Dólar tem vaivém após dados econômicos locais com Brasília e inflação dos EUA no radar
Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) -O dólar alternava altas e baixas frente ao real em meio a negociações instáveis nesta quarta-feira, com investidores digerindo dados domésticos piores do que o esperado e monitorando o clima político em Brasília na esteira de ataques aos Três Poderes no fim de semana.
No exterior, o foco estava em leitura de inflação norte-americana que será divulgada na quinta.
Às 10:28 (de Brasília), o dólar à vista recuava 0,08%, a 5,1975 reais na venda. A moeda mostrou alguma instabilidade nos primeiros negócios, oscilando entre 5,1877 reais e 5,2350 reais.
Na B3, às 10:28 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,09%, a 5,2185 reais.
"Temos um cenário um pouquinho mais estressado aqui no Brasil, não muita coisa, mas repercutindo ainda os noticiários domésticos que a gente teve da invasão dos Três Poderes, dados de inflação que vieram não tão não tão bons e, hoje, as vendas de varejo, que vieram piores do que o esperado", disse Marco Noernberg, líder de renda variável da Manchester Investimentos.
Dados da véspera divulgados pelo IBGE mostraram que a inflação ao consumidor do Brasil fechou 2022 com alta acumulada de 5,79% e superou o teto da meta pelo segundo ano seguido, com um resultado acima do esperado.
Embora não tenha tido muito efeito sobre a oscilação do câmbio na véspera, quando o foco estava sobre as reações institucionais aos ataques bolsonaristas em Brasília de domingo, a leitura do IPCA de 2022 mais alta do que o esperado levanta temores sobre como ficará o quadro inflacionário do Brasil neste ano, em meio à perspectiva de flexibilização fiscal sob o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Já nesta quarta-feira, o IBGE informou que as vendas varejistas interromperam três mês de ganhos e registraram queda em novembro diante da pressão da inflação sobre os preços dos combustíveis e sem impulso da Black Friday.
Apesar do vaivém desta sessão, vários investidores têm notado um desempenho melhor do que o esperado do real neste início de ano, mesmo depois das invasões de domingo. Até agora em janeiro, o dólar acumula queda de 1,5% frente à divisa brasileira.
Italo Abucater, chefe de câmbio na Tullett Prebon Brasil, disse que o fluxo estrangeiro vem ajudando a moeda local nos últimos dois dias e que a tendência é esse movimento continuar.
"Expectativa de bastante investimento estrangeiro no radar. Emergentes em geral captam recursos no primeiro trimestre. O mundo vivendo um cenário inflacionário... nesse nível de juros local, se torna natural essa procura", disse ele.
A taxa Selic está atualmente em 13,75%, patamar elevado que torna o real atraente para estratégias de "carry trade", que consistem na tomada de empréstimo em país de juro baixo e aplicação desses recursos em mercado mais rentável.
"Para o nosso momento político atual será fundamental pra trazer uma certa segurança e tranquilidade para o investidor local", completou Abucater.
Na esteira dos ataques bolsonaristas em Brasília, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes decretou a prisão preventiva do ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres, por "omissão e conivência", evidenciando a resposta firme das autoridades às ameaças à democracia.
Enquanto isso, no exterior, o índice do dólar contra uma cesta de moedas operava próximo da estabilidade, com investidores à espera da divulgação, na quinta-feira, de dados de inflação norte-americanos. A expectativa no mercado é de que os números mostrarão desaceleração no aumento dos preços, o que alimentaria apostas num abrandamento do ciclo de aperto monetário do Federal Reserve.
No entanto, uma leitura acima do esperado teria o efeito oposto e provavelmente impulsionaria a divisa dos Estados Unidos contra a maioria de seus pares, uma vez que custos de empréstimo mais altos por lá costumam atrair recursos para a maior economia do mundo.
Na última sessão, a moeda norte-americana à vista fechou em queda de 1,09%, a 5,2019 reais, menor patamar para encerramento desde 23 de dezembro passado (5,1655 reais).
(Edição de André Romani)