos híbridos e elétricos no Brasil, ele afirmou que "já temos um monte de fábrica. Seguramente não faremos uma nova. Vamos ter que atualizar linha de produção".
Atualmente, a produção de veículos híbridos e elétricos no Brasil está sendo feita por grupos asiáticos como Toyota e Caoa Chery, com a gigante chinesa BYD avaliando iniciar produção no Nordeste do país.
A Stellantis foi criada há dois anos pela junção dos grupos FCA e PSA e lançou seu primeiro carro elétrico no Brasil, o compacto Fiat 500e, importado, em 2021. Atualmente, a companhia vende na América do Sul nove modelos híbridos e elétricos das principais marcas do grupo, incluindo um utilitário esportivo e vans comerciais.
Eles fazem parte de um conjunto de 24 veículos lançados pelo grupo nos últimos dois anos na região, onde atingiu participação de mercado de 23,2%, ante 22,9% em 2021. No Brasil, a fatia do grupo no período passou de 32% para 32,9%, à frente de grupos globais como General Motors e Volkswagen.
Filosa não deu detalhes sobre as sinergias obtidas na região pela fusão que originou a Stellantis, mas na América do Sul a companhia compartilhou processos e tecnologias entre as marcas Fiat, Peugeot e Citroen. "Houve sinergias técnicas...uma das formas que ajudou o Peugeot 208 a crescer em vendas foi a implementação de motor feito em Betim (MG)", disse o executivo referindo-se ao complexo fabril ocupado pela Fiat.
"Estamos pensando em um compartilhamento mais profundo em motores, transmissões e plataformas", afirmou sem dar detalhes.
ECONOMIA
Filosa afirmou que o objetivo do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de incentivar o crescimento do setor industrial focado em tecnologias sustentáveis "é muito interessante e apoiamos ela basicamente na sua totalidade".
Mas ele defendeu que a carga tributária e a infraestrutura logística do país sejam capazes de estimular a expansão das novas tecnologias de eletrificação.
"Para uma maior intensidade de eletrificação assim como células de combustível usando etanol, a carga tributária deve ser pensada, como parece ser o interesse do governo, para favorecer a industrialização", disse o executivo.
"Se a carga tributária for aliada da competitividade isso será natural, se não for alinhada com essa ideia é mais provável que vai prevalecer a importação", acrescentou, afirmando que a discussão com o governo se dá por meio da entidade representativa do setor, Anfavea.
Segundo ele, as economias mais voltadas à produção de commodities, como o Brasil, têm um viés de crescimento até pelo menos 2025 e "isso pode se refletir no crescimento da indústria automotiva dessas economias".
Sobre a escassez na oferta de componentes eletrônicos para montagem dos veículos, que tem afetado a indústria global desde a pandemia, Filosa afirmou que o problema ainda não é página virada mas que "houve uma grande melhoria". A expectativa do presidente da Stellantis América do Sul é que a partir do segundo semestre "a solução (para os problemas na oferta de chips) esteja mais enraizada".
(Por Alberto Alerigi Jr.)