Indicação de Tarciana Medeiros para BB e Rita Serrano para Caixa Econômica colhe reações distintas no setor
A nomeação de Tarciana Medeiros para presidir o Banco do Brasil e Rita Serrano para chefiar a Caixa Econômica Federal provocou reações distintas entre executivos do setor, com elogios para a escolha de profissionais de carreira, mas ressalvas à inexperiência diretiva de ambas.
O anúncio feito nesta sexta-feira selou a promessa do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva de por mulheres para liderar os bancos de varejo controlados pelo governo federal.
"Ambas estão alinhadas com os planos do governo (...), sabem dos desafios que estão colocados em relação ao sistema de crédito no Brasil", disse o futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao anunciar as indicações, citando de imediato um projeto de renegociação de dívidas para famílias de baixa renda.
As nomeações eram aguardadas com ansiedade por investidores e gestores de fundo do mercado financeiro, diante do temor de retomada pelo governo federal da política de uso dos bancos estatais como locomotiva da economia por meio da concessão de crédito subsidiado, como aconteceu entre 2008 e 2016, nos governos anteriores do PT.
Após a saída da sigla no poder, as gestões de BB e Caixa têm se concentrado em cortar custos e vender ativos não essenciais para recuperar níveis de rentabilidade. O BB se desfez de ações da Neoenergia e da resseguradora IRB Brasil Re. Já a Caixa vendeu fatias que detinha em Banco Pan, BB e IRB, entre outras.
No BB, Tarciana Medeiros vai suceder Fausto Vieira, também funcionário de carreira que chefia o banco desde março do ano passado e entregará o comando num ciclo de crescimento de lucratividade, mesmo num período de expansão moderada do crédito e aumento da inadimplência, diante de um cenário de juros altos.
Na companhia desde o ano 2000, Medeiros, 44 anos, passou por áreas de varejo, agronegócio e seguros e desde 2021 é gerente de relacionamento com clientes, responsável por canais digitais, áreas que têm sido o foco do banco.
Já Rita Serrano é funcionária da Caixa desde 1989, mas nunca teve função diretiva. Sua trajetória é ligada à causa sindical e tornou-se membro do conselho de administração do banco como representante dos empregados da instituição. É graduada em história e estudos sociais, e tem mestrado em Administração e especialização em governança para conselheiros de administração.
Ela sucederá Daniella Marques, que assumiu a presidência da Caixa em julho, sucedendo Pedro Guimarães, que renunciou em meio a denúncias de assédio sexual contra funcionárias do banco.
Serrano assumirá a Caixa no momento em que o banco ainda está devolvendo parte dos recursos que recebeu na última década do Tesouro Nacional para ampliar sua capacidade de crédito. O banco tem um cronograma para devolver cerca de 20 bilhões de reais ao Tesouro até 2026.
Ao aceitar a nomeação, a indicada afirmou em comunicado que uma de suas prioridades será renegociar prazos para a devolução dos IHCD para o Tesouro.
Por outro lado, avisou que também vai rever as operações de crédito consignado do Auxílio Brasil, impulsionadas pelo governo Jair Bolsonaro durante a campanha eleitoral, "tanto em função de suas consequências perversas para a população mais vulnerável, como devido aos efeitos sobre o volume de provisionamentos e a liquidez da instituição".
REAÇÕES
No mercado, as indicações colheram reações distintas.
Em nota, o Citi afirmou ver a indicação de uma funcionária de carreira como nova presidente do BB como positiva porque reduz as chances de grandes mudanças na estratégia.
"Além disso, pode reduzir as preocupações de maior agressividade dos bancos públicos. Junto com o anúncio de uma funcionária também de carreira da Caixa e poder de fogo limitado do BNDES, esperamos que isso seja positivo para o setor", diz a nota subscrita por Renan Frade e Renan Flores.
Já José Berenguer, CEO do banco de atacado da XP, também elogiou a escolha de nomes de carreira. "A Caixa e o BB sempre formaram bancários completos e muito competentes. O fato de ambas serem funcionárias de carreira é uma ótima notícia. Desejamos muito sucesso", disse Berenguer.
Por outro lado, executivos do setor bancário ouvidos pela Reuters manifestaram preocupação com a falta de experiência diretiva de ambas as indicadas.
"É a escolha em que menos eu apostava, dada a baixíssima experiência dela como administradora", disse um ex-vice-presidente do BB referindo-se a Medeiros, sob condição de anonimato. "Bem menos do que o Fausto, quando foi escolhido".
"Deve ser a sindicalista mor", disse um alto representante do setor imobiliário, no qual a Caixa é líder em empréstimos no Brasil, referindo-se ao histórico sindicalista e de baixa experiência diretiva de Serrano na Caixa.
(Reportagem adicional de Paula Arend Laier e Lisandra Paraguassu)