Ibovespa fecha em alta com trégua em ruídos do novo governo e dados dos EUA

Publicado em 06/01/2023 18:08 e atualizado em 06/01/2023 18:41

Por Paula Arend Laier

SÃO PAULO (Reuters) - A bolsa paulista fechou com o Ibovespa em alta pelo terceiro pregão seguido nesta sexta-feira, com a trégua nos ruídos políticos abrindo espaço para o mercado brasileiro acompanhar o desempenho positivo de Wall Street após dados de emprego.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa subiu 1,23%, a 108.963,70 pontos. O volume financeiro somou 23 bilhões de reais.

Na semana, porém, o Ibovespa contabilizou um recuo de 0,7%, pressionado pelas queda das duas primeiras sessões do ano, quando prevaleceram receios com a estratégia a ser adotada pelo novo governo, em meio a decisões e declarações contraditórias.

Em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva realizou sua primeira reunião ministerial, afirmando na abertura do encontro que o compromisso de seu governo é unificar o país, e não acabar com as divergências.

O encontro ocorre após episódios como a sinalização de acabar com a desoneração dos combustíveis, e o recuo posterior, que atingiu diretamente o ministro da Fazenda. Também pegou mal fala do ministro da Previdência, que foi contestada depois.

Na visão de Fernando Donnay, sócio e gestor de carteiras da G5 Partners, os investidores ainda estão muito sensíveis sobre qual será o rumo do governo.

"O novo arcabouço fiscal é uma das peças importantes para diminuir algumas incertezas. Enquanto houver sinais antagônicos nesse tema, o mercado vai incorporar isso no preço e a volatilidade continuará alta", afirmou.

Ele avalia que precificação dos ativos brasileiros está muito atrativa, no entanto, elas estão assim por algum motivo e está relacionado à incerteza política e, nesse campo, o fiscal é o que mais preocupa.

A Ibiuna Investimentos, que tem entre seus sócios ex-diretores do Banco Central, decidiu manter a cautela e baixo envolvimento com ativos brasileiros no momento, diante da diretriz de "velhas ideias" sinalizada pelo novo governo.

Como uma "pequena amostra", a gestora elencou forte expansão de gastos correntes, alta da carga tributária, busca de crescimento via intervenção estatal, reversão de privatizações, a volta do crédito subsidiado, entre outros.

"Difícil ver como essa agenda elevará a produtividade da economia e resultará em maior crescimento sustentado", afirmou em carta mensal a clientes.

Nesta sexta-feira, números do mercado de trabalho dos EUA também ocuparam a atenção, mostrando arrefecimento dos salários e moderação no crescimento do emprego em dezembro, acalmando apreensões sobre os próximos passos Federal Reserve.

Segundo William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue Securities, os salários são a maior preocupação do Fed, pois a continuidade do aumento de renda dos trabalhadores reforça seu poder de compra, o que tende a retroalimentar a inflação.

"Pouco adianta a mudança na taxa de desemprego se os trabalhadores continuarem percebendo aumentos de salários. Por esse motivo, o dado foi visto como positivo pelo mercado, pelo aumento de salários menor do que o esperado."

Em Wall Street, o S&P 500 avançou 2,28%.

Para Donnay, o tema inflação global continua sendo o principal direcionador do ano, pois ele definirá o quanto os bancos centrais terão que subir os juros e isso poderá ocasionar ou não em uma recessão.

 

DESTAQUES

- VALE ON avançou 1,58%, a 92,34 reais, endossada pela alta dos preços dos contratos futuros do minério de ferro na Ásia, em dia de ganhos também de siderúrgicas em meio a notícias sobre aumento de preços no setor. CSN ON registrou acréscimo de 4,09%.

- PETROBRAS PN caiu 0,59%, a 23,74 reais, após duas altas seguidas. Analistas do Morgan Stanley elevaram o preço-alvo dos ADRs da companhia, mas reiteraram a recomendação 'equal weight', avaliando que o cenário para os dividendos da companhia não justificariam a exposição à ação.

- AMERICANAS ON valorizou-se 7,43%, a 10,41 reais, buscando apoio em novo alívio na curva futura de juros, que beneficiava também outros papéis sensíveis a essa variável, notadamente de consumo, com NATURA&CO ganhando 4,7%, mas também do setor imobiliário. CYRELA ON subiu 4,66%.

- LOJAS RENNER ON encerrou em alta de 3,69%, a 19,39 reais, tendo ainda como pano de fundo relatório do Citi cortando projeções e o preço-alvo da varejista de vestuário, mas mantendo recomendação de "compra", avaliando que ela tem as "ferramentas certas para enfrentar esses tempos mais desafiadores em 2023".

- HAPVIDA ON recuou 1,05%, a 4,72 reais, após o JPMorgan cortar a recomendação dos papéis para "neutra", citando ventos contrários mais fortes ao crescimento e à lucratividade. O preço-alvo passou de 9,50 a 5,50 reais. No mesmo relatório, o banco elevou para 'neutra' ODONTOPREV ON, que avançou 6,9%.

- KLABIN UNIT recuou 1,26%, a 20,31 reais, em sessão negativa para o setor de celulose, com SUZANO ON cedendo 0,64%, a 49,94 reais, tendo de pano de fundo a queda do dólar em relação ao real.

- COPEL PNB caiu 1,44%, a 7,54 reais, com outras elétricas também na coluna negativa do Ibovespa. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) passou a prever queda da carga de energia elétrica no Brasil em janeiro.

- ZAMP ON disparou 12,42%, a 5,25 reais, melhor desempenho do índice Small Caps, endossada por relatório do JPMorgan, adotando recomendação 'overweight' para as ações e estabelecendo preço-alvo de 10 reais para dezembro de 2023, ressaltando que vê um ponto de entrada atrativo, com relação risco/retorno favorável.

Fonte: Reuters

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Para manter jovens no campo, CRA aprova programa e crédito para agricultores
Comissão de Educação do Senado debaterá 'viés político e ideológico' contra agronegócio em livros didáticos
Senadores reagem a deputado francês que comparou carne do Brasil a lixo
Rússia diz que corte de apoio militar à Ucrânia por Trump seria “sentença de morte” para militares ucranianos
Petróleo fica estável após aumento surpreendente nos estoques de gasolina dos EUA
Taxas dos DIs disparam após governo confirmar corte de IR, mercado vê aceleração da Selic
undefined