Dólar recupera fôlego ante real com exterior arisco e expectativa por PEC da Transição
O dólar devolveu perdas de mais cedo e passou a alternar estabilidade e leve alta frente ao real nesta segunda-feira, refletindo aversão a risco no exterior e a expectativa de investidores pela definição do texto da PEC de Transição, que o governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva busca para permitir gastos extra-teto em 2023.
Às 12:11 (de Brasília), o dólar à vista avançava 0,01%, a 5,3306 reais na venda, em meio a negociações instáveis.
Na B3, às 12:11 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,45%, a 5,3490 reais.
Mais cedo, a moeda norte-americana chegou a cair 1,33%, a 5,2592 reais, movimento que investidores atribuíram a uma correção pontual depois que o dólar disparou 5,49% no acumulado da semana passada.
Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora, lembrou que esta sessão é de pouca liquidez por ser véspera de feriado no Brasil, o que "pode aumentar a volatilidade do real em relação a outras moedas".
Ele também alertou para o clima avesso a risco no exterior como possível obstáculo para o real, conforme investidores mostravam preocupações com o aumento de casos de Covid-19 na China e moderavam o otimismo em relação a uma possível desaceleração do ritmo de altas de juros do Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos.
O índice que compara o dólar a uma cesta de seis moedas fortes subia 0,3% nesta manhã, enquanto as ações listadas nas principais bolsas globais caíam acentuadamente.
Já na cena política doméstica, "o mercado ainda está muito em compasso de espera", acrescentou Velloni, citando dúvidas sobre como será a situação fiscal do Brasil sob Lula e expectativas por pistas sobre qual será o ministro da Fazenda do governo eleito.
Ainda não estão definidos o prazo de vigência das regras da PEC de Transição e os valores a serem retirados do teto de gastos, mas a expectativa é de que o texto seja finalizado na quarta-feira, após o feriado da Proclamação da República.
Os mercados têm mostrado grande preocupação tanto com os planos de gastos extra-teto de Lula quanto pela incerteza sobre quem chefiará a pasta econômica do petista, e na sexta-feira passada o dólar marcou seu maior ganho semanal desde maio de 2020.
No entanto, alguns observadores do mercado financeiro acreditam que o tombo recente dos ativos brasileiros pode ter sido exagerado, já que o maior risco para o Brasil seria uma transição de poder conturbada ou golpes sólidos contra a democracia --cenário que não se consolidou, apesar de protestos de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL).
"O Brasil teve eleições há duas semanas e a transferência de poder é pacífica. O mais raro dos presentes, um grande mercado emergente com uma democracia funcional. O que os mercados fazem? Punem o Brasil, vendendo o real e precificando mais altas de juros", escreveu no fim de semana o economista-chefe do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês), Robin Brooks.
"Fomos inundados com pedidos para enfraquecermos nosso valor justo de longa data de 4,50 por dólar", disse Brooks ao falar sobre o patamar de câmbio considerado condizente com os fundamentos do país.
"Não faremos nada disso. O resultado nesta eleição não é importante. Em vez disso, tratava-se de saber se o Brasil poderia evitar um momento ao estilo 6 de janeiro nos EUA", afirmou o economista, referindo-se à invasão do Capitólio norte-americano em 2021. "(O Brasil) conseguiu. O real vai se recuperar para 4,50 por dólar."